A
escritora Clarice Lispector, finalmente, encontrará o povo originário da terra
onde nasceu, a Ucrânia, e vice-versa, ainda que simbolicamente, depois de mais
de 103 anos de seu nascimento, em 10 de dezembro de 1920, e de 46 de sua morte,
em 9 de dezembro de 1977.
Por
meio da arte, ela será acolhida no Memorial Ucraniano, em Curitiba, que sediará
a exposição “Clarices”, da artista visual gaúcha Graça Craidy. A abertura será
na sexta-feira (5) e a mostra, de longa duração, ficará aberta à visitação até
o final do ano, reunindo 20 pinturas em que a autora é retratada nas diversas
facetas de sua vida.
Clarice
nasceu em Tchechelnik, na Ucrânia, então pertencente à Rússia, quando sua mãe,
Mania, o pai, Pinkhas, e suas irmãs, Elisa e Tania, fugiram da perseguição e
ataques aos judeus. A família, com a bebê nos braços da mãe, alcançou a Romênia
e a Alemanha, onde embarcou em navio para o Brasil.
Clarice
nunca mais voltou à terra que a viu nascer e na qual nunca pisou, embora tenha
vivido na Europa depois de casada. Ela naturalizou-se brasileira em 1943, no
Rio de Janeiro.
O
Paraná é o estado brasileiro que mais abriga ucranianos - entre 500 mil e 600
mil imigrantes e descendentes -, dos quais cerca de 70 mil radicados em
Curitiba. O Memorial Ucraniano, dentro do Parque Tingüi, foi inaugurado em 1995
em homenagem ao centenário da chegada dos primeiros imigrantes ucranianos ao
território paranaense. O memorial é aberto ao público em geral, com acesso
gratuito.
Em
25 de agosto (domingo), o local promoverá festividades alusivas à data da
independência da Ucrânia, assinalada no dia anterior, 24, como a leitura de
textos de Clarices, considerada a maior escritora modernista brasileira, no
espaço da exposição.
CONTEXTO ESPECIAL - A montagem de “Clarices” no
Memorial Ucraniano torna-se especial, na avaliação da artista visual Graça
Craidy. “É como se ela estivesse voltando
para o lugar onde nasceu, pois o memorial é uma espécie de ‘embaixada’ cultural
da Ucrânia. Essa situação dá sentido à famosa frase que diz que ‘a arte existe porque
a vida não basta’, do poeta Ferreira Gullar’”, ressalta a artista visual.
Ela deseja que a figura e a obra de Clarice sejam conhecidas pelos jovens. Na
mostra alguns livros da escritora estão à disposição dos visitantes.
Graça
apresenta Clarice em diferentes papéis: a escritora trabalhando em casa com a
máquina de escrever no colo e o cigarro nos lábios; como esposa de diplomata
que vivia no exterior dividida entre a vida conjugal e o desejo de autonomia; a
mãe de dois filhos; a tutora do cão Ulisses, por exemplo.
A
mostra já foi vista em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Niterói,
Brasília e Florianópolis. “Embora Clarice
Lispector tenha partido há 47 anos, sua prosa se faz muito necessária neste
momento histórico de vazio existencial e valorização equivocada do aparente e
do fútil”, avalia a artista.
O Memorial Ucraniano
está situado na Rua Dr. Mbá de Ferrante s/nº, Pilarzinho e a mostra estará
aberta à visitação de terça a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 18h.