Manter
a casa limpa e organizada não é tarefa fácil. Cuidar da louça, tirar o pó dos
porta-retratos, ou até mesmo fazer pequenos reparos em uma peça de roupa, por
exemplo, são alguns dos cuidados que envolvem o dia a dia de um lar. Imagine,
então, um local com 35 mil metros quadrados de área construída e que recebe
dezenas de milhares de visitantes todos os meses.
O
trabalho do setor de Conservação e Restauro do Museu Oscar Niemeyer (MON) é
imenso, ao cuidar de um acervo de aproximadamente 14 mil obras de arte, além
das centenas que integram simultaneamente as exposições temporárias. Com um
trabalho minucioso, criterioso e muitas vezes invisível ao público,
funcionários do maior museu de arte da América Latina verificam cada obra de
arte exposta, cada detalhe que possa estar diferente de como a obra chegou até
o MON, todos as semanas.
“Trabalhamos tanto com a conservação
preventiva quanto com o acervo, a partir da catalogação. Todas as peças que
entram para o museu, toda a documentação, o termo de entrada, os contratos, e o
uso de imagem, passam por essa catalogação”, explica Humberto Imbrunísio,
coordenador do setor de Conservação e Restauro.
A
equipe responsável por esse trabalho utiliza todo o equipamento necessário,
como máscara, luvas e jaleco apropriado para a atividade. A ronda, como é
chamado o trabalho de verificação de cada obra de arte, acontece todas as
segundas-feiras. É o dia em que o museu está fechado para visitação do público,
o que facilita o trabalho de conservação e não atrapalha a experiência dos
visitantes. Caso a obra não possua nenhum problema, a equipe faz apenas a
limpeza superficial da peça.
Segundo
Humberto, ter peças danificadas é algo que não acontece com tanta frequência,
mas, ainda assim, o cuidado é essencial para prevenir algum tipo de ação que
possa se intensificar com o passar do tempo. “Quando a exposição entra no museu, é feito um laudo técnico, uma
análise da peça. A partir do momento que a gente vê que essa peça foi
danificada ou está sofrendo algum problema, nós comparamos com o laudo técnico.
Caso seja comprovado esse problema, fotografamos a peça e levamos para o setor
de restauro”, diz.
A
partir disso, existem dois processos, a depender do tipo da obra e sua origem:
a abertura do sinistro para o seguro, para que ela possa ser restaurada; ou
então o trabalho de conservação preventiva dentro do próprio laboratório. A
escolha entre uma opção e outra depende se a obra é do acervo próprio ou se é
“emprestada”, no caso de exposições temporárias.
DESAFIOS – Dos quase 22 anos de existência do
MON, Humberto é funcionário há 20. Ele viu o acervo quintuplicar nos últimos
anos e também acompanhou grandes exposições, como dos Gêmeos, Ai Weiwei, Tony
Cragg e Jaume Plensa. “Com esse aumento
significativo das obras, aumentou também a nossa demanda de trabalho. Seguimos
uma metodologia, e a partir dela conseguimos nos adequar à quantidade de
trabalho. A partir de um sistema, temos a quantidade de obras e o que
precisamos fazer”, explica o coordenador.
É
justamente o grande volume de obras de arte o ponto mais desafiador dessa
engrenagem para mostrar ao público a grande riqueza cultural que está sob a
guarda do MON. “A quantidade de peças é
muito grande e a nossa responsabilidade com elas também. Pela quantidade de
salas e de obras expostas, temos um trabalho minucioso com todas as obras para
ver se sofreram algum dano ou não. É um processo lento, demorado, mas frutífero”,
comenta.
Para
que as obras não sofram danos, sejam as que estão expostas ou as guardadas no
acervo, a equipe de conservação conta com um rigoroso processo de cuidado. São
duas reservas técnicas: tridimensional (para esculturas) e bidimensional (para
quadros e pinturas em papéis).
As
pinturas, aliás, são as que requerem maior atenção e cuidado na preservação.
Isso porque elas costumam ser mais influenciadas pela luminosidade e pelo toque
dos visitantes, podendo craquelar (rachaduras), afundar ou até perder o
pigmento. A depender do tipo e grau do dano, o tempo de restauro também varia.
No caso de um descolamento de tinta ou então algo preventivo, o trabalho
costuma ser mais fácil, podendo demorar até um mês. Já se a peça rasgar o
conserto pode levar cerca de um ano.
“A gente passa uma a uma verificando a
qualidade da peça, se tem algum problema com luz, problema na exposição ou
mesmo sujeira, de as pessoas colocarem o dedo. Isso tudo interfere na cor da
peça”, salienta.
A
luz, por exemplo, fica desligada dentro das reservas técnicas e só é ligada,
rapidamente, no momento em que alguma peça é retirada para exposição ou então
para conservação. O mesmo cuidado existe nas exposições, com cada ponto de luz
pensado para não danificar a obra. A temperatura ambiente também é monitorada e
deve ficar em torno dos 22ºC 24 horas por dia. Qualquer alteração é comunicada
pelos seguranças ao setor responsável. A umidade deve ficar na casa dos 55%.
Fora
isso, outro detalhe é essencial: as obras do acervo próprio do MON e as
temporárias ficam em ambientes distintos. “As
obras que são emprestadas nunca entram no acervo. Elas ficam numa sala de
trânsito, uma espécie de reserva técnica com os mesmos moldes das que temos
aqui. Elas não entram na nossa reserva porque podem contaminar as peças
próprias do MON e vice-versa. Então a partir do momento que elas chegam é feita
essa triagem”, ressalta Humberto.
E
todo esse cuidado tem um propósito maior, segundo ele. “O nosso trabalho é de conservação preventiva, tendo a certeza de que
essa peça vai durar muitos anos para que as próximas gerações conheçam e
entendam um pouco sobre a história da arte, que vai influenciar o que será
feito daqui 60, 70 anos. Essa obra que hoje estamos conservando no futuro vai
servir de inspiração para as outras pessoas”, afirma. “É preservar a história”.
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