A
advogada e doutora em Direito Internacional pela Universidade de Lisboa, Ruth
Manus, vem à capital paranaense para lançar o livro “Guia Prático Antimachismo
- Para Pessoas de Todos os Gêneros” (Ed. Sextante, 144 págs., R$ 29,90) e
participar de um bate-papo com o público. O evento será nesta quinta-feira (12),
às 19h, na Livrarias Curitiba do Shopping Palladium e a entrada é franca.
Com
seu estilo franco e certeiro, a autora mostra que expandir a conversa sobre o
machismo - convidando para o papo quem ainda não têm familiaridade com o
assunto - é mais do que necessário: é urgente.
“Decidi escrever esse livro porque temos
muitas obras sobre feminismo, masculinidade tóxica e outros assuntos, mas
poucas que sejam um convite a um passo anterior. E esse passo é um convite para
ser feminista. São degraus de uma mesma escada. Mas acho, inclusive, que é mais
produtivo e eficaz convidar as pessoas (sobretudo os homens) a começar pela
desconstrução do machismo”, explica a escritora.
A
obra é um convite à reflexão sobre estereótipos criados há milhares de anos e
que também podem demorar a se dissipar. “Todos
somos machistas. Assumir isso é um ato de coragem e trabalhar para essa
desconstrução é a solução que a gente quer. Isso é um projeto de uma vida
inteira. Não há fórmula mágica. Convido o leitor a refletir e a identificar
seus gatilhos. A partir daí, há um trabalho diário a ser feito”, destaca
Ruth.
SENTINDO NA PELE - Na obra, a autora relata um caso
pessoal vivenciado no período de Carnaval. “Quando
tinha 18 anos, um brutamontes me pegou, segurou minha cabeça e desatou a beijar
minha boca porque é Carnaval e as pessoas diziam que era normal, que ‘está tudo
bem’. Levei anos estudando gênero para entender que sofri um ato de violência”,
complementa.
Por
mais curioso que seja, a situação - considerada corriqueira na época de
Carnaval - ainda é relativizada e aceita como habitual. “Não é normal e não pode ser”, acrescenta Ruth.
A
autora também salienta que a sociedade não consegue desconstruir o machismo se
não tirar da cabeça que existem duas possibilidades: abandonar rótulos e
conclusões precipitadas.
EM BUSCA DE IGUALDADES - Ruth Manus esclarece que o livro
contra o machismo não é um livro contra os homens, que não são só os homens que
têm atitudes machistas; até mesmo algumas mulheres são machistas.
“Quando falamos em machismo estamos falando
de algo que oprime a vida dos homens também (não poder chorar, não poder ganhar
menos que a mulher, não poder ser vulnerável, não poder dizer que precisa de
apoio de saúde mental e tantas outras truculências). Por outro lado, lembramos
que as mulheres também estão contaminadas pelo machismo – e é preciso fazer um
trabalho intenso de autocrítica. É preciso ser um trabalho conjunto da
sociedade”, diz.
Contudo,
a luta feminista busca principalmente a igualdade de direitos, oportunidades e
tratamento entre homens e mulheres e se desdobra em vários segmentos. “O movimento feminista luta contra a situação
de inferioridade em que a mulher ainda vive na sociedade”, reforça a
escritora que já publicou outros quatro títulos, todos pela Editora Sextante.
Segundo
a ONU Mulheres – criada em 2010 para unir, fortalecer e ampliar os esforços
mundiais em defesa dos direitos humanos das mulheres - mesmo após décadas de
ativismo e das dezenas de leis sobre igualdade salarial, as mulheres ainda
ganham menos de 80 centavos para cada dólar recebido por homens. E, de acordo
com o Fórum Econômico Mundial, no ritmo atual, o mundo precisará de 257 anos
para superar essa desigualdade de gênero no trabalho.
MASCULINIDADE TÓXICA - Outro tema abordado no livro “Guia
Prático Antimachismo - Para Pessoas de Todos os Gêneros” envolve a
masculinidade tóxica.
O
conceito centra-se na ideia de que alguns traços culturais associados à
masculinidade são arcaicos, perpetuando a homofobia, a tendência à violência, a
hipercompetitividade e o desejo de dominação.
“A
crença popular de que ‘os homens são assim mesmo’, eles têm comportamento
violento, não demonstram emoções, tendem a dominar ou controlar os outros
reforça comportamentos prejudiciais instigados aos homens, em vez estimular um
movimento, a partir da educação e da informação, no sentido de levá-los a
assumir seus erros e se desculpar por eles”, destaca Ruth Manus.
A
autora também complementa que os homens não são criados para a reflexão, para a
serenidade, para a gentileza. A opressão masculina começa ainda na infância,
pregando a necessidade de força, rigidez, velocidade e truculência. Se não ensinamos
meninos a lidar com seus sentimentos e os instigamos a ser cada vez mais brutos
(chamando isso de “ser homem”), não é de surpreender que haja muitos casos de
violência de gênero mais tarde.
O
isolamento decorrente da Covid-19 mostrou o exponencial aumento de casos de
violência doméstica. Seria isso um sinal de que, quando tiramos os homens de
ambientes onde eles canalizam a masculinidade tóxica - como bares, estádios e
estradas com alta velocidade - essa toxicidade emerge dentro de casa? Provavelmente.
DITADURA DA BELEZA - Para Ruth Manus, enquanto o
machismo prega padrões muito restritivos de existência, o feminismo luta pela
liberdade de ser plural. O machismo define não apenas padrões comportamentais,
mas também de aparência.
“A ditadura da beleza estereotipada é uma
verdadeira prisão para as mulheres. É preciso ser magra, ter cabelos longos,
esconder os cabelos brancos e qualquer outro indício de envelhecimento. As
mulheres passam vidas inteiras tentando corresponder a uma expectativa imposta
por padrões distorcidos, tentando ter corpos que não são os seus, cabelos que
não são os seus e idades que não são as suas. Precisamos rever esses conceitos,
senão nunca teremos mulheres verdadeiramente emancipadas”, complementa a
escritora.
SOBRE A AUTORA - Ruth Manus é doutora em Direito
Internacional pela Universidade de Lisboa, onde também cursou pós-graduação em
Direito Europeu.
É
mestre em Direito do Trabalho, com ênfase no trabalho feminino, pela PUC-SP.
Ela vive desde 2014 entre o Brasil e Portugal. Também atua como palestrante, é
colunista do jornal português Observador e da revista Glamour no Brasil, e
autora de outros sete livros, entre eles “Um dia ainda vamos rir de tudo isso”;
“Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas” e “10 histórias para entender
o fim do mundo” – este último, finalista do Jabuti 2021, em coautoria com Jamil
Chade – publicados pela Editora Sextante.
A Livrarias Curitiba do
Shopping Palladium está situada na Av. Pres. Kennedy, 4121, Portão. Mais informações:
41-3330-6777.
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