quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Carminho lança álbum só com canções de Tom Jobim

A cantora portuguesa mais conhecida hoje no Brasil interpreta 14 músicas do maior compositor popular brasileiro. Traduzido assim, o CD "Carminho Canta Tom Jobim" parece infalível. Do ponto de vista comercial, vai bem: já está no topo das listas de mais vendidos em Portugal e chegou no calor das compras de Natal, às lojas brasileiras e às plataformas digitais.
No aspecto artístico, é um trabalho cercado de cuidados. Carminho tem a segurança de ser acompanhada pela Banda Nova - na verdade, o quarteto que assumiu o nome do conjunto que tocou com Tom Jobim (1927-1994). Paulo Jobim (violão e arranjos), Jaques Morelenbaum (violoncelo) e Paulo Braga (bateria) eram da banda, e Daniel Jobim ocupa ao piano o posto do avô. "Eu não seria capaz de fazer sem eles", afirma a cantora, por telefone, de Lisboa, onde nasceu há 32 anos como Maria do Carmo de Carvalho Rebelo de Andrade. "Eles sabem os caminhos, são os maiores músicos desse repertório. Eu me senti livre por ter o apoio deles. Não me arriscaria, como estrangeira, se fosse diferente".
O projeto não nasceu de Carminho. Ana Jobim, viúva de Tom, e Kati Almeida Braga, da gravadora Biscoito Fino, deram a sugestão após ouvi-la cantar músicas do compositor numa festa. E Paulo Jobim, filho do maestro, já tinha recebido o conselho de realizar um trabalho com a cantora. Após os dois se acertarem, ela recebeu dele uma planilha com quase 300 músicas. Era a arca de onde deveria pinçar 14.
"Em primeiro lugar, procurei canções que ficassem bem no sotaque português", conta. Como na música portuguesa é incomum o uso do "você", Carminho pediu a Chico Buarque autorização para trocar o pronome por "tu" num verso de "Retrato em Branco e Preto"; e, por causa do "você", resolveu cantar "Por Causa de Você" em inglês: "Don't Ever Go Away", na versão de Ray Gilbert para a letra de Dolores Duran. Ela diz ter buscado uma variedade de letristas: Chico, Dolores, Vinicius de Moraes, o próprio Tom. Ouviu sugestões de Chico, de quem já interpretou várias composições. Um dos duetos do CD é com ele, em "Falando de Amor". Ela canta "Modinha" com Maria Bethânia e "Estrada do Sol" com Marisa Monte. Na abertura de "Sabiá", Fernanda Montenegro recita versos da "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias.
"Escutei pessoas que conhecem bem a obra", diz Carminho. "Estudei para não cair na superficialidade. O perigo de quem não sabe nada é achar que sabe tudo". Quando criança, ouvia canções de Tom nas trilhas das telenovelas da Rede Globo, casos de "Wave" e "Luiza", que estão no disco - "Luiza" está com a letra atribuída no encarte a Vinicius, embora seja de Tom. O erro será corrigido na próxima impressão.
Há outros standards: "O que Tinha de Ser", "Inútil Paisagem", "Triste", "Meditação" e "A Felicidade". Cinco músicas estão no histórico álbum "Elis & Tom", com registros marcantes de Elis Regina. "São interpretações muito fortes, mas não devem ser comparadas. Não quero chegar aos mesmos lugares. Tenho de lembrar quem eu sou. Fiz com coragem, com atrevimento", afirma.
Para ela, cantar em português de Portugal já assegura um resultado bastante diferente. E sua formação vem do fado, filha que é da fadista Teresa Siqueira. "Na música brasileira, há muito tom maior, há samba, mas também há melancolia e profundidade de sentimento, assim como no fado", aproxima. Carminho é um dos expoentes da geração que vem repopularizando o fado em todo o mundo, inclusive no Brasil. Ela apresentará o repertório de Tom Jobim no Brasil em março de 2017 e em outros países depois. O compositor completaria 90 anos em 25 de janeiro.









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