A
Caixa Cultural Curitiba apresenta a exposição “Tomie Ohtake: Cor e Corpo”, que
traz à Curitiba 40 gravuras, cinco pinturas e três esculturas da artista que é
uma das grandes referências da arte abstrata brasileira. A mostra revela um
recorte de obras de Tomie, que produziu continuamente por mais de 60 anos e
viveu 101 anos. A artista japonesa naturalizada brasileira chegou ao país aos
23 anos e iniciou sua carreira quase aos 40 anos.
Tomie
Ohtake (1913-2015) recebeu 28 prêmios, participou de 20 bienais nacionais e
internacionais e mais 120 exposições ao redor do mundo. De acordo com os
curadores Carolina De Angelis e Paulo Miyada, os interesses pictóricos de Tomie
Ohtake foram constantemente renovados ao longo de sua trajetória profissional.
“A artista construiu um vocabulário plástico amplo e complexo. Forma, matéria e
cor nunca foram pensadas por ela de modo dissociado, mas alternaram suas
ênfases para se potencializar mutuamente”, afirmam. Eles acrescentam que o
conjunto da obra é uma unidade coesa.
Tomie
Ohtake preferia sempre deixar suas obras sem título. Embora suas obras sejam
associadas ao informalismo por alguns, suas formas destacam-se por remeterem a
elementos da natureza e a volumes que se assemelham a movimentos orgânicos.
Desde as primeiras décadas, Tomie Ohtake impõe tremores, desvios e abaulamentos
às formas geométricas, traçando contornos e silhuetas, evitando a rigidez.
Outra característica é o uso das cores. “Desde meados da década de 1980, a artista
imerge na intensidade de uma paleta cromática profunda, cheia de pretos,
brancos e vermelhos saturados, intercalados com azuis, verdes e amarelos densos”,
explicam os curadores.
Dentre
as 40 gravuras – serigrafias, litografias e gravura em metal – é possível
perceber mudanças sucessivas com o passar das décadas de produção de Tomie
Ohtake. Há desde as mais antigas, em que o gesto da artista transparece nos
contornos irregulares que traduzem os atos de rasgar papeis deixando rebarbas
(como ela fazia em seus esboços); passando por aquelas que testam a combinação
de cores ousadas, como se Tomie utilizasse tudo o que está à mão para
reproduzir em série texturas antes possíveis apenas nas pinturas; chegando até
aquelas em que há uma delicadeza programada do ato, linhas finas que se cruzam,
que se sobrepõem e que se encontram sob (ou sobre) uma superfície aquosa.
Nas
três esculturas, delicadeza, manualidade e fluidez se destacam. Isso porque a
forma como elas se equilibram no solo causa a sensação de estarem suspensas. As
estruturas metálicas são frutos de torções, dobras e voltas realizadas
previamente pela mão da artista em pequena escala, depois transplantadas da
maneira mais fiel possível em dimensão escultural.
As
cinco pinturas enfatizam as analogias corpóreas e orgânicas. Feitas com
procedimentos, cores e gestualidades diferentes, elas compartilham um apelo
sensual ao olhar. Como conjunto, podem remeter a diferentes estágios de
fecundação, multiplicação, nascimento e crescimento.
Tomie
Ohtake - Ela nasceu em Kyoto, no Japão, dia 21 de novembro de 1913, onde fez
seus estudos. Em 1936 chegou ao Brasil para visitar um de seus cinco irmãos.
Impedida de voltar, devido ao início da Guerra do Pacífico, acabou ficando no
país. Casou-se, criou seus dois filhos, e com quase 40 anos começou a pintar
incentivada pelo artista japonês Keisuke Sugano.
A
carreira atingiu plena efervescência a partir dos seus 50 anos, quando realizou
mostras individuais e conquistou prêmios na maioria dos salões brasileiros.
Além da pintura, da gravura e da escultura, marcam sua produção as mais de 30
obras públicas desenhadas na paisagem de várias cidades brasileiras, dentre
elas, uma em Curitiba – instalada no Museu Municipal de Arte (MuMA), no Portão
Cultural. A obra em concreto tem 11 metros de altura e foi criada especialmente
para Curitiba celebrar o centenário de amizade Brasil-Japão, em 1996.
Sobre
o seu trabalho foram publicados três livros, 20 catálogos e oito filmes/vídeos,
entre os quais o realizado pelo cineasta Walter Salles Jr. Em São Paulo, dá
nome a um vibrante centro cultural, o Instituto Tomie Ohtake. Com seu
reconhecimento, Tomie tornou-se uma espécie de embaixatriz das artes e da
cultura no Brasil. Foi sempre convocada a receber grandes personalidades
internacionais, como a Rainha Elizabeth, o Imperador, a Imperatriz e o Príncipe
do Japão, o dançarino Kazuo Ohno, a coreógrafa Pina Bausch, a artista Yoko Ono,
o escritor José Saramago, o encenador Robert Wilson, entre muitos outros. Dos
100 aos 101 anos concebeu cerca de 30 pinturas. Até a sua morte em fevereiro de
2015, aos 101 anos, seguiu trabalhando.
A exposição “Tomie Ohtake: Cor e Corpo” pode ser visitada até dia 10 de setembro, de terça a sábado, das 10h às 20h; domingo, das 10h às 19h. A entrada é franca.
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