A
Caixa Cultural Curitiba apresenta até dia 19 de novembro, a exposição “Farnese
de Andrade – Arqueologia Existencial”. A mostra reúne um conjunto de obras
pertencentes a coleções particulares e dos herdeiros do artista, mapeando sua
produção ao longo dos anos 1970, 1980 e 1990.
A
exposição revela a linguagem única e singular do artista, mostrando sua
personalidade e trajetória fundida com as fases de sua obra. A mostra prevê
recursos de cor, som e iluminação para acentuar as características dos
trabalhos e proporcionar ao público um clima lúdico e intenso. Farnese de
Andrade (1926-1996) é considerado um dos mais expressivos artistas de sua
geração.
A
exposição na Caixa Cultural propõe o resgate de sua memória através de uma
mostra abrangente e relevante. O artista contribuiu de forma decisiva para a
história da arte brasileira e agrega valores internacionais na construção das
questões vanguardistas do século XX. Com uma produção ininterrupta participou
de diversas bienais no Brasil e no exterior e suas obras hoje são disputadas entre
grandes colecionadores.
Farnese
é um dos mais valorizados artistas brasileiros e tem obras nas maiores coleções
particulares e museus do Brasil e do mundo, como: Coleção de Arte
Latino-Americana da Universidade de Essex, na Inglaterra, Instituto de Arte
Contemporânea de Londres, MAC Niterói (RJ), Museu de Arte Moderna de Nova
Iorque (MoMA), MAM RJ, Museu Nacional de Belas Artes e MAM SP, entre outras.
Além
de obras, a mostra apresentará o filme “Farnese” (1970) do cineasta Olívio
Tavares e Araújo – premiado como melhor curta-metragem no Festival de Brasília,
em 1971, e único filme latino-americano selecionado no Festival de Cannes, em
1972. Também será exibido um vídeo contendo uma entrevista com o curador Marcus
Lontra e textos/poemas que ajudam a elucidar a trajetória e os fundamentos
artísticos de Farnese de Andrade.
Múltiplo
Farnese - Farnese de Andrade foi um artista múltiplo, cuja produção, vida e
arte se enlaçam de maneira inseparável dando origem a uma obra densa, de
caráter fortemente autoral. Começou sua carreira como desenhista e gravador e,
a partir de 1964, cria objetos ou assemblages com cabeças e corpos de bonecas,
santos de gesso e plásticos, todos corroídos pelo mar, coletados nas praias e
nos aterros. Passa a comprar materiais como redomas de vidro, armários,
oratórios, nichos, caixas e imagens religiosas em lojas de objetos usados, de
antiguidades e depósitos de demolição.
Utiliza
com frequência velhos retratos de família e cartões-postais, e começa a
realizar trabalhos com resina de poliéster, sendo considerado um pioneiro da
técnica no Brasil. Apontado como dono de uma personalidade difícil e de um
trabalho marcadamente autobiográfico, Farnese revelou nas obras sua densa
trajetória pelas memórias de infância, do pai, da mãe, dos irmãos, da sagrada
família mineira e de sua fase oceânica, além de um certo aspecto libertário e
transgressor, a partir de sua mudança para o Rio de Janeiro.
Enclausurado
na própria solidão, expressou principalmente o embate dos seus medos, dores,
tristezas, rancores, complexos, perdas, depressões, recalques, pânicos,
relações, fetiches, libido, euforias e alguma alegria. A poética de Farnese de
Andrade, pautada no inconsciente, contrasta com as de outras tendências do
período, como as da arte construtiva e concreta. Construiu assim, uma obra na
qual o lirismo oscila do concreto ao abstrato e o bruto consegue ser gentil.
Sua
história - Farnese de Andrade nasceu em Araguari. Entrou em 1945 na Escola do
Parque de Belo Horizonte, onde foi aluno de Guignard e contemporâneo de
artistas como Amílcar de Castro, Mary Vieira e Mário Siléso. Quando mudou-se
para o Rio de Janeiro, em 1948, trabalhou como ilustrador para o suplemento
literário dos jornais Diário de Notícias, Correio da Manhã e Jornal de Letras,
e para as revistas Rio Magazine, Sombra, O Cruzeiro, Revista Branca e Manchete,
entre 1950 e 1960. Sua primeira exposição individual de desenhos foi em 1950.
Em
1959, começou a frequentar o ateliê de gravura do MAM RJ, onde estudou gravura
em metal com Johnny Friedlaender e Rossini Perez. Produziu gravuras abstratas,
com formas regulares e cores fortes. Nas matrizes, utiliza materiais
encontrados nas praias, como pedaços de madeira cheios de sulcos. Em 1965,
realiza a série de desenhos Eróticos e inicia os Obsessivos. Bolsista do
governo brasileiro, viajou em 1970 para Barcelona. Sua volta em 1975 rendeu
frutos e a fama de Farnese fortaleceu a paisagem artística brasileira.
Mas
não é por seu trabalho na gravura, sempre abstrato, nem como desenhista, seja
abstrato ou figurativo, que ele é, hoje, conhecido e reconhecido, mas pela
criação dos objetos chamados BoxForms, cuja matriz explodida e iconoclasta é o
Barroco da sua infância. Oratórios, pedaços de madeira de igreja, ex-votos,
etc. constituíram, até a sua morte, um mundo estranho, às vezes mórbido e com
fortes referências eróticas. Resultado de uma infância secreta, a obra sempre
onírica e poética dá força e senso a um trabalho sem igual.
A
mostra “Farnese de Andrade – Arqueologia Existencial” pode ser visitada de
terça a sábado, das 10h às 20h; domingo, das 10h às 19h.
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