Histórico
acontecimento da música brasileira que mobilizou o público no primeiro semestre
deste ano de 2017, o reencontro de Paulinho da Viola com Marisa Monte em show
inédito passa essencialmente pela nobreza do samba. Ambos são naturais do Rio
de Janeiro (RJ), cidade-berço dessa cadência bonita. Ambos estão envolvidos com
o passado glorioso da Portela, pioneira agremiação carnavalesca carioca que
gerou alguns dos maiores bambas do Brasil. Ambos são cantores, compositores e
músicos que interpretam, fazem e tocam samba, entre outros ritmos. Sucesso
unânime de crítica, o show Paulinho da Viola encontra Marisa Monte voltará à
cena de setembro a novembro, ganhando mais dez apresentações em oito capitais
do Brasil para atender à intensa demanda do público.
A
rota inicial da turnê incluía somente shows nas cidades de São Paulo (SP), Rio
de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG), mas a lotação previamente esgotada de
todas as apresentações e os incessantes pedidos de apresentações em outras
cidades motivaram a sua extensão. Para quem perdeu esse reencontro da elegância
do canto de Marisa com a nobreza da presença de Paulinho, em passeio por alguns
dos mais belos sambas feitos no Brasil (sobretudo os sambas de Paulinho e os da
Portela, predominantes no roteiro que também inclui maravilhas contemporâneas
do cancioneiro autoral de Marisa), os artistas seguirão na estrada por mais
três meses e fazem uma escala em Curitiba. Com realização da Seven
Entretenimento e TIME FOR FUN, a apresentação inédita na cidade acontece no
palco do Teatro Guaíra nesta quinta-feira (14), às 21horas.
A
cumplicidade entre os artistas em cena é fruto tanto da admiração recíproca entre
eles quanto da ligação genuína com o samba. “Estar com o Paulinho é como
encontrar a alma do samba”, resume Marisa, que completa 30 anos de carreira em
2017. “Para mim, também é muito prazeroso compartilhar essa experiência. O
canto de Marisa faz parte de minha memória musical”, ressalta Paulinho,
referência no universo do samba e do choro desde a década de 1960.
A
afinidade entre ambos vem de longa data. Marisa e Paulinho já haviam dividido o
palco em um festival em 1993, um ano antes de a cantora gravar pela primeira
vez uma música do compositor – no caso, Dança da solidão. A composição, que
batizou álbum de Paulinho em 1972, ganhou a voz da intérprete em antológica
gravação feita com a participação de Gilberto Gil para o CD Verde, anil,
amarelo, cor-de-rosa e carvão (1994). Em 2000, Marisa registraria no álbum
Memórias, crônicas e declarações de amor (2000) outro samba de Paulinho, Para
ver as meninas (1971).
As
duas composições estão no roteiro do show, ao lado de títulos do cancioneiro da
própria Marisa que giram ao redor do universo do samba, casos de Carnavália
(Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, 2002) e De mais ninguém
(Marisa Monte e Arnaldo Antunes, 1994). Contudo, se existe um eixo no qual o
roteiro se sustenta, além da obra de Paulinho, é o samba produzido pelos
compositores da Velha Guarda da Portela.
Esse
universo musical, de riqueza melódica e poética, soa íntimo para os cantores.
Paulinho frequenta a escola desde os anos 1960 e é, ele mesmo, lenda viva da
azul e branco, situada na fronteira entre os bairros de Madureira e Oswaldo
Cruz, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Marisa é filha de Carlos
Monte, um dos diretores que gerenciaram a agremiação, e bebeu tanto nessa fonte
límpida de inspiração que produziu e editou em 2000, por seu selo Phonomotor,
um álbum com composições dos bambas da Velha Guarda da escola, Tudo azul, disco
descendente da linhagem nobre do histórico LP Portela, passado de glória,
produzido em 1970 por Paulinho da Viola para registrar sambas que corriam o
risco de se perderem na tradição oral passada de geração para geração.
Não
por acaso, antes que os artistas entrem em cena para iniciar a apresentação
propriamente dita, o show começa com a reprodução, com som de vinil, desse
álbum Portela, passado de glória. Desfrutar da audição de sambas como Levanta
cedo (Rufino), Se tu fores na Portela (Ventura), Desengano(Aniceto da Portela),
Sofrimento de quem ama (Alberto Lonato) e Vaidade de um sambista (Francisco
Santana) é a chave para entrar no reino do samba habitado pelo show Paulinho da
Viola encontra Marisa Monte.
Alguns
dos sambas desse disco de 1970 são revividos por Paulinho com Marisa no bloco
mais informal do show. Como se estivessem numa roda de samba, os cantores puxam
o fio da memória que os faz lembrar de clássicos como Quantas lágrimas
(Manacéa, 1970) e Sentimentos (Mijinha, 1973). A cada samba, surge uma história
em clima que arrebata o público pela espontaneidade com que Marisa e Paulinho
transitam por esse reino de melodias encantadas.
Os
espectadores das primeiras apresentações do show Paulinho da Viola encontra
Marisa Monte, feitas entre maio e junho, já sabem que, após o set inicial do
anfitrião, a convidada entra em cena e permanece no palco até o fim do show.
Não se trata de uma participação, mas de um show conjunto.
Embora
promova basicamente um desfile de sambas conhecidos de Paulinho, de Marisa e
dos antigos bambas da Portela, em série de sucessos em que a plateia chega a
fazer coro com os artistas, o roteiro também permite que o público ouça sambas
menos famosos. O samba que Paulinho compôs pensando em Roberto Carlos, Não
quero você assim (1970), é um deles. A composição já tinha sido cantada pelo
autor junto com Marisa no show que os uniu em 1993 sob a benção do violonista
Raphael Rabello (1962 – 1995), mentor desse primeiro encontro dos dois bambas
no palco.
Entre
memórias, breves crônicas faladas sobre a Portela e declarações de amor aos
compositores da escola, Paulinho da Viola canta, sozinho e com Marisa Monte,
músicas que se encadeiam pelo refinamento melódico e poético. São sambas que passam fluentes como um rio
pela memória afetiva dos artistas e do próprio público em encontro histórico
pela própria natureza.
Livre para todas as idades, a apresentação de Paulinho
da Viola e Marisa Monte tem ingressos que variam de R$ 206,00 (meia) a R$ 806,00
(inteira) de acordo com o setor do teatro. A taxa administrativa de R$ 6,00
está incluída no valor. Mais informações: 3315-0808 ou
www.diskingressos.com.br.
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