As
obras do artista plástico piauiense Demetrio Albuquerque serão expostas a
partir desta quinta-feira (5) no Museu Municipal de Arte (MuMA) na mostra “Caminho
da Pedra”. A exposição enfatiza a pedra como instrumento utilizado desde a
origem da humanidade, passando por transformações contínuas tanto na natureza
quanto culturalmente. Com entrada gratuita e audiodescrição, a mostra segue em
cartaz até 3 de junho no MuMA, espaço que integra o Portão Cultural.
Na
exposição, Demetrio evoca o pensamento do cientista escocês James Hutton
(1726-1797). Considerado o pai da geologia, Hutton teorizou sobre o mundo
mineral afirmando que não pode haver “vestígio do começo e perspectiva do fim”,
pois na natureza tudo se transforma. "A intenção é narrar esse gesto artístico
primordial sobre a pedra e suas transformações pela natureza. Surgiu a
necessidade de fazer algo mais conceitual e, através de pesquisas, comecei a me
interessar pela formação dos solos. A ideia foi voltar a algo primitivo, mas
unindo a ciência ao mesmo tempo", comenta o artista.
A
mostra expressa essa dinâmica criando um percurso onde cada obra/personagem
provoca a memória e a curiosidade, seja pelo aspecto artístico formal ou pela
reflexão sobre sua confecção e representa um balanço da carreira de Demetrio
enquanto escultor. As obras resultam do trabalho com técnicas da cerâmica
pernambucana, pesquisa à qual o artista plástico se dedicou nos últimos anos.
Curitiba
- A capital paranaense, considerada a “segunda casa” de Demetrio, também é o
segundo lugar a receber a exposição, que já passou por Recife (PE).
O
escultor tem uma relação profunda com a cidade. Após concluir formação em
Arquitetura e iniciar as atividades como escultor frequentando ateliers em
Recife, Demetrio residiu na capital paranaense na década de 1990. Aqui, fez o
curso de escultura do Centro de Criatividade do Parque São Lourenço, com
orientação do escultor Elvo Benito. Em Curitiba, o artista ganhou o prêmio João
Turin (1991) de aquisição no 1º Salão do Museu João Turim, com as esculturas “Migrante”
e “Andaluz”.
Demetrio
também venceu o concurso para o “Monumento Tortura Nunca Mais”, em 1987.
Construído no Recife, esse foi o primeiro monumento a homenagear os presos
políticos mortos no Brasil. Após as passagens por Recife e Curitiba, o escultor
morou no Japão, onde fez curso de cerâmica (yakimono) e realizou a exposição “Karada”,
em Ashikaga-shi. Voltou para Pernambuco e se estabeleceu em Olinda, passando a
produzir esculturas de grande porte em cidades nordestinas. Alguns exemplos são
“A Pedra”, “Caboclo de Lança”, “Circuito dos Poetas do Recife”, “Dom Helder” e “Monumento
a Augusto dos Anjos”.
Obras
- A viagem simbólica de “Caminho da Pedra” começa com a movimentação dos
minerais desde a rocha bruta até a argila de aluvião, representada pela obra
Ígnea, onde se vê um rosto humano integrado com a pedra.
Em
seguida, “Erosão” traz a dissolução da matéria pela água e pelo vento, com uma
figura humana nascendo ou se enterrando na pedra. Logo depois, a instalação se
funde com pedras espalhadas pelo terreno. Entre elas, a escultura “Pétreo”
apresenta uma figura montada numa pedra, recordando a origem da civilização.
O
segundo movimento nos leva ao artista, que experimentou as primeiras vivências
com a argila na comunidade japonesa de ceramistas de Ashikaga-shi. Nesse ponto,
os conjuntos de peças “Emboladas” e “Ciranda” mostram cabeças de figuras
populares e situações socioculturais. Continuando diante de grupos alegóricos -
que são como projetos para monumentos -, percebe-se a marca de escultores do
Recife como Abelardo da Hora, Corbiniano Lins, Brennand e Jobson Figueiredo.
A
mostra também passa pelo sertão nordestino, cenário no qual se encontram
vestígios da ocupação humana dos povos antigos da América Latina, do encontro
com colonizadores e, posteriormente, com outros grupos populacionais. A partir
dessa miscigenação, surge o trabalho artístico com barro e argila, tema
explorado por Demetrio para traçar um paralelo entre a transformação e a
sedimentação da pedra em paralelo com o homem que a esculpe.
O
Museu Municipal de Arte (MuMA) está situado no Portão Cultural (Av. República
Argentina, 3430, Terminal do Portão) e a exposição “Caminho da Pedra” pode ser
visitada até dia 3 de junho, de terça a domingo, das 10h às 19h, com entrada
gratuita.
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