
Mas a verdade é que não posso criticar. Tenho já planejado o que farei quando ganhar na Mega-Sena, que é o pré-sal sonhado de cada um. É quase uma vida imaginária paralela, só esperando o grande prêmio para se tornar realidade. Conheço gente que tem até a planta da casa que mandará fazer na Cote D’Azur pronta, para a eventualidade de ganhar. A diferença entre esses outros esperançosos e eu é que também sei exatamente como gastar o dinheiro ganho no jogo – só que não jogo. Na minha vida imaginária de apostador vencedor sempre falta o detalhe da aposta. E quem passa o tempo todo sonhando em ser rico tem tempo para detalhes?
No caso do pré-sal fazem um cálculo que eu não entendo: o do que os estados perderão se a sua parte na divisão dos roialtis não for maior. Nada contra o Rio receber tudo a que tem direito, mas há uma sutil distinção entre perder e deixar de ganhar. Se eu pedir um milhão de dólares ao Eike Batista e ele, sensatamente, não me der, deixarei de ganhar ou ficarei um milhão de dólares mais pobre? A questão é semântica, deixa prá lá.
(Esse texto do Veríssimo foi publicado nos jornais brasileiros em 18/3/10)
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