O Trio Quintina apresenta nestas quarta
e quinta-feiras (19 e 20), no Teatro do Paiol, o espetáculo “Samba Erudito”,
tendo como convidada especial a cantora Virgínia Rosa. No show, o grupo
interpreta canções de Paulo Vanzolini, ao mesmo tempo em que contextualiza vida
e obra deste intelectual do samba e erudito da música popular brasileira.
Para o espetáculo, os músicos
curitibanos convidam uma das mais competentes intérpretes contemporâneas do
compositor, Virgínia Rosa. Parceira musical de Itamar Assumpção e cantora
identificada com o samba paulista, Virgínia participou, alguns anos atrás, do
registro definitivo da obra de Vanzolini: a caixa com quatro CDs intitulada “Acerto
de Contas” (Biscoito Fino). A pesquisa de repertório e conteúdo em geral ficou
a cargo do jornalista, tradutor e professor de literatura Christian Schwartz,
que participa do espetáculo também cantando parte das canções selecionadas.
Paulo Vanzolini foi um pesquisador e
acadêmico das ciências naturais e das artes. Doutor pela Universidade de
Harvard, é um herpetólogo (especialista em répteis) de renome internacional,
professor da Universidade de São Paulo e diretor por mais de 30 anos do Museu
de Zoologia dessa instituição, além de autor de uma das teorias mais
revolucionárias sobre o surgimento da Amazônia, uma de suas paixões. Mas suas
credenciais no samba conseguem levá-lo ainda mais longe. Vanzolini, que compôs cerca
de 70 sambas ao longo da vida, questiona uma categorização fundamental e
limitadora: a separação entre música erudita e música popular.
Repertório - A seleção de músicas
apresentada procura comprovar que, na vida e na obra, Vanzolini foi um erudito mas
também um autêntico boêmio paulistano, veterano da noite desde os anos 40,
quando, fazendo o policiamento do baixo meretrício da capital paulista como
soldado da polícia do Exército, em pleno pós-Guerra, imaginou seu mais famoso
sucesso, “Ronda”. O show contempla o lado cronista de Vanzolini, especialmente
no set de abertura, com participação, nos vocais, de Christian Schwartz.
O repertório também ilustra outros
aspectos da biografia e da música de Paulo Vanzolini: logo de início, a já
mencionada profundidade filosófica de algumas letras, como a do próprio “Samba
Erudito” e as de “Leilão” e “Tempo É Espaço”; o humor boêmio de “Carinha”,
“Maria Que Ninguém Queria” e “Juízo Final”; o lugar de Vanzolini no samba
paulista, em contraponto feliz à produção de seu amigo e contemporâneo Adoniran
Barbosa, a quem homenageou em “Seu Barbosa”; por fim, sua ligação profunda,
como cientista e artista, com o interior do Brasil, em “Capoeira do Arnaldo”
(levada, no show, pela viola caipira de um dos jovens músicos mais talentosos
de Curitiba, Leandro Delmonico, da banda Charme Chulo).
Para contar essa história, a direção
artística do espetáculo também usará textos – do próprio Vanzolini, autor do
livro de poemas Tempos de Cabo, e de outros escritores identificados com sua
trajetória. Além disso, recorrerá a trechos do documentário Um Homem de Moral,
do diretor Ricardo Dias, em especial ao breve depoimento de Vanzolini – agora o
cientista – em plena mata amazônica, num tributo à cultura regional que mais o
fascinou em suas andanças pelo Brasil. É quando entra em cena a cantora
convidada, Virgínia Rosa, interpretando a toada do sertão mato-grossense
“Cuitelinho”.
Daí em diante, ao assumir o comando do
espetáculo, Virgínia interpreta clássicos universais do samba, como “Amor de
Trapo e Farrapo” e “Quando Eu For Eu Vou Sem Pena”, e as melodias de
“Pedacinhos do Céu”, choro de Waldir Azevedo para o qual Vanzolini levou trinta
anos bolando uma letra, e “Valsa Sem Fim”. O espetáculo caminha para o final em
clima de celebração, em especial, em “Samba Abstrato” e na apoteose de “Volta
Por Cima”, cujos versos já viraram sabedoria popular.
O show conta com a direção cênica de
Márcio Abreu e Nadja Naira, integrantes da Cia Brasileira de Teatro e parceiros
do Trio Quintina no seu trabalho anterior, o celebrado Show/DVD “Cyrk”. Os
ingressos para “Samba Erudito” custam R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia).
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