À primeira vista, quase não vemos Biba em meio
à austeridade do Palácio São Francisco, sede do Museu Paranaense, com suas
paredes escuras e móveis pesados. Alguns minutos de conversa, contudo, bastam
para enxergar além: a arquiteta e cenógrafa quer apresentar um novo olhar ao
visitante do espaço.
O conteúdo, como ela mesma descreve, “é
fértil”. E é na forma que ela vai atuar. Graduada em Arquitetura pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1996) e em Cenografia pela
Accademia di Belle Arti di Brera (2004), em Milão, na Itália, Biba é
especialista na construção de narrativas visuais.
O objetivo é mais do que trazer público ao
museu. A proposta é aproximar dos visitantes as histórias contadas ali. O Museu
Paranaense é o terceiro mais antigo do país e possui 400 mil itens em seu
acervo.
Determinação e força de vontade não faltam.
Biba já provou ser possível unir o passado ao presente de forma contemporânea e
acessível. Ela foi a responsável pelo projeto de remodelação do Museu Casa
Alfredo Andersen ao lado do designer e também cenógrafo Richard Romanini. “Ali
foi um processo superinteressante, porque a exigência era um projeto
expográfico, mas a gente percebeu que tinha que abraçar outras áreas.
Trabalhamos muito no próprio acervo, restauro de algumas peças e, com os
curadores Adolfo Montejo Navas e Eliane Prolik, conseguimos trazer arte
contemporânea pra dentro do museu”, diz. Reaberto em dezembro de 2018, o agora
museu-casa evidencia traços contemporâneos ao mesmo tempo em que preserva a memória
de onde viveu o artista norueguês, considerado o pai da pintura paranaense.
PRIMEIROS CONTATOS - O envolvimento com a
expografia teve início no Museu Oscar Niemeyer (MON). Foram três exposições nos
últimos dois anos. A primeira e a segunda parte da mostra do acervo “Luz =
Matéria”, com curadoria de Agnaldo Farias, e a mostra asiática que teve
curadoria de Teixeira Coelho ao lado de Fausto Godoy – o embaixador que doou ao
MON 3 mil itens provenientes de mais de dez países asiáticos. O recorte deu origem
à mostra “Ásia: a terra, os homens, os deuses”, com 200 peças em exposição.
Todos esses projetos expográficos são assinados
pela Ato1Lab, escritório comandado pela arquiteta e seu marido, o designer
Richard Romanini. Foi em Milão, onde morou por quase 15 anos, que Biba conheceu
o companheiro de trabalho e de vida. “Foi uma decisão conjunta com meu marido
de mudar pra cá. Chegando aqui começamos a trabalhar em alguns projetos de
audiovisual e montamos um escritório supermultidisciplinar”. O casal mudou-se
para Curitiba em 2009.
NOVIDADES - Nos últimos anos, a pesquisa e a
produção de conteúdo foram intensas no Museu Paranaense, com atuação de
professores e universidades. A estruturação da reserva técnica foi outro passo
fundamental na gestão e conservação do acervo do museu. “O importante agora é
trazer tudo isso para o público. Acredito que a forma deve ser tão consistente
quanto uma pesquisa científica e vamos olhar com muito carinho pra essa parte”,
afirma Biba. Partindo da premissa de pensar o espaço, a arquiteta trouxe para a
instituição um novo corpo técnico de arquitetura e design. Junto ao setor de
museologia e do educativo do Museu, a equipe vai atuar na gestão de conteúdo e
em uma nova identidade para o espaço.
A primeira remodelação nas exposições está
prevista para o prédio histórico do museu, o Palácio São Francisco, construção
de 1929, tombada pelo Patrimônio Histórico, antiga residência da família
Garmatter, Palácio do Governo e Tribunal Regional Eleitoral. A parte conhecida
como anexo, edificação de concreto, aço e vidro, em dois pisos, com cerca de
1.600 m², passou por reformas e teve o circuito expositivo renovado no fim de
2018. Por esse motivo, a diretora explica que vai dar atenção especial ao
palácio.
Outra novidade que está em fase de testes e
promete trazer grande agilidade na gestão do espaço é a tecnologia Building
Information Modeling (BIM), que permite criar digitalmente cada item do acervo
de forma espacial e incluir todos os dados sobre aquele item. Dessa maneira, ao
pensar na disposição das peças de uma exposição a ferramenta permite esboçar
toda essa mostra no ambiente virtual, com informações espaciais precisas, além
dos dados técnicos de cada item.
Se há outra peça que dialogue com essa
exposição, seja em outra mostra ou na reserva técnica, é possível criar links
com esse item. A tecnologia BIM também facilita muito em caso de itinerância do
acervo, fornecendo todas as informações necessárias para montagem de uma
exposição em outro local e ainda dados de geolocalização.
Para Biba, a nova identidade do Museu
Paranaense deve situá-lo entre o museu tradicional e o hipertecnológico, o que
ela chama de “museu narrante”. “Você cria uma série de narrativas transversais
sobre uma peça, que vai gerar curiosidades e ainda pode linkar com outras peças
do museu”.
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