Uma
opção para quem quiser conhecer mais sobre a presença negra e sua participação
na formação de Curitiba é percorrer a Linha Preta, roteiro com os principais
pontos históricos da população negra em Curitiba. O trajeto fica no Centro da
cidade e pode ser feito todo a pé.
O
projeto da Linha Preta foi concebido durante o II Congresso de Pesquisadores/as
Negros/as da Região Sul- COPENE SUL, organizado pelo NEAB – Núcleo de Estudos
Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná.
O
trajeto inicial da Linha Preta reúne 11 pontos, entre eles as Ruínas de São
Francisco, a Igreja do Rosário, o Memorial de Curitiba, a Praça Tiradentes e a
Sociedade 13 de maio. O roteiro ficará em constante aperfeiçoamento e seu
traçado deve abarcar, em breve, o interior de museus, galerias de arte, prédios
históricos, teatros, etc.
01
– RUÍNAS DE SÃO FRANCISCO
As
Ruínas de São Francisco são, na verdade, uma construção inacabada. Há relatos
de que se trata da construção de uma igreja em homenagem a São Francisco de
Paula iniciada por um grupo de devotos portugueses no início do século. É
inegável a participação de trabalhadores negros na construção desse edifício
que exigia mão de obra especializada como a de mestres-pedreiros, por exemplo,
que dominavam técnicas variadas de construção, principalmente a alvenaria de
pedra. Muitos desses mestres-pedreiros eram negros de ofício, ou seja, oficiais
preparados em oficinas especializadas para o exercício de profissões bem
conhecidas como pedreiros e ferreiros (José Luiz Mota MENEZES, 2010, p. 115)
02
– IGREJA DO ROSÁRIO
A
Igreja do Rosário, em Curitiba, inicialmente chamada de Igreja do Rosário dos
Pretos de São Benedito, foi patrocinada, projetada e construída por pessoas
negras, em 1737 organizadas em irmandades. Construída em estilo colonial, era
maior e mais imponente que a igreja matriz, bem mais simples, construída em madeira
onde os/as negros/as não podiam entrar. Provavelmente foi a segunda igreja
construída na capital paranaense, pois entre 1875 e 1893 serviu de igreja
matriz enquanto a nova catedral era construída. Em 1931 a antiga igreja foi
demolida, dando lugar a igreja atual inaugurada em 1946 já sob a
responsabilidade da igreja católica.
03
– ARQUITETURA DO LARGO DA ORDEM
Em
relação à arquitetura, a contribuição mais conhecida dos povos africanos no
Brasil está associada à introdução de técnicas de construção que usavam o adobe
e a taipa de mão presentes tanto nas áreas rurais quanto urbanas. Associada à
pedra essa tecnologia possibilitou a construção de prédios públicos de grandes
proporções em várias partes do país, principalmente igrejas católicas, muitas
delas no estado de Minas Gerais.
04
– MEMORIAL DE CURITIBA
Inaugurado
em 1996 o Memorial de Curitiba tem um projeto arquitetônico inspirado no
pinheiro paranaense. É um importante centro cultural da cidade e abriga várias
obras de artes, dentre elas um imenso painel do artista Sérgio Ferro que mostra
alguns elementos constitutivos da cultura brasileira. Infelizmente a população
negra é retratada de forma estereotipada, reforçando, por exemplo, discursos
que operam para a disseminação de ideias sobre as supostas subalternidade e
subserviência desse grupo racial, bem como para a hipersexualização do corpo da
mulher negra.
05
– BEBEDOURO
A
construção do bebedouro data de meados do século XVIII e era bastante utilizado
por tropeiros em passagem pela cidade para dar de beber a seus animais. A
presença de um número significativo de tropeiros negros é atestada por algumas
aquarelas de Jean-Baptiste Debret que os retratou em Curitiba e região.
06
– PRAÇA TIRADENTES
A
Praça Tiradentes passou por um processo de ressignificação nos últimos anos
pela comunidade negra de Curitiba, especialmente por pessoas ligadas aos
movimentos sociais de negras e negros e por praticantes da Umbanda e do
Candomblé. Há na Praça Tiradentes um conjunto de Gameleiras Sagradas. A
gameleira é moradia de Iroco, um raro orixá de origem Iorubá. Iroco também é
moradia de espíritos infantis e está associado a longevidade, já que a
gameleira vive por mais de 200 anos. Na praça ainda existe outro símbolo
importante para a comunidade negra, um caminho feito de pedras que revela a
importância da mão de obra negra para o processo de urbanização da capital
paranaense.
07
– ARCADAS DO PELOURINHO
O
Pelourinho da Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, Localizado na Praça José
Borges de Macedo, ao lado do Paço da Liberdade, foi levantado em 04 de novembro
de 1668. O pelourinho marcava a fundação de uma vila e também um espaço onde
pessoas escravizadas, que por razões diversas, como desafiar o regime
escravista, por exemplo, eram castigadas. Embora o pelourinho traga consigo
lembranças de um período marcado por muita violência que incidia sobre a
população negra, ele também representa as inúmeras formas de resistência
desenvolvidas por negras e negros para fazer frente ao regime escravista.
08
– ÁGUA PRO MORRO
Água
Pro Morro (1944), localizada na Praça Generoso Marques, é uma criação do
artista curitibano ErboStenzel e foi apresentada como trabalho final de curso
de escultura na Academia Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. A obra,
originalmente em gesso, retrata Anita, namorada e modelo do artista à época. A
escultura mostra uma bela jovem negra com uma lata d’água sobre a cabeça,
sugerindo o movimento de quem caminha em direção a um plano mais elevado. De
grande sensualidade, a obra dá a impressão de que o vestido usado pela modelo
está molhado, por isso cola ao corpo e desenha os seios, mas não os expõem. A
cena coloca em discussão algumas questões, como por exemplo, o reconhecimento
da beleza da mulher negra e o seu lugar em nossa sociedade, bem como e as
políticas públicas que negavam a negras e negros o direito à cidadania. Em 1995
a obra foi fundida em bronze pela prefeitura municipal de Curitiba e colocada
na praça Generoso Marques. Desconsiderando as intenções do artista ao criar a
escultura, o prefeito à época Rafael Grecca, de forma bastante depreciativa a
rebatizou de Maria Lata D’Água.
08
– PRAÇA ZACARIAS – CHAFARIZ
Essa
praça faz uma homenagem ao primeiro presidente da província do Paraná: Zacarias
Góes e Vasconcelos (1815 -1877), nomeado em 1853. Foi ele quem criou a
infraestrutura necessária para o desenvolvimento da recém fundada província que
até então pertencia a província de São Paulo. A praça ainda preserva outro
elemento importante que marca a presença negra no Paraná, um antigo chafariz
que faz alusão ao primeiro sistema de água encanada de Curitiba. Esse sistema
foi projetado pelo engenheiro Antonio Rebouças em 1871 e possibilitava que as
pessoas tivessem acesso a água potável e também abastecia os aguateiros
profissionais que vendiam água de casa em casa.
09
– PRAÇA SANTOS ANDRADE
Na
Praça Santos Andrade há um pequeno monumento em homenagem a “Colônia
Afro-Brasileira”. Iniciativa da Câmara dos Vereadores, a modesta homenagem é
composta por um bloco de granito e uma placa de bronze. Não respondendo a
importância desta comunidade para a cidade de Curitiba.
10
– PRAÇA 19 DE DEZEMBRO
O
conjunto arquitetônico da Praça 19 de Dezembro, assinado pelo escultor
ErboStenzel, é composto por um painel de duas faces, um espelho d’água, um
obelisco e a escultura de um homem nu com 18 metros de altura. No painel de
duas fases a ideia do artista foi contar um pouco da história do Paraná e seus
ciclos econômicos. Já o Homem Nu representa o Paraná dando um passo em direção
ao futuro. Com traços negros bem destacados a escultura apresenta ainda forte
semelhança com a arte do antigo Egito, com características que permitem
dialogar com a Lei da Frontalidade. A Lei da Frontalidade se caracteriza por
ser bastante simétrica, em que uma linha imaginária divide a obra em duas
partes iguais, estando a figura em pé, sentada ou de joelhos. Os braços estão
sempre colados ao corpo, estendidos ou cruzados sobre o tronco. Mesmo em
esculturas que retratam pessoas em pé o movimento é contido, ainda que simule
uma caminhada.
11
– SOCIEDADE BENEFICENTE TREZE DE MAIO
Conscientes
de que precisavam se organizar para defender seus direitos e sua identidade,
sua cultura e sua memória, a população negra criou associações e clubes sociais
em várias regiões do país, ainda no regime escravista. O Clube Beneficente
Treze de Maio foi fundado em de julho de 1888 e ficava numa região conhecida
como Boulevard São Francisco, onde vivia um grande número de pessoas negras. O
clube ajudava os mais necessitados, comprava material escolar para as pessoas
pobres e providenciava enterros dignos a quem não tinha condições. Reinaugurado
em 1995 atualmente é conhecido como Sociedade 13 de Maio (Rua Des. Clotário
Portugal, 274), importante espaço de preservação da memória e de demarcação da
presença sempre ativa da população negra em Curitiba.
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