O Coletivo Tombado, de Brasília, chega a
Curitiba para apresentar o espetáculo “Para Mahal”, nos dias 4 e 5 de maio, às
21h, e 6 de maio, às 19h, no Espaço Fantástico das Artes (Alameda Princesa
Izabel, 465). Na última apresentação, no domingo, haverá intérprete de libras e
distribuição de cortesias para as primeiras 20 pessoas com deficiência auditiva
que chegarem. Os ingressos custam R$ 30,00 e R$15,00 (meia).
Inspirada no romance “Tu não te moves de ti”,
um conjunto de novelas de Hilda Hilst, a peça é composta por três seções
narrativas, aparentemente independentes, que insinuam inter-relações entre as
partes, mas deixa a ligação dos pontos aberta, a cargo do público. Neste
sentido, o espetáculo exige do leitor um papel ativo na atribuição de sentidos
e significados - seja de ordem poética, onírica ou física - às provocações do
texto. A montagem mescla uma série de linguagens: literária, cênica, musical e
audiovisual, com projeções, captação e transmissão ao vivo via internet.
Neste universo multimídia, as experimentações
linguísticas, os novos vocábulos, além das expressões soltas, caracterizam uma
luta com as palavras e os sentidos. Os personagens ganham forma à medida em que
atravessam questões metafísicas, filosóficas, cotidianas, religiosas e morais.
A primeira sessão apresenta um bem sucedido executivo, Tadeu da Razão, que
ocupa um cargo desejado por qualquer pessoa que segue a lógica do capital.
No entanto, ao chegar aos 50 anos de vida e 30
de casamento, passa a rever seus valores, a questionar a existência e a vida de
aparências que leva ao lado de Rute, sua esposa, que não compreende suas
inquietações e sua insatisfação com a vida, com as pessoas e com o ambiente ao
redor. Em seguida a peça relata a trajetória de Maria Matamoros, que vive em um
lugar longínquo e pouco habitado. Ela é puro sentido: tato, visão, paladar. Só
assim conhece o que vê. No entanto, a vida cheia e plena muda com a chegada de
um homem-anjo, nomeado por ela como “Meu”.
Ao levar esse pequeno pedaço divino para casa
ela se depara com o ciúme e o medo de perdê-lo; começando a desconfiar de sua
mãe, Haiága, que com a chegada do homem se embeleza. Assim, Maria experimenta
uma relação amorosa cheia de desejos, de sensações e de sentimentos perigosos.
Por Matamoros imaginar que está sendo amorosamente traída pela mãe, surge uma
tensão destruidora que se arrasta até o desfecho da ação. Por fim, Azelrod da
Proporção é o trem-território movente das especulações do Sr. Axelrod Silva,
professor de história política, passageiro e sobrinho de Haiága. Em Axel, a
história roda, gira de cima abaixo revelando o ser humano em múltipla dimensão.
Assim se revelam as camadas da sua psique, suas
relações com o pai, com o divino, com os dogmas, com suas certezas demolidas.
São esses questionamentos que dão título ao romance: por mais que ele se mova e
que o trem se mova em direção ao seu destino, uma voz sempre lhe diz: “tu não
te moves de ti”. “Para Mahal” desafia os limites entre realidade e ficção,
entre o sonhado e o vivido, entre a verdade e a mentira. O desmantelamento
progressivo e sistemático das certezas nos personagens faz emergir outros
mundos na prosa hilstiana.
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