A Caixa Cultural traz a Curitiba neste final de
semana, o espetáculo “Os Mequetrefe”, uma criação do grupo Parlapatões
inspirada na obra do inglês Edward Lear, o ilustrador e poeta inglês que criou
o termo nonsense. Sob a direção de Álvaro Assad, da carioca Cia. Etc e Tal, e
com roteiro assinado por Hugo Possolo, os Parlapatões promovem um intercâmbio
artístico entre dois grupos que trabalham o cômico em vertentes diferentes: a
mímica e a palhaçaria.
Em “Os Mequetrefe”, quatro palhaços que, não
por acaso, se chamam Dias, vivem a jornada de um longo e divertido dia. Do
despertar à hora de ir dormir, revelam como a desconstrução da lógica cotidiana
pode abrir espaço para outras maneiras de encarar a vida. Vivendo situações bem
comuns, esses cidadãos nada comuns provocam uma série de confusões tão hilárias
quanto poéticas.
Da maneira como acordam, passando pelo jeito
como se vestem para ir trabalhar, eles encaram essa aventura através do dia de
maneira cômica. Depois de acordar, os Dias pegam o ônibus, que irá se
transformar em tudo que pode levar gente – seja navio ou trem – para irem ao
trabalho. Dessa maneira, manipulam objetos de cena de maneira lúdica, sempre
carregados de um humor provocativo. Seja no trabalho, onde todos seus colegas
são seres absolutamente estranhos, ou no final do dia, quando a televisão
despeja imagens violentas sobre todos, esses palhaços retiram de suas
hipérboles a comicidade e o lirismo.
As poesias e pinturas de Edward Lear – criador
da expressão em seu “Livro do Nonsense” –, bem como características visuais e
verbais do Futurismo e do Dadaísmo, levaram o grupo a redimensionar os
elementos da palhaçaria, visando criar cenas onde a desconstrução da lógica,
muito presente na essência dos palhaços, pudesse ganhar uma dimensão lírica.
Para o diretor Álvaro Assad “Os Mequetrefe vai além de seu ponto de partida,
que é reunir palhaços em torno do nonsense, para ganhar outra potência. Afinal,
busca na desconstrução da lógica uma visão com a qual o público se
identifique”.
No dicionário, a palavra “mequetrefe” é
definida como um insulto a uma pessoa e seu significado pode ser utilizado de
três maneiras distintas: intrometido, trapaceiro ou sem importância. Para Hugo
Possolo, “esses três sentidos estão presentes em tudo que vivenciam os Dias,
esses quatro palhaços que, no fundo, somos nós, os cidadãos, nos deparando com
os absurdos do dia-a-dia”.
Os figurinos evitam a caracterização dos
palhaços clássicos para se voltar aos arquétipos da loucura, onde cada Dias tem
sua especificidade – e as roupas trazem detalhes tão inúteis quanto deslocados da
realidade. Já a cenografia se apresenta como parte da narrativa, onde os
elementos cotidianos se transformam constantemente pela leitura absurda que os
palhaços lhes aplicam. A trilha sonora de Raul Teixeira mescla as referências
mais típicas da arte da palhaçaria com uma sonoridade exótica que desconstrói a
narrativa para apontar novas trajetórias à aventura. A iluminação de Assad e
Reynaldo Thomaz marca a diferença entre os ambientes reais e os fantásticos nos
quais os palhaços penetram a cada nova etapa da aventura.
Parlapatões - Há 27 anos os Parlapatões
trabalham voltados para a comédia, utilizando técnicas circenses e de teatro de
rua. Seus espetáculos circularam em diversas capitais do Brasil e se
desatacaram em festivais como o Festival Internacional de Londrina (FILO), o
Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH) e o
Porto Alegre em Cena – Festival Internacional de Artes Cênicas. Seus grandes
sucessos são: “PPP@WllmShkspr.br”, que atingiu mais de 50 mil espectadores; “Sardanapalo”,
que ficou dois anos em cartaz e foi destaque no Festival de Edimburgo, Escócia;
e “U Fabuliô”, representante oficial do Brasil na Expo 98, em Lisboa. Também em
1998, o grupo recebeu o Grande Prêmio da Crítica APCA pelo evento “Vamos Comer o
Piolim”. Ao completarem 10 anos de trabalho, os Parlapatões lançaram o livro “Riso
em Cena”, do jornalista Valmir Santos.
Depois de realizar diversas montagens entre
2003 e 2010, todas com grande sucesso, em 2011, em comemoração aos 20 anos do
grupo, estrearam “Ridículos, Ainda e Sempre”, do poeta russo Daniil Karms, com
adaptação de Hugo Possolo e Antônio Abujamra. Em 2012, remontaram seu grande
sucesso, o espetáculo “PPP@WllmShkspr.br”, texto do americano Adam Long,
mantendo na nova montagem a tradução de Barbara Heliodora e a direção de Emílio
Di Biasi. Em 2013, realizam quatro novas montagens: “Parlapatões Revistam
Angeli”, com direção de Hugo Possolo, trilha sonora de Branco Mello e desenhos
de Angeli estreou no Festival de Curitiba; “Festival de Peças de Um Minuto”,
versão portuguesa com temporada realizada em Lisboa; o monólogo “Eu Cão Eu”,
com texto de Hugo Possolo e direção de Rodolfo García Vaz, e o primeiro Molière
da companhia: “O Burguês Fidalgo”, com texto de Jean Baptiste- Molière e
direção de Hugo Possolo.
Em 2014, em parceria com a Ricca Produções e
Reinecke Produções Culturais, estrearam a comédia “A Besta”, de David Hirson,
com direção de Alexandre Reinecke. Em 2015, lançaram o espetáculo circense “Sala
de Espelhos”, com roteiro e direção de Hugo Possolo. No mesmo ano, também
estrearam “Até Que Deus é um Ventilador de Teto”, texto de Hugo Possolo e
direção de Pedro Granato. Paralelo às estreias e temporadas paulistanas, o
grupo circula com seu repertório de espetáculos por todo o Brasil e pelo
exterior. Além disso, mantêm o Espaço Parlapatões no centro paulistano, atuaram
na revitalização de outros teatros e, recentemente, abriram o Galpão
Parlapatões, espaço de ensaios e centro de treinamento circense.
Álvaro Assad - Álvaro Assad é diretor e ator.
Pesquisa e desenvolve sua técnica artística há 23 anos, tendo trabalhado e se
aperfeiçoado na técnica gestual, em 1991, com Luís de Lima – mímico português
parceiro do mestre francês Marcel Marceau. Fundou, em 1993, o grupo carioca
Centro Teatral e Etc e Tal, do qual é gestor, diretor, ator e preparador
mímico. Assina direção e roteiro de todos os espetáculos do Etc e Tal. Foi
agraciado com prêmios de melhor ator e/ou diretor, por sua atuação em “Fulano
& Sicrano”, em diversos festivais nacionais.
Em 2007, recebeu o Prêmio Newcomershow, em
Leipzig, na Alemanha, com o espetáculo “No Buraco”. No ano de 2008, ao dirigir “A
Noite dos Palhaços Mudos”, foi indicado a diversos prêmios e laureado com o I
Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro na categoria de Melhor Espetáculo. Em
2012, dirigiu e roteirizou o espetáculo “A Fantástica Baleia Engolidora de
Circos”, da Cia. Frita e, no mesmo ano, assinou a Direção Mímica do espetáculo “Mistero
Buffo”, da Cia. LaMínima. Em 2014, foi agraciado com o Prêmio Especial Zilka
Salaberry pelos 20 anos de Teatro e Pesquisa Mímica com sua companhia Etc e
Tal.
Livres para todas as idades, as encenações de
“Os Mequetrefe” acontecem sábado (19); às 15h e às 18h; e domingo (20), às 15h.
Os ingressos custam R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia, conforme legislação e
correntistas que pagarem com cartão de débito Caixa). A compra pode ser feita
com o cartão vale-cultura. Mais informações: 2118-5111.
Nenhum comentário:
Postar um comentário