O Museu Oscar Niemeyer (MON) recebe de 27 de
setembro a 10 de março de 2019, exposição sobre o fotógrafo francês Pierre
Verger (1902-1996), que transformou seu trabalho em um grande panorama dos
cinco continentes, incluindo o Brasil, onde realizou uma profunda pesquisa.
Fotógrafo, etnólogo e antropólogo, Verger viveu
parte da sua vida na cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, inclusive
com uma produção escrita significativa sobre esta cultura.
Com curadoria de Alex Baradel e Marcelo
Guarnieri, a exposição conta com aproximadamente 150 imagens, e está dividida
por núcleos que compreendem distintos momentos do seu trabalho, onde o público
pode perceber toda a extensão historiográfica e fotográfica da obra de Verger
pelo mundo.
Estão em exibição os primeiros vintages -
impressão fotográfica realizada enquanto o autor era vivo; as fotografias para
a imprensa francesa, feitas entre 1932-1934; o registro da Segunda Guerra
Mundial; o Nordeste brasileiro; os cultos afro-brasileiros; a Segunda Guerra
Sino-Japonesa, entre outras documentações.
A mostra fica em cartaz até dia 10 de março de
2019 e a visitação pode ser feita de terça a domingo, das 10h às 18h. Os
ingressos custam R$ 20,00 e R4 10,00 (meia).
CONFIRA OS NÚCLEOS
Vintages mais antigos - Além de algumas fotos
de família realizadas no início do século XX, os vintages mais antigos
presentes no acervo da Fundação Pierre Verger são ampliações realizadas na
Europa no início da década de 1930. É um material precioso, já que os negativos
correspondentes foram perdidos durante a guerra. Esse material apresenta um
aspecto do trabalho de Verger pouco conhecido – fotos de lazer na França –,
anunciando, entretanto, seu interesse pelos corpos, especialmente pelo nu,
assim como a busca de horizontes fora da cidade. Nessa época, Verger também
produziu vintages das suas fotos feitas na Polinésia para sua primeira
exposição realizada no Museu de l’Homme, em 1934. Por não possuirmos tais
cópias, apresentamos outras impressões feitas alguns anos depois.
Fotógrafo para imprensa - Em dois anos
(1932-1934), Verger passou de fotógrafo amador a um dos fotógrafos mais
publicados na imprensa francesa. Identificamos mais de 1.200 fotografias
diferentes de Verger publicadas em jornais, revistas e livros, de 1934 a 1939:
as primeiras, no jornal francês Paris-Soir, e depois nos mais diversos
suportes, notadamente em prestigiosas revistas como Life, Daily Mirror, Arts et
Métiers Graphiques.
Muitas dessas imagens foram publicadas através
da agência Alliance-Photo, precursora da Magnum, cuja diretora Maria Eisner
publicou com muita eficiência o trabalho fotográfico de Verger. Existem muitos
vintages dessa época, provenientes do acervo da Alliance-Photo, material
utilizado para apresentar os clichés dos fotógrafos aos clientes da agência.
A Segunda Guerra Mundial - Durante a guerra,
encontrando-se no continente sul-americano, Verger não pôde mais contar com a
Alliance-Photo para publicar suas imagens. Viveu anos difíceis, mas continuou
publicando. Em um primeiro momento, na Argentina – onde ficou por dois anos –,
notadamente na revista Mundo Argentino, para a qual já entregava conjuntos de
imagens, formando o que se pode considerar como fotorreportagens, já que são
acompanhados de textos, o que pouco fazia até então. Em um segundo momento, no
Peru, onde trabalhou para o Museu de Lima, para quem realizou um trabalho de
caráter mais antropológico sobre a cultura andina. Parte desse trabalho foi
publicado num dos primeiros fotolivros feitos na América Latina, também um dos
primeiros registros de antropologia visual: Fiestas Y Danças em Cuzco.
O Nordeste brasileiro - Quando Verger voltou ao
Brasil, em 1946, conseguiu trabalhar como fotógrafo por meio de um contrato
assinado com O Cruzeiro, maior revista sul-americana da época. Seguiu assim
para o Nordeste, onde realizou, de 1946 até o final de 1948, um de seus mais
importantes trabalhos sobre a cultura popular nordestina. Não somente a cultura
afro-baiana, mas também do interior da Bahia, de Pernambuco, Alagoas,
Paraíba... No acervo do fotógrafo existem muitos vintages agrupados por
temática, com textos e legendas, formando fotorreportagens que foram publicadas
tanto na revista brasileira O Cruzeiro – muitas vezes com textos de Odorico
Tavares – quanto em revistas internacionais.
Os cultos afro-brasileiros - Desde sua chegada
na Bahia, Verger se encantou pelos cultos afro-brasileiros. Muito bem recebido
no mundo do candomblé da Bahia e de Xangô do Recife, ele aproveitou seus
contatos com antropólogos (Bastide, Monod, Métraux) para poder voltar ao Benim
e melhor entender as similitudes entre a cultura afro-baiana e as dos países do
Golfo do Benim (Benim e Nigéria).
Essa volta para a África, em 1948, foi a
primeira de inúmeras viagens que aconteceram sem descontinuidade até o final da
década de 1970. Além de publicar essas fotografias em livros de caráter cada
vez mais antropológico (Dieux d’Afrique), Verger também as utilizou
diretamente, apresentando impressões de formato pequeno (24 x 18 cm) aos seus
interlocutores – não só aos pesquisadores, mas também às próprias figuras
retratadas.
Reconhecimento retrospectivo no Brasil –
Corrupio (anos 80) - Os “problemas“ enfrentados por Verger na Nigéria, em 1978,
marcaram o fim das suas longas viagens para a África. Graças a uma parceria com
novos colaboradores, seus trabalhos foram publicados pela primeira vez na Bahia
através da Corrupio, editora criada inicialmente para lançar seus trabalhos.
Diversos livros foram publicados com sucesso, seguidos de exposições no Brasil,
sobre as temáticas baiana e afro-baiana e também sobre a China, em Shangai.
Reconhecimento retrospectivo internacional –
Revue Noire (anos 90) - Durante a década de 1980, a equipe de fotógrafos que
participaram da Alliance-Photo foi destacada numa exposição com catálogo e o
nome de Verger reapareceu timidamente no circuito fotográfico francês. Mas foi
no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 que a organização de uma grande
exposição na Suíça e em Paris – no Musée d’Art d’Afrique et d’Océanie –, com ampla
divulgação, ofereceu uma visibilidade inédita à obra fotográfica de Verger.
Pela primeira vez após a Segunda Guerra, uma exposição de Verger aconteceu com
ampliações de boa qualidade, vintages assinados por Verger, alguns dos quais
presentes nessa mostra.
Le Messager – Catálogo da mostra foi também
distribuído nos Estados Unidos, onde Verger era representado por uma galeria
indicada por Mario Cravo Neto, amigo baiano que realizou as ampliações de
Verger comercializadas nesse local.
Segunda Guerra Sino-Japonesa - É verdade que
Verger foi um fotógrafo completamente livre, escolhendo o destino das suas
viagens e, consequentemente, os assuntos que fotografava, mas há algumas
exceções. Uma delas se deu quando foi contratado para fazer a cobertura da Segunda
Guerra Sino-Japonesa, já no final do ano de 1937. A pedido de Maria Eisner, uma
das fundadoras da Alliance-Photo, produziu um material que concorreria no
mercado com o de ninguém menos que Robert Capa, que também havia ido cobrir o
conflito. Mas Verger, segundo seus próprios termos, não era muito corajoso e
nunca falou tanto a respeito das fotos feitas nessa época. Apenas comentou que
achava muito “estranho” estar cobrindo um conflito horroroso que gerou tantos
mortos, mas sem correr nenhum risco, já que ele e outros repórteres ficavam
hospedados em “Concessions” protegidas por leis internacionais. Os vintages
aqui apresentados foram utilizados pela agência Alliance-Photo e acabaram sendo
publicadas em importantes revistas da época, como Life e Regard. Apesar de não
gostar desse material, Verger aceitou o pedido para poder seguir para as
Filipinas, país para onde queria muito voltar.
Mais informações: 3350-4400 ou www.museuoscarniemeyer.org.br.
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