Com
mais de 35 anos de história e considerada uma das mais importantes companhias
teatrais do cenário nacional, o Grupo Galpão traz para Curitiba, o espetáculo “Outros”,
que dá continuidade à bem sucedida parceria do grupo mineiro com o diretor
Marcio Abreu (companhia brasileira de teatro), iniciada com o espetáculo “Nós”,
de 2016. Na montagem mais recente, o grupo foca na escuta, na busca pelo outro
e aprofunda a reflexão sobre o hoje e o lugar do artista e da arte nos tempos
atuais. Curitiba fecha a turnê do Galpão pelo sul do país e recebe o grupo em
duas apresentações, nos dias 5 e 6 de outubro, sábado, às 21h e domingo, às
19h, no Guairinha. Nos dois dias haverá interpretação em libras. Os ingressos
custam R$ 30,00 e R$15,00 (meia) e estão à venda no site www.ticketfacil.com.br e na bilheteria do Teatro Guaíra. O Galpão
fará ainda um bate-papo com o público no dia 5 de outubro (sábado), às 10h, no
Ave Lola Espaço de Criação, com entrada franca. Pelo sul o grupo passou por
Canoas, Caxias do Sul, Blumenau e Florianópolis.
Alteridade
e poesia. Foi mergulhando nesses dois temas que diretor, atores e atrizes
começaram, na prática, o processo de criação de “Outros”, que nasce como uma
consequência natural do amadurecimento das dúvidas e inquietações
contemporâneas trabalhadas na montagem de “Nós” (2016). “’Outros’ é exatamente a expressão desse momento nosso. É um
desdobramento consciente do primeiro trabalho que fizemos juntos. É uma
experiência criativa que aprofunda a pesquisa numa escuta social performativa,
que se constitui dramaturgicamente valendo-se de percepções múltiplas do mundo
e de como ele age sobre nós”, explica o diretor.
Durante
o processo de pesquisa para a montagem, os atores e atrizes se debruçaram em
diversas leituras, chegando a aprofundar em alguns textos como “Frigorífico”,
do francês Joel Pommerat, e “Os Embebedados”, do russo Ivan Viripaev. As
leituras contribuíram para o direcionamento do trabalho e serviram de material,
junto com outros exercícios, para a criação da dramaturgia, elaborada em
conjunto por Marcio Abreu e os atores do Galpão, Eduardo Moreira e Paulo André.
O caminho levou a uma estrutura dramatúrgica que foi além da extensão da
palavra para conseguir expressar o que extrapola a fala, dando espaço e
importância a outras formas de linguagem, como o silêncio, por exemplo. O
resultado é uma peça tecida com os rastros de memória presentes não só no
discurso, mas nos corpos das atrizes e atores que ocupam a cena.
O
texto do espetáculo foi construído na sala de ensaio, a partir do material
levantado em exercícios e performances de rua, individuais e coletivas - que
trabalharam com questões de natureza privada no espaço público e vice-versa -
propostas pelo diretor e pelos próprios atores, que participaram anteriormente
de um laboratório sobre vivência de performance, ministrado pela atriz e
performer Eleonora Fabião. Na performance coletiva, a simbólica mesa de reunião
do Galpão saiu do espaço privado e foi passear pelo centro de Belo Horizonte
junto com os atores e atrizes, que convidavam as pessoas para sentar, dividir seu
tempo e história com eles. A normalidade do dia a dia da rua foi atravessada
pelos corpos dos atores que saíram do lugar de protagonista para dar destaque
ao público, buscando romper com o fluxo cotidiano da cidade. “É curioso pensar como esse trabalho nos
permitiu voltar a uma modalidade de teatro de rua tão particular e distinta da
que temos feito ao longo dos últimos vinte anos”, comenta Eduardo.
O
processo da escuta, de enxergar o outro, a cidade e entender como essas vozes,
corpos e imagens - na dimensão do espaço público - reverberam em nós, foi o fio
condutor desse trabalho. Essas experiências também foram traduzidas para a
música, composta pelos próprios atores, que executam ao vivo em cena. Nas
palavras do diretor, “Outros” descreve trajetórias entre o cheio e o vazio,
entre a insuficiência das palavras e a potência do silêncio, entre construção e
ruína, entre os tempos, passado, presente e futuro e que busca interligar o
artístico, o existencial e o político, reagindo à dureza e à violência desses
tempos nossos quando a ignorância usada como arma sustenta um fascismo
crescente e contra o qual precisamos lutar com as armas das linguagens, do
amor, do erotismo e da consciência.
SOBRE O GRUPO GALPÃO - Criado em 1982, em Belo Horizonte
(MG), o Grupo Galpão é uma das companhias mais importantes do cenário teatral
brasileiro, cuja origem está ligada à tradição do teatro popular e de rua.
Desde o início, o grupo desenvolve um trabalho que alia rigor, pesquisa e busca
de linguagem, com peças que possuem grande poder de comunicação com o público.
É um dos grupos brasileiros que mais viaja, não só pelo Brasil, como pelo
exterior, tendo participado de vários festivais em países da América Latina,
América do Norte e Europa. Formado por 12 atores, o Galpão construiu sua
linguagem artística a partir de encontros com diversos diretores, como Eid
Ribeiro, Gabriel Villela, Cacá Carvalho, Paulo José, Yara de Novaes, Marcio
Abreu, entre outros, criando um teatro que dialoga com o popular e o erudito, a
tradição e a contemporaneidade, o teatro de rua e de palco, o universal e o
regional brasileiro.
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