Bosques míticos, cidades em ruínas, calabouços infernais, praias de areias brancas, catedrais, cemitérios à beira mar, bunkers, sol da Galileia, jardins metafísicos… Nos contos reunidos em “Passagem do Aqueronte”, que será lançado nesta quinta-feira (22), às 20h, no Jokers (rua São Francisco, 164, Centro), o escritor, dramaturgo, diretor teatral e coordenador de teatro da Fundação Cultural de Curitiba, Clovis Severo Brudzinski, apresenta paisagens mentais que convidam ao passeio por universos oníricos e a reflexão sobre o que é essencial e transitório na vida.
Ao falar dos onze contos que beiram o surrealismo, Severo gosta de lembrar das referências e influências, presentes no livro, mas nem sempre de maneira direta. A linguagem musical marca seu universo criativo. “Escrevo ouvindo música, sempre”, revela o escritor, que vai buscar no ethereal wave de bandas como Dead Can Dance e Cocteau Twins e nas imagens do filmes de Luís Buñuel e Andrei Tarkovsky a fonte de sua inspiração. “Gosto de citar as referências por que dão um horizonte mental para quem lê”, afirma. Quanto à influência do teatro, em vez de citar nomes ele prefere dizer que é o tempo teatral o que influencia seus textos.
Severo graduou-se em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes do Paraná e especializou-se em Gestão Pública pela PUC-PR. Desde 2005, atua na Coordenação de Teatro da Fundação Cultural de Curitiba. É autor dos livros “Os Amores e Mortes de Gustavo Carbel” (2005) e “Líricas” (2008), ambos pelo selo independente Stultifera Navis. “Passagem do Aqueronte” (2012) será lançado pela Kafka Edições.
“É um livro mais maduro, com voz mais autoral, em que assumo um compromisso mais real com a forma”, diz Severo. As cartas de amor são os primeiros textos que ele lembra ter escrito. Severo tem muito presente as imagens do tempo de escola e do então professor de literatura, o escritor Paulo Venturelli. “Faço uma espécie de homenagem a ele no livro. Espero que ele perceba”, comenta o autor de Passagem do Aqueronte.
Embora a narrativa não tenha começo, meio e fim, não seja realista e tome a linguagem dos sonhos como inspiração, Severo avisa: “é um universo de sonho, mas não tem a ver com leveza. Fica mais entre o sonho e o pesadelo… Uma literatura pesada”. Com o vocábulo mitológico Aqueronte no título, não poderia ser diferente. O nome do rio localizado na região noroeste da Grécia pode ser traduzido como "rio do infortúnio". Acreditava-se que fosse um afluente do rio Styx, localizado no mundo dos mortos. E no Inferno de Dante, o rio Aqueronte é o que forma fronteira com o Inferno…
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