Um
projeto que se cria a partir do livro homônimo inédito de Manoel Carlos Karam,
que é mutante, colaborativo e envolvente. Esse é o “Mesmas Coisas”, que inicia
uma série de apresentações gratuitas em quatros espaços alternativos da cidade,
a partir do dia 10 de março, afim de compartilhar com o espectador experiências
e procedimentos usados durante todo o processo de criação, engajando diferentes
profissionais e múltiplas ações performativas. As apresentações se ramificam em
quatro espaços de Curitiba: Centro Cultural SESI Heitor Stockler de França,
Casa Hoffmann, Companhia Brasileira de Teatro e Apê da 13.
Para
além das apresentações, o projeto propõe encontros com o público num formato de
fronteiras borradas, onde cabe uma peça, uma serenata, uma performance, uma
exposição, um filme, tudo isso numa espécie de quebra cabeças, um puzzle, um
jogo sem fim entre os textos do Karam e as nossas obsessões ordinárias. A
idealizadora do projeto é a atriz, jornalista, produtora, cantora, escritora e
tudo mais Michelle Pucci. A ideia surgiu da monografia apresentada por Michelle
Pucci como requisito para a graduação em Letras pela Universidade Federal do
Paraná, em 2015. Na época, ela apresentou um trabalho sobre a literatura de
Karam e seus desdobramentos, procurando dentro da obra do escritor o seu
potencial cênico e as possibilidades de transposição da literatura ao palco. Na
defesa contou com a orientação da professora doutora e escritora Luci Collin e
colaboração de Nadja Naira.
Nadja
e Michelle já realizaram outros projetos a partir da obra do autor como a
leitura dramática de “Encrenca” (2007) que contou com a presença do próprio
Karam na plateia; o disco “Respiro”, contendo uma música com letra de Karam (“Roquenrol”);
uma crônica que mistura a voz de Michelle e do próprio Karam (“Inviável”) e a
peça “A Cidade Sem Mar” (2016) com produção da Companhia Brasileira de Teatro,
dentre outras. “Ali, eu decidi que não queria que meu TCC fosse um papel na
estante. Queria que ele fosse um projeto que saísse do papel para o palco. Eu queria
envolver todos os meus trabalhos. É um projeto sem fim”, contou Michelle. “O
projeto é multi como Karam. Ele trabalhou com teatro, com publicidade, com
literatura. Eu sou assim também e o projeto quer mostrar isso”.
Segundo
ela, os ensaios começaram em novembro, sempre com as portas abertas. É uma
relação horizontal com o público, onde ele influencia, onde ele ajuda,
contribui. Em cada ensaio aberto, cerca de 50 pessoas comparecem. “No começo a
gente tinha que chamar as pessoas, agora falta lugar”, disse ela. Várias
pessoas que conviveram com Karam também participam do projeto, como o
cartunista Solda e o iluminador Beto Bruel.
Obsessões
que viram mais que arte
Das
discussões em sala de ensaio a equipe identifica algumas das obsessões do
escritor e se concentra em algumas questões: quais as nossas obsessões? Quais
os nossos medos? Jogar alguma coisa na lata de lixo? Encontrar a palavra exata,
a imagem exata, a descrição exata? Procurar verbetes no dicionário? Fazer
aviõezinhos de papel, bolinhas de papel? Medos e obsessões viraram farras. E
quais farras gostamos defarrear juntos?
As
ações do projeto “Mesmas Coisas” iniciaram-se em novembro de 2016, na Casa de
Leitura Manoel Carlos Karam mantida pela Fundação Cultural de Curitiba no
Parque Barigui. Um flash mob de leitura proposto por Valêncio Xavier na orelha
do livro “Comendo Bolacha Maria no Dia de São Nunca”. “Em janeiro de 2017,
foram espalhados pela cidade lambe-lambes, colagens criadas pelo arquiteto Luca
Fischer, que também assina a identidade visual do projeto.
Também
a decisão de abrir os ensaios da peça para o público. "Quisemos abrir,
escancarar a sala de ensaio, a peça, as portas. Ao invés de apresentar um
resultado pronto depois de meses, achamos que seria mais karaniano expor a
obsessão do processo, as experiências", afirma Michelle Pucci. "Nós
oferecemos algumas cenas que surgem ao público que generosamente nos oferece um
olhar diferente, que serve de material para outras cenas, numa ação circular
sem fim", completa a diretora Nadja Naira.
Em
fevereiro um filme começou a ser rodado, dirigido por Alan Raffo com Michelle
Pucci, Marc Olaf, Edson Rocha, Muhammad Chab e Luca Fischer no elenco.
"Karam era obcecado por cinema e por fazer roteiros de filmes, e nos
escritos inéditos das "Mesmas Coisas" há várias sugestões de
roteiros. Aceitamos como desafio e decidimos experimentar transformar em
filme", diz a diretora Nadja Naira.
O
cancelamento da Oficina de Música e a verba reduzida para o Carnaval de rua de
Curitiba provocou e inspirou a equipe a fazer músicas e com elas serenatas
pelas ruas da cidade. Cantora e pianista foram vistos, em fevereiro, na
carroceria de um caminhão de mudanças. Verdade ou ficção? E as farras não
acabam por aí.
O
projeto tem uma série de apresentações marcadas em diferentes espaços na
cidade, propositalmente, é claro. A busca por espaços culturais alternativos,
ou até mesmo a rua, para as ações e intervenções, é um dado fundador do
projeto. Karam não era convencional ou tradicional, era experimental. O autor
morou durante anos na Rua São Francisco no centro de Curitiba, transitava
frequentemente pelo Largo da Ordem, era um transeunte, uma pessoa que ocupava o
espaço público. Circulava livremente entre meios e linguagens, formas e
espaços.
Site
será lançado neste mês
Também
em março, acontece o lançamento do site do projeto (www.mesmascoisas.art.br).
Um espaço destinado à documentação do processo e às memórias sobre o autor.
Luci Collin, escritora e professora doutora na UFPR, além de participar do
projeto como testemunha ocular da história, vivenciando ensaios e interagindo
com textos criados em tempo real, colabora ativamente na composição do conteúdo
do site. Esse projeto tem incentivo da Fundação Cultural de Curitiba e Banco do
Brasil, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. O projeto “Mesmas
Coisas” está desenvolvendo diversas ações a partir da obra que o inspira, como
um livro ainda inédito de Manoel Carlos Karam intitulado “Mesmas Coisas”.
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