A mostra Nomos, da artista visual Laura Miranda, que teve sua abertura realizada
em dezembro de 2017 no Museu Oscar Niemeyer (MON), tem visitas prorrogadas até
29 de abril de 2018. Com curadoria de Kátia Canton, a exposição segue na sala 8
do MON.
No
dia 8 de março, às 18h no Mini Auditório do MON, haverá o lançamento do
catálogo da Mostra, com distribuição gratuita ao público. Será realizada, como
parte do evento, uma mesa redonda com a participação da curadora Kátia Canton,
o crítico de arte Paulo Reis e a presença das artistas Laura Miranda e Mônica
Infante. A entrada do evento é franca.
A
mostra Nomos apresenta dois projetos recentes da artista, Líquens 2014/2015 e
Estrela Canina 2016/2017, realizados na Área de Proteção Ambiental do Passaúna,
região metropolitana de Curitiba. A exposição, composta por 64 obras entre
desenhos e objetos conta também com dois vídeos de performance com a
participação da artista Mônica Infante. A escolha do termo Nomos para designar
esta exposição refere-se a um caminho numa ampla extensão em torno do espaço
urbano. O trabalho é construído por meio de processos que consideram as
especificidades do território e resulta do embate entre sujeito e mundo – corpo
e lugar.
O
Projeto Liquens se iniciou por uma série de experiências durante viagens a
Índia, em que foi realizado um mapeamento das comunidades têxteis na península
e deserto de Kutch. A itinerância por tantos lugares, o convívio com o trabalho
familiar e o contato com as técnicas tradicionais de tingimento tornaram-se uma
importante fonte de criação.
A
somatória destas significações aponta para percursos a céu aberto em que a
percepção do espaço surge na relação com amplitude e velocidade.
Ao
escolher um local se decidiu por um riacho, de difícil acesso, em meio à mata,
espaço formado por um pequeno vale. Foi a partir da imersão neste meio e da
documentação de samambaias e liquens que se desenvolveu um argumento conceitual
e uma paisagem cênica para o trabalho, tomando as direções fornecidas pelo
sítio.
Na
performance as artistas Laura Miranda e Mônica Infante, mergulhadas na água,
são contornadas pelo escoamento no córrego dos elementos: leite, índigo e ouro
em pó. Forma-se uma tríade com as variações dos corpos, movimentos e
velocidades em devir: animal, vegetal e mineral.
Na
produção plástica Laura Miranda cria três séries de desenhos sobre papel e
corte a laser em camadas sobrepostas, reverberando as cores que tingiram as
águas de branco, azul e dourado.
Liquens
aborda as relações simbióticas de proteção e nutrição que mantém a
sobrevivência das espécies e propõe uma ética, a de olhar a existência
desenhada através do outro.
O
projeto Estrela Canina parte da referência a cães abandonados nas bordas da
represa do Passaúna em situação de extrema vulnerabilidade e, consequentemente,
apresentando risco para o equilíbrio do ecossistema.
Dois
cães, resgatados pela artista e batizados como Estrela e Nirvana tornaram-se
protagonistas do processo de criação que deu origem a produção plástica.
O
convívio afetivo no local onde foram abrigados, documentado em fotografia e
vídeo com percursos no local; observações do comportamento (respostas de
sobrevivência, sociabilidade e relação territorial) e do movimento corporal dos
cães; anotações sobre percepções espaciais, sensações corporais e ações caninas
formaram a base do processo de criação.
Além
disso, foi realizado, semanalmente, um laboratório de criação de movimento. Das
imersões corporais guiadas por práticas somáticas surge a imagem do mito do cão
de duas cabeças e cauda em forma de serpente cujo nome é Ortros. Ao ser morto
por Hércules, este cão se transforma na estrela Sirius localizada na
Constelação Cão Maior.
Cerca
de um ano depois o cão Estrela morre em decorrência de disputas por território.
A soma destes eventos deu origem ao nome do projeto.
A
produção plástica resultante deste processo se divide em séries de desenhos e
objetos. Baseados em imagens ampliadas da pele e dos pelos dos cães, os desenhos
são posteriormente recortados e entrelaçados. Em outra série contornos
ampliados da silhueta materializam sombras negras e espessas. Os objetos
produzidos em linho, seda e cristais compõem uma instalação e fazem referência
à constelação Cão Maior.
A
linguagem da performance é criada a partir da conexão em níveis profundos com a
vida animal a partir da ativação de camadas profundas do cérebro humano
responsáveis não só pela sobrevivência mas também pela capacidade de
engajamento social. Funções essas que compartilhamos com o cérebro dos animais.
Estrela
Canina apresenta, a partir de um mergulho no próprio corpo das artistas, um
processo expandido de conexão com potências primitivas e um transbordamento em
direção à outras formas de vida.
Este
projeto foi realizado por meio do Programa de Fomento e Incentivo a Cultura da
Secretaria Estadual da Cultura e patrocínio da COPEL.
A
ARTISTA - Laura Miranda é graduada em artes visuais (1978 a 1981) e
pós-graduada em História da arte do Século XX (1999), pela Escola de Música e
Belas Artes do Paraná (EMBAP) em Curitiba. Realizou cursos de extensão (1991),
na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no Rio de janeiro. Também é formada
em Experiência Somática (2013 a 2015), prática corporal baseada nas psicologias
somáticas, na etologia e na neurociência.
Atua
como artista visual e performer desde a década de 1980. Foi professora da Embap
de 1998 a 2000. Participou como diretora cultural da Associação Profissional de
Artistas Plásticos do Paraná, de 1987 a 1989. Desde a década de 1990 trabalha
como figurinista e cenógrafa. Integrou a Tempo Companhia de Dança dirigida por
Rocio Infante nos anos de 1990 e desde 1998 trabalha com a artista da dança
Mônica Infante, com realização de projetos e pesquisas na área da Performance.
Criou
juntamente com Denise Bandeira e Juliane Fuganti em 2001, o Grão Atelier em
Curitiba para promover cursos, palestras e oficinas de criação. Realizou
projetos que possibilitam a conexão entre artes visuais e arte têxtil, com visitas
a instituições e comunidades na Índia, Japão e Canadá.
Participou
de exposições, residências artísticas e eventos culturais no Brasil, Canadá,
Espanha, Portugal, Índia e Japão. Atualmente suas pesquisas relacionam corpo e
meio ambiente e incluem práticas como a Educação Somática (Técnica Alexander),
Experiência Somática (Peter Levine) e Ki Aikidô (arte marcial japonesa).
Mais
informações: 3350-4400 ou www.museuoscarniemeyer.org.br.
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