Nome fundamental para a indústria fonográfica
brasileira, André Midani esteve em Curitiba no último fim de semana para um
bate-papo na Capela Santa Maria, como parte da 36ª edição da Oficina de Música
de Curitiba. Aos 87 anos, o “midas” da música nacional, responsável por lançar
João Gilberto, Elis Regina, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Raul Seixas, entre
outros, falou sobre sua primeira visita à Curitiba, a relação que mantém com a
música e os novos movimentos musicais no Brasil.
“A falha de nunca ter vindo para cá é
totalmente minha. Este evento, a Oficina, é algo que o Brasil inteiro deveria
conhecer, é maravilhoso”, disse Midani, que nasceu Síria e chegou ao Brasil em
1955. Até a década de 1990, Midani esteve à frente das principais gravadoras do
país, como Companhia Brasileira de Discos, filial da Philips, Phonogram,
Polygram e Warner.
Suas histórias são saborosas. Midani gosta de
dizer que “nunca descobriu” os artistas com os quais já trabalhou “porque eles
já estavam lá”. Nos anos 1960, o empresário recebeu um desafio de seus patrões
da Polygram-Europa: fazer com que em três anos o selo desse lucro no Brasil.
Para isso, catalogou 150 artistas e “ouviu tudo em um mês, sem nem ter tempo de
ir ao banheiro”. Destes, selecionou 50, levando em consideração critérios
“lógicos” como qualidade musical, empatia e força de trabalho.
FIM DE UMA ERA? - Com a popularização dos
streamings e a independência autoral proporcionada pela internet e pelas novas
tecnologias, a figura do empresário musical é colocada em xeque.
“Sinceramente, não sei se a música ainda
precisa dessas pessoas. Há sinas de que sim, e outros de que não. Hoje um
músico de 15 anos já faz sucesso sozinho, estamos no meio dessa loucura”,
explicou. “O desaparecimento das companhias de disco e dos empresários pertence
ao passado. Haverá outras manifestações profissionais mais adaptadas a esses
novos tempos”.
Responsável também por lançar Kid Abelha, Barão
Vermelho, Titãs, Ultraje a Rigor e Arnaldo Antunes – “o maior poeta de sua
geração” –, além do cubano Céspedes, do argentino Fito Paez e do mexicano Luis
Miguel, Midani vê com bons olhos os recentes movimentos musicais brasileiros,
como o sertanejo universitário e o funk.
RESPONSABILIDADE CULTURAL - “É muito bom saber
que a juventude tem uma música para dialogar. Esse mundo do sertanejo, por
exemplo, é muito rico. E por isso é necessário alguém para fazer com que estes
músicos acordem para a responsabilidade cultural que têm. Eu já tenho 87, não
farei isso”, brinca Midani, que em 2008 lançou seu livro de memórias, “Do Vinil
ao Download”.
Depois de uma vida inteira dedicada à música
brasileira, Midani “deslocou sua sensibilidade musical” e hoje prefere ouvir
sonatas de Schubert, Debussy e Beethoven em casa, seja em programas de
streaming ou no toca-discos. E as dicas que dá para novos artistas? “Trabalhe,
trabalhe, trabalhe, trabalhe. Movido a paixão ou ódio. Mas trabalhe”.
O bate-papo teve a participação de estudantes
da Oficina de Música, da presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Ana
Cristina de Castro, e do presidente do Instituto Curitiba de Arte e Cultura
(Icac), Marino Galvão Júnior.
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