A sala de casa lotada de documentos, a
seriedade com a qual levava o seu trabalho e a generosidade com os artistas são
algumas das lembranças recorrentes de quem conviveu com a crítica de arte,
professora, pesquisadora, historiadora e poeta Adalice Araújo (1931-2012),
considerada o principal nome na análise da arte paranaense. Em homenagem à sua
trajetória, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) e a Secretaria de
Estado da Cultura apresentam a exposição “História sem fim: o pensamento
revolucionário de Adalice Araújo”, que será inaugurada neste sábado (30), às 11
horas, no hall da secretaria.
Com a mostra, que tem curadoria da diretora do
MAC-PR, Ana Rocha, e pesquisa do Setor de Pesquisa e Documentação, o museu
inicia as celebrações aos seus 50 anos, comemorados em março de 2020. A
instituição lança ainda a sua nova logo, outra ação comemorativa rumo ao seu
meio século de arte.
A exposição também encerra a programação do Mês
das Mulheres promovida pela secretaria ao longo de março, com atrações que
reforçaram a importância e o talento de artistas mulheres em diferentes
segmentos artísticos.
O evento marcará também a abertura da sala
homônima à crítica de arte, administrada pelo MAC-PR e pela Coordenação do
Sistema Estadual de Museus (Cosem). A Sala Adalice Araújo, na Secretaria da
Cultura, será dedicada exclusivamente a artistas paranaenses.
MOSTRA - “História sem fim: o pensamento
revolucionário de Adalice Araújo” retrata parte da trajetória da artista e
pesquisadora, apresentando o seu trabalho crítico jornalístico, iniciado em
1969, no Diário do Paraná, com a coluna Artes Visuais - publicada também em
parte dos anos 1970 e 1990 na Gazeta do Povo, por meio de obras de mulheres
artistas que estão no acervo do MAC-PR, e sobre as quais Adalice escreveu. São
elas: Eliane Prolik, Guita Soifer, Dulce Osinski, Juliane Fuganti, Leila
Pugnaloni, Letícia Marquez e Ida Hannemann de Campos, falecida no começo de
março.
Cronologia, fotografias de Adalice, sua atuação
como diretora do MAC-PR (entre 1987 e 1988), um compilado de suas críticas em
jornais, publicadas entre 1968 e 1994, e informações sobre a elaboração de sua
obra máxima, o “Dicionário das Artes Plásticas do Paraná”, também farão parte
da mostra.
Os visitantes poderão entender ainda mais o
universo de Adalice na Praça de Leitura, espaço no hall da Secretaria da
Cultura que terá vários textos impressos para que os espectadores possam fazer
as leituras tranquilamente. A curadora Ana Rocha também fez questão de incluir
textos de Adalice sobre outros temas, como literatura, patrimônio e
arquitetura. “A ideia é mostrar a amplitude de sua atuação como crítica”,
salienta.
DESCENTRALIZAÇÃO DA ARTE - Ana Rocha destaca
que Adalice fez um “esforço hercúleo” para descentralizar a produção artística -
crítica valorizou e deu espaço aos artistas que, em alguma medida, se sentiam
excluídos por estarem fora do eixo Rio-São Paulo. Esse papel também é
relembrado por Juliane Fuganti. “A gente deve muito a ela como uma
incentivadora ao Paraná”, disse artista.
Juliane conheceu Adalice cedo, logo na primeira
exposição que realizou, aos 19 anos. Começou a estudar gravura, ganhou prêmios
no Salão Paranaense, do qual Adalice era jurada, e foi incentivada por ela a
buscar formação na Belas Artes. Juliana havia estudado Economia. “Ela sempre
via o que você tinha de bom. Fazia uma crítica construtiva aos artistas”, diz
Juliane, que também se impressionava com a documentação que a crítica mantinha
em seu apartamento. “Era um setor de pesquisa melhor do que muitos lugares, a
sala inteira era tomada por arquivos”.
A artista Leila Pugnaloni rememora que, no
início dos anos 1980, a expectativa máxima dos artistas no Paraná era ter um
texto escrito por Adalice sobre a sua obra. “Ela era a pessoa que fazia as melhores
análises. Quando ela ia a uma exposição, eu e os outros artistas ficávamos na
expectativa”.
VIDA E OBRA - Nascida em Ponta Grossa em uma
família de ervateiros, Adalice Araújo iniciou a sua formação artística nos anos
1950, no curso superior de Pintura da Escola de Música e Belas Artes do Paraná
(Embap). Logo na sequência, seguiu para uma especialização na Itália. De volta
ao Brasil, criou e presidiu o Círculo de Artes Plásticas do Paraná, com ateliê
coletivo no subsolo da Biblioteca Pública do Paraná, onde começaram artistas
como Helena Wong e Antonio Arney.
Na década seguinte, estudou outras técnicas,
como Gravura, Xilogravura, Desenho e Crítica Teatral. Em 1969, iniciou sua
carreira jornalística no Diário do Paraná com a coluna Artes Visuais, também
publicada no jornal Gazeta do Povo entre 1974-1976 e 1978-1994. Em 1971, passou
a integrar a Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).
Foi professora no Departamento de Filosofia,
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Dirigiu o MAC-PR entre 1987 e 1988 e desenvolveu projeto de
descentralização do 44º Salão Paranaense. Em 2003, recebeu o Prêmio Mário de
Andrade da ABCA e, em 2006, publicou o Volume 1 do Dicionário das Artes
Plásticas do Paraná (verbetes de A e C) - o segundo, de D a K, foi publicado
postumamente. Faleceu em 8 de outubro de 2012, em Curitiba.
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