No palco uma atriz e um músico, imagens
projetadas em uma tela e uma composição sobre o universo feminino, com uma
narrativa que aborda personagens míticos. Assim é “Solo”, a pocket ópera de
Jocy de Oliveira, que estreou em Brasília em 2007 e foi apresentada com sucesso
em Berlim, Salzburg, Rio de Janeiro e Campos do Jordão. Agora será a vez de
Curitiba receber a ópera, em uma montagem especial na Capela Santa Maria, neste
final de semana, dentro do projeto “Ópera Ilustrada”, da Fundação Cultural de
Curitiba.
A apresentação desta ópera não é por si
algo comum, mas há um ingrediente a mais nesta montagem. Jocy de Oliveira é
curitibana e não se apresenta na sua cidade natal desde 1971. Nunca teve em
Curitiba uma ópera montada e mesmo quando lançou discos importantes como
pianista, o fez em outros centros. A artista confessa que possui uma certa
mágoa dos gestores culturais de Curitiba por este lapso em sua carreira, que é
repleta de realizações e encontros importantes. “Jocy é pioneira e sua arte é
uma referência em música contemporânea. Eu sinto-me absolutamente honrado por
trazê-la a Curitiba para, enfim, apresentar aqui uma ópera dentro da sua
linguagem contemporânea e que traz grandes artistas como a cantora Gabriela
Geluda e o oboista Ricardo Rodrigues”, diz o produtor Alvaro Collaço, que
enfatiza. “Esta é uma montagem histórica em Curitiba”.
“Solo” é ópera concebida por cenas
inéditas com a soprano/atriz Gabriela Geluda ao vivo e em vídeo uma releitura
de segmentos das óperas multimídias de Jocy de Oliveira. O roteiro não possui
uma narrativa linear e permeia entre personagens míticas (La Loba , Medea, a Diva),
recriando o imaginário feminino e construindo através de imagens e mitos um
espetáculo plástico e sonoro. “Algumas peças têm como ponto de partida melodias
renascentistas e medievais, reconstruídas numa abordagem contemporânea em busca
de universo atemporal”, escreveu Jocy de Oliveira no texto do programa. “Solo”
tem, ainda, uma participação especial: em telão surge a atriz Fernanda
Montenegro, que interpreta numa gravação única e marcante a personagem de uma
“Diva”.
Reconhecimento internacional -
Curitibana de nascimento, Jocy de Oliveira recorda-se de ter tocado na cidade
em programações da Sociedade Scabi, Clube Curitibano e Thalia, isso nos anos
40. Ela é um dos símbolos da música contemporânea no país, pioneira no
desenvolvimento de um trabalho multimídia no Brasil, envolvendo música, teatro,
instalações, textos e vídeo. É a primeira entre os compositores nacionais a
compor e dirigir suas óperas. Compôs, roteirizou e dirigiu 11 espetáculo
cênicos, sendo 8 óperas, apresentadas em diferentes países. Membro da Academia
Brasileira de Música, recebeu vários prêmios como Guggenheim Foundation (2005),
Rockfeller Foundation (1983-2007), Bogliasco Foundation, CAPS, do New York
Council on the Arts, Fundação Vitae e RioArte, entre outros.
Em 2008, lançou um box com 4 DVDs
compilando 6 óperas, com distribuição internacional pela Naxos. Foi solista sob
a regência de Ígor Stravinsky e apresentou várias primeiras audições de
compositores que a ela dedicaram obras, como Iánnis Xenakis, Luciano Berio,
Cláudio Santoro e John Cage. Como pianista e compositora gravou 22 discos,
entre os quais a obra pianística de Olivier Messiaen, gravado nos Estados
Unidos. Autora de 5 livros publicados no Brasil e nos Estados Unidos. Seu
quinto livro, "Diálogo com Cartas" traz fac-similes de cartas com
Stravisnky, Luciano Berio e John Cage, entre outros.
Gabriela Geluda e Ricardo Rodrigues -
Gabriela Geluda é formada em
Canto Lírico pela Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), pós-graduada
em Música Antiga
pela “Guildhall School of Music and Drama” (Londres) e formada na Técnica
Alexander pelo “Alexander Technique Studio” (Londres). No Reino Unido, foi
vencedora do “Portallion Chamber Music Prize” (Londres 1998). Integrou a
“Mercurius Company” (Londres) e gravou a primeira ópera sul-americana, “La Púrpura de la Rosa ”, com o Harp Consort, pela
Deutsche Grammophon. Desde 1994 vem trabalhando regularmente com a compositora
Jocy de Oliveira, como soprano solo em suas óperas (“Illud Tempus”, “As
Malibrans”, “Canto e Raga”, “Estórias”, “Solo”, “Revisitando Stravinsky” e
“Berio sem censura”). É afiliada à Associação Brasileira da Técnica Alexander
ABTA. Desde 2009 integra o corpo docente da Pós Graduação em Preparador Corporal " da Faculdade Angel
Ricardo Rodrigues nasceu em Nova Friburgo , Rio
de Janeiro. Recebeu suas primeiras aulas de música aos sete anos com José
Cocarelli. Continuou seus estudos com Ingo Goritzki, Heinz Hollinger, Georg
Meerwein, e através de master class, com Jochen Müller-Brincken. Um foco
especial é o seu trabalho com a compositora Jocy de Oliveira. De 1991 a 1993, Ricardo Rodrigues
foi professor na Universidade de Música de Würzburg e produziu um CD de obras
de compositores da Universidade. Desde 1994 é professor de oboé na Academia de
Música Hanns Eisler de Berlim.
A apresentação de “Solo” é uma
realização de Alvaro Collaço Produções, com apoio do Restaurante Alberto
Massuda. As apresentações ocorrem nos dias 21 e 22 de setembro, sábado às 20
horas e domingo às 18h30. Ingressos podem ser adquiridos na bilheteria da
Capela Santa Maria (rua Conselheiro Laurindo, 273), a R$ 30,00 (inteira) e R$
15,00 (meia). Mais informações: 3321-2840.
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