As três obras do escultor paranaense
João Turin (1878-1949), que pertencem ao município de Curitiba, devem retornar
aos seus lugares de origem em novembro deste ano. A estátua de Tiradentes no
marco zero da cidade, a peça Luar do Sertão na rotatória ao lado da sede da
Prefeitura e a águia que faz companhia a Rui Barbosa na Praça Santos Andrade
estão sendo restauradas pelo Atelier João Turin com o acompanhamento da
Fundação Cultural de Curitiba.
Após a retirada da escultura de
Tiradentes, em julho deste ano, foi encontrada uma garrafa com manuscrito
datado de 25 de janeiro de 1932 que relata a mudança de posição do monumento e
revela existência de uma nova cápsula do tempo sob o pedestal do monumento na
Praça Tiradentes. O documento revela que a segunda garrafa conteria uma edição
do jornal O Dia, assinaturas e moedas de cobre e níquel. Na oportunidade o
prefeito Gustavo Fruet autorizou a busca pela segunda garrafa, mas após estudos
de viabilidade a Prefeitura de Curitiba optou por deixar intacto o local onde
foi deixado o artefato.
Para o diretor de Patrimônio da
Fundação Cultural, Mauro Tietz, como o conteúdo da segunda cápsula já é de
domínio público o resgate foi descartado. “Além dos custos, a operação poderia
trazer prejuízo ao patrimônio histórico da cidade. O pedestal foi construído
com uma técnica de encaixe que já não existe mais e um procedimento delicado
como este poderia ser um risco”, alerta Mauro.
Preservação - A restauração das três
peças faz parte de um projeto maior, que envolve todo o acervo de João Turin,
reconhecido como um dos maiores artistas paranaenses. A Fundação Cultural de
Curitiba acompanha o trabalho desde a retirada das obras que integram o
patrimônio do Município até a restauração e devolução aos locais originais.
Os trabalhos de restauração e confecção
de moldes foram iniciados no Atelier João Turin, há cerca de dois anos, depois
que os direitos sobre o acervo do escultor foram comprados pelo colecionador
curitibano Samuel Ferrari Lago. Foi realizado um levantamento do acervo e, após
negociações entre a família Lago, o poder público e descendentes de Turin o
projeto foi viabilizado. Maurício Appel, gestor do acervo, diz que é a primeira
vez que uma restauração ponta-a-ponta da obra de um artista é realizada no
Brasil. O trabalho, conta, chamou a atenção até do Ministério da Cultura, que
está acompanhando o processo, pelo interesse museológico.
Complexidade – Atualmente estão sendo
trabalhadas as peças maiores, que também são mais complexas. Cada estátua leva,
em média, um mês para ser restaurada e ter seu molde retirado.
A onça de Luar do Sertão, por exemplo,
exposta ao ar livre desde 1969, estava a ponto de perder a cauda. A águia, na
praça desde 1936, também estava “bastante agredida”, segundo Appel. “O mais
interessante é que percebemos que as pessoas se preocuparam com as obras depois
que as retiramos. Isso mostra que elas gostam das esculturas, consideram que os
bens também são delas”, ressalta Appel. Ele prevê que a estátua de Tiradentes
também deve dar trabalho, pois está desde 1938 exposta ao tempo.
Os moldes que estão sendo feitos
permitirão que essas e outras obras de Turin sejam multiplicadas. Normas do
mercado preveem um limite de 12 reproduções de cada trabalho, que ainda assim
continuam sendo consideradas obras originais. Appel relata que o escultor tinha
dificuldade para reproduzir suas obras, devido à pouca estrutura da fundição
artística em Curitiba na época. Assim, grande parte das obras ainda é única.
Mostra - As obras deverão ser expostas
em Curitiba, no ano que vem. Mais cinco capitais brasileiras devem receber a
mostra, bem como Bruxelas - onde Turin estudou, na Real Academia de Belas Artes
- e Nova York. Também há a possibilidade de a exposição seguir para Paris, onde
o artista viveu entre 1911 e 1922.
As novas reproduções também poderão ser
comercializadas ou expostas em mais locais . A prioridade, ressalta Appel, será
para museus ou outros espaços abertos ao público. Apesar de os direitos de
propriedade das obras pertencerem à família Lago, os direitos autorais
continuam sendo da família de Turin. Foi Appel quem mediou as conversas entre
as duas famílias para que o projeto pudesse sair do papel.
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