A Sociedade 13 de Maio abriga a
temporada da peça “Macumba: Uma Gira Sobre
Poder”, ponto máximo e encerramento do Projeto Macumba, com o qual a
Companhia Transitória conquistou a Bolsa Funarte de Fomento aos Artistas e
Produtores Negros de 2014. Trata-se de
um projeto multiáreas, que combina a pesquisa e o texto teatral à música e
artes visuais e que busca resgatar, fortalecer e disseminar a ancestralidade e
a ritualidade africanas. A temporada segue até dia 4 de agosto.
A Transitória conta nesta empreitada
com a parceria do Núcleo Afro-Brasileiro de Teatro de Alagoinhas, o NATA, que
‘emprestou’ sua fundadora, a diretora, dramaturga, educadora e pesquisadora da
cultura africana no Brasil, Fernanda Julia, para ajudar a levantar a proposta,
cuja temática vem sendo pesquisada e desenvolvida ao longo dos últimos dois
anos pela companhia curitibana. Nome forte da nova dramaturgia brasileira,
Fernanda traz no currículo trabalhos com Lazaro Ramos e Greice Passô e já
esteve em Curitiba na Mostra Baiana, no Fringe do Festival de Teatro de
Curitiba. Ela assina a dramaturgia e a direção do espetáculo.
Fernanda e seu assistente, Dominique
Faislon, estão morando em Curitiba desde abril passado para participar de
maneira orgânica da criação da peça e do projeto, que são permeados por ações
afirmativas e com a intenção de ir além do público tradicional do teatro.
Fernanda conta que quando a Transitória a convidou para a empreitada, ela viu a
oportunidade de dialogar com um elenco interessado em mergulhar no encontro
entre Candomblé e Teatro e fortalecer seu contato com a ancestralidade
africana.
“Percebi a possibilidade de ampliar as discussões acerca da
ancestralidade negra e do Candomblé como ponto de partida para a formação e a
criação cênica”, pondera a diretora. É estimulante, diz ela, pois discutir
estas questões num espaço onde a negritude busca fortalecer-se e que tem muitos
desafios a serem superados está permitindo a construção de um espetáculo
provocador. “Curitiba também é um espaço emblemático por ainda existir um
desejo de ser a capital europeia do país e uma certa tendência em não levar em
consideração os 22% de negras e negros que aqui habitam e a contribuição de
seus antepassados”, comenta Fernanda, acrescentando que “aceitar este convite
me mostrou mais um caminho no fortalecimento da minha identidade cultural,
artística e espiritual”.
Para a equipe da Companhia Transitória,
que existe desde 2007, a experiência está sendo igualmente intensa. Thiago
Inácio, um dos fundadores do grupo, artista contemplado com a Bolsa da Funarte
e que faz parte do elenco, diz que participar desta empreitada vai muito além
da criação artística. "São reverberações que jamais poderia imaginar que
sentiria como artista. Não é apenas uma peça de teatro. É um posicionamento de
vida", pontua.
É um espetáculo de desafios, acrescenta
Clarissa Oliveira, diretora de produção da Transitória e do projeto, no qual
toca vários dos instrumentos da trilha sonora ao vivo. Foi um processo desafiador e intrigante, comenta
ela, que acabou ligando artística e sensorialmente todos os envolvidos. A
direção de produção virou banda, o diretor executivo virou diretor musical, o
assistente de produção virou cenógrafo e de repente todos estavam entregues de
alma, corpo e coração a este processo.
“Todos fomos afetados, influenciados, mexidos com o que veio à tona. A
ancestralidade latente, o retorno às raízes, fortalecimento de nossas fés”,
assegura ela. “Tocar nesse espetáculo é como tocar aos orixás. É celebrar a
vida e estar a serviço da ancestralidade. Tive a oportunidade de me reconectar
à música que tinha deixado em segundo plano, tive contato com novos
instrumentos e voltei aos antigos. Nada é por acaso, a musicalidade de
“Macumba: Uma Gira Sobre Poder” está viva em meus poros”, finaliza ela, bem no
tom visceral que envolve e é visível em todo o processo de criação e o será
também em “Macumba: Uma Gira sobre Poder”.
A peça “Macumba: Uma Gira Sobre Poder”
é encenada às terças, quartas e quintas-feiras, às 20h, na Sociedade 13 de Maio
(Rua Clotário Portugal, 274, São Francisco) e os ingressos custam R$ 20,00 e
R$10,00 (meia). Vendas online: http://www.sympla.com.br/Macumba. Mais informações:
projetomacumbactba@gmail.com ou pelo whatsapp: (41)9825-9022.
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