Quem perdeu as apresentações do novo projeto da
companhia brasileira de teatro, “Preto”, que esteve em cartaz durante dois dias
no Festival de Curitiba deste ano, terá nova chance. Desta vez, a peça volta
para uma temporada mais longa, de 2 a 12 de agosto, de quinta a domingo, no
Teatro José Maria Santos.
“Preto” já fez temporadas bem-sucedidas em São
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, além de ser apresentado em Berlim,
Frankfurt e Dresden, na Alemanha, e em Paris, na França. Dirigida por Marcio
Abreu, a peça mergulha na investigação e na reflexão em torno das diferenças. A
dramaturgia é assinada por Marcio Abreu em parceria com Grace Passô e Nadja
Naira.
“’Preto’ nasceu como desdobramento da nossa
peça anterior, ‘Projeto Brasil’ (2015), também patrocinada pela Petrobras.
Tanto uma quanto a outra não se constroem em cima de temas. ‘Projeto Brasil’
não é uma peça sobre o país, assim como “Preto” não é uma peça exatamente sobre
racismo. É uma peça criada a partir de perspectivas de pensar a coexistência, a
afirmação das diferenças”, explica Marcio Abreu. "É uma obra sobre ela
mesma, que se articula com autonomia promovendo possibilidades de leitura,
fazendo emergir um leque de assuntos e temas diversos. Diante do que transforma
o mundo, eu respondo artisticamente", diz o diretor.
A montagem se articula a partir da fala pública
de uma mulher negra, uma espécie de conferência sobre questões que incluem
racismo, a realidade do negro e da negra no Brasil hoje, o afeto e o diálogo, a
maneira como lidamos com as diferenças e como cada um se vê numa sociedade
marcada pela desigualdade. A peça é composta por uma série de tentativas de
diálogos encenadas por Cássia Damasceno, Felipe Soares, Grace Passô, Nadja
Naira, Renata Sorrah (em sua terceira peça com a companhia) e Rafael Lucas
Bacelar. O músico Felipe Storino executa a trilha sonora ao vivo.
DRAMATURGIA - A dramaturgia começou a ser montada
em 2015, durante as diversas residências artísticas realizadas em cidades no
Brasil e na Alemanha. Entre as referências básicas que alimentaram o processo
de criação estão a obra de Joaquim Nabuco, intelectual e político abolicionista
brasileiro que viveu no século XIX entre o Brasil e a Europa; o livro
contemporâneo “A Crítica da Razão Negra”, do professor e cientista político
camaronês Achille Mbembe, os escritos de Frantz Fanon, a literatura de Ana
Maria Gonçalves e a da poeta e professora Leda Maria Martins, entre outros
pensadores.
“Elaboramos a dramaturgia ao longo dos ensaios.
É resultado de uma série de conversas e estudos sobre temas que rodeiam essa
peça”, conta Grace Passô. “A gente ensaiava, abria os ensaios para o público
acompanhar e conviver com a gente dentro da sala de ensaio e conversávamos com
esse público tentando entender outras perspectivas daquilo que estava sendo
criando ali”.
“Preto”, além de promover essa investigação a
respeito da rejeição das diferenças na sociedade - numa tentativa de expandir,
pelo viés da arte,as percepções sobre o outro e sobre os espaços de convivência
- ainda aprofunda a reflexão sobre a imagem social, repensando como a sociedade
se comporta e dá poder a essa imagem. Questionamentos do tipo “como eu me
vejo?” ou “como o outro me vê?” acompanham o espetáculo.
O mote é esse: como reagir artisticamente
diante da pluralidade cultural, política, étnica e racial?
Indicada para maiores de 14 anos, a peça “Preto”
será encenada no Teatro José Maria Santos (rua Treze de Maio, 655) de quinta a
sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Os ingressos custam R$ 40,00 e R$ 20,00
(meia, conforme legislação) e podem ser comprados antecipadamente na bilheteria
central do Teatro Guaira ou no local, apenas uma hora antes das apresentações.
Mais informações: 3322-7150 ou 3324-8208.
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