O
que nos torna humanos? Para Amélia, personagem de Tânia Bondezan, a resposta
encontra-se na capacidade de sentir a dor dos outros como se fosse nossa. E
este é o sentimento que corre ao longo da espinha dorsal de A Golondrina,
sucesso de crítica e público que estará em cartaz no Guairinha, de 27 a 29 de
setembro.
Com
texto do premiado autor espanhol Guillem Clua e direção de Gabriel Fontes
Paiva, a peça traz no elenco Tania Bondezan (que também assina a tradução) e
Luciano Andrey. O espetáculo já foi montado em Londres e na Espanha, estrelado
pela consagrada atriz Carmen Maura.
O
texto é inspirado no ataque terrorista ao Bar Pulse, que aconteceu em Orlando
(EUA), em junho de 2016, mas nele também ecoam as tragédias do bar Bataclan, em
Paris, do calçadão em Nice e Las Ramblas de Barcelona. É uma tentativa de
compreender a insensatez do horror, as consequências do ódio e as estratégias
que usamos para que eles não nos destruam a alma.
“A obra me encantou de
tal maneira que, enquanto lia o texto pela primeira vez, parecia que aquelas
palavras cabiam na minha boca, como se eu tivesse vivido tudo aquilo. Foi amor
à primeira vista. Minha personagem Amélia, que, por coincidência, é o nome da
minha mãe, é uma mulher severa e sofrida, sobrevivente de uma tragédia. A vida
foi mais generosa comigo, mas somos ambas mães que amam e protegem suas crias,
que tentam acertar e carregam culpa o tempo todo, o que nos aproxima.
Representá-la é um exercício de mergulhar nas minhas emoções”, conta Tania Bondezan.
“A Golondrina é uma das peças mais
comemoradas de Guillem Clua. É uma obra que fala sobre liberdade, diversidade
e, sobretudo, sobre aceitação, temas tão caros nos dias que vivemos em todos os
lugares do mundo e especialmente aqui no Brasil. O ataque ao Bar Pulse deixou
49 vítimas do preconceito e da homofobia. Mas aqui no nosso país, este tipo de
ataque ocorre quase que diariamente e mais grave ainda, de maneira silenciosa.
Isso justifica a necessidade de montar este texto atualíssimo, que fala de
relações humanas, familiares e da necessidade do entendimento e do perdão.
Quando os dois personagens se encontram, eles têm dois caminhos a seguir: podem
optar pelo ódio ou caminhar juntos. Ambos têm razões para causarem ainda mais
danos além do que sofreram ou se reconhecer na dor um do outro para não
permitir que vença o instinto animal”, completa a atriz e tradutora.
Já
o diretor Gabriel Fontes Paiva considera Guilemm Clua um dos melhores autores
contemporâneos. “Ele me impressionou
muito porque tem uma escrita muito eficiente, objetiva e surpreendente;
consegue prender a atenção o tempo todo com maestria. Fiquei muito feliz com o
convite dos produtores Ronaldo Diaféria, Tania Bodezan e Odilon Wagner para
dirigir essa peça maravilhosa. Tania é uma atriz intensa, madura, cheia de
talentos e Luciano é um ator extremamente sensível e dedicado”, revela
Gabriel. Seus últimos trabalhos como diretor foram “Marte Você Está Aí?”, em
2017, texto de Silvia Gomez, com Selma Egrei, Michelle Ferreira e Jorge Emil no
elenco, e em 2015 dirigiu “Uma Espécie de Alasca”, de Harold Pinter, com Yara
de Novaes, Mirian Rinaldi e Jorge Emil. Gabriel também é cofundador do Grupo 3
de Teatro, ao lado de Yara de Novaes e Débora Falabella.
O
espetáculo trata de temas universais e isto é o que mais fascinou o ator
Luciano Andrey. “O texto poderia se
passar em qualquer grande cidade do mundo. Os temas que ele trata – sem
maniqueísmos – são absolutamente pertinentes ao momento atual. Expõe o ponto de
vista completamente distinto de dois personagens sobre determinado fato, mas
sem julgamentos. Ambos têm razão em suas questões. Ao invés de assumir a
posição de um deles, o autor propõe uma reflexão sobre a nossa capacidade de se
colocar no lugar do outro e sermos empáticos, que acredito ser a chave para as
mazelas humanas”, diz.
O
texto já ganhou diversos prêmios pelo mundo, como o Prêmio MAX 2019, Off West
End London Theater Award 2017, Queer Theater 2018 (Atenas, Grécia).
SOBRE GUILLEM CLUA - Nascido em 1973 em Barcelona,
Guillem Clua é dramaturgo, roteirista e diretor teatral, formado em jornalismo
pela Universidade Autônoma de Barcelona. Ele também morou em Nova Iorque e na
Inglaterra, quando estudou na London Guildhall University com uma bolsa de
estudos Erasmus. Clua baseia seu trabalho em suas experiências pessoais para
abordar temas atemporais (como a questão da identidade) e contemporâneos (como
a Guerra do Iraque). Suas obras têm trajetória internacional, tendo sido
traduzidas para o inglês, italiano, alemão e francês. Entre os vários prêmios
que o autor recebeu, estão o Butaca 2011, o Time Out 2013 e o Max 2017.
Os
críticos descreveram seu trabalho como multidisciplinar e eclético, e como
tendo uma preocupação especial pela estrutura narrativa e o argumento. Algumas
de suas peças são “A Pele em Chamas”, “O Gosto das Cinzas”, “A Golondrina”, “Marburg”
e “73 Razões Para Deixar-te”, entre outras.
As encenações de “A
Golondrina” terá encenações sexta e sábado, às 21h e domingo, às 18h. A peça é
indicada para maiores de 14 anos. Os ingressos estão disponíveis na bilheteria
do Guairinha e pelo Ticket Fácil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário