Cinco
anos depois da chegada de multinacionais dos e-books e da disseminação do
formato no país, o livro digital ainda não decolou. Em 2016, ele foi
responsável por apenas 1,1% do faturamento das editoras nacionais. Eles renderam
R$ 42,5 milhões, contra R$ 3,8 bilhões das cópias físicas no mesmo período.
Para se ter uma ideia, no Reino Unido essa participação é de cerca de 25%.
Os
números estão no Censo do Livro Digital, realizado pela Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas), sob encomenda da CBL (Câmara Brasileira do
Livro) e do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), divulgado nesta
quarta-feira (23), em São Paulo. É a primeira vez que uma pesquisa do tipo é
feita no país, o que torna impossível ter uma base de comparação com anos
anteriores. "Descobrimos que o e-book é mais um canal de leitura. Acredito
que para o leitor assíduo. Não vimos aumentar o número de leitores, mas o
consumo per capita de quem já lê. De
todo modo, o investimento valeu muito a pena", disse Marcos da Veiga
Pereira, presidente do Snel e diretor da Sextante, apontando que ainda vê
espaço para crescimento. Entre as grandes editoras nacionais, caso da Sextante,
os e-books têm uma fatia maior no faturamento (4,5%), de acordo com o censo.
Pereira
diz ainda que, em 2016, em meio à crise, viu suas vendas digitais crescerem
20%, enquanto o mercado encolhia. O fato contradiz a ideia de que o digital
poderia solucionar os problemas de distribuição das pequenas casas. A pesquisa
mostra que o mercado digital reflete a mesma concentração do físico.
A
maioria das editoras brasileiras também não produz e comercializa e-books:
apenas 37% das casas que responderam ao questionário da Fipe disseram fazê-lo.
A pesquisa revela ainda que o catálogo de livros digitais no país tem 49,6 mil
títulos. Mas vale ressaltar que o levantamento não levou em conta as
plataformas de autopublicação, um mercado cada vez mais importante.
A
Amazon, por exemplo, não divulga seus números. Para se ter uma ideia, uma
pesquisa no Kindle Unlimited, sua plataforma de assinatura, que tem os livros
apenas de algumas grandes editoras, mas todos os autopublicados por ela, mostra
a existência de 48 mil títulos. Empresas multinacionais como a Amazon, vale
dizer, não compartilham seus dados para pesquisas do tipo.
Há,
contudo, uma inversão em relação ao mercado de livros físicos. Enquanto os
didáticos representam, nesse segmento, 36% do faturamento em 2016, no mundo
digital eles respondem por apenas 2%. A ideia de que os e-books também promoveriam
uma revolução nos modelos educacionais do país, portanto, também não se
confirmou. O setor de obras gerais (ficção, não ficção e autoajuda), por sua
vez, é o grande motor dos livros digitais no país. Em 2016, 87% dos
"exemplares" no formato, ou 58% da receita bruta, foram vendidos
dentro desse setor. Em segundo vêm as obras científicas, técnicas e
profissionais, com 35% de participação no faturamento.
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