Os cinéfilos de Curitiba vão ganhar nesta
quinta-feira (11) um presente e tanto. Às 19 horas, no Museu da Imagem e do Som
do Paraná (MIS-PR), acontecerá a sessão inaugural do Aurora - cineclube de
cinema paranaense, cujo primeiro ciclo será dedicado ao cineasta Fernando
Severo (foto), que em 2019 completa 40 anos de carreira.
O Aurora promoverá sessões quinzenais, sempre
às quintas-feiras, das 19 às 22 horas, no miniauditório do MIS. A programação,
a exemplo do ciclo dedicado a Severo, será composta por quatro sessões, que
incluirão filmes do(a) artista escolhido(a), obras de diversos autores,
propostas pela curadoria, e um filme selecinado pelo próprio cineasta - todos
sempre pensados na relação que mantêm entre si.
A diretora do Museu e também uma das curadoras
do cineclube, Cristiane Senn, diz que o Aurora nasce com a missão de promover,
difundir e incentivar o debate em torno da produção audiovisual de curta e
longa-metragem realizada no Estado, fomentando um espaço de pensamento de
cinema a partir de realizadores e profissionais do audiovisual paranaense,
desde os pioneiros até os contemporâneos.
Os outros curadores são os cineastas Thomas van
Osten e William Biaglioli, para quem o cinema paranaense é riquíssimo, com uma
produção muito relevante, mas ainda pouco conhecida do grande público.
Principal expoente da geração do Super-8,
Severo começou a rodar filmes entre o fim da década de 1970 e o começo dos anos
1980, no Paraná. Este primeiro conjunto de títulos em Super-8, entre eles o
filme de estreia de Severo, “Hu” (1979), será apresentado em sua bitola
original, assim como seus primeiros trabalhos em vídeo, na primeira sessão do
ciclo.
A segunda sessão acontecerá, excepcionalmente,
na Cinemateca de Curitiba em parceria com o MIS, composta por filmes em 35mm do
diretor Fernando Severo, nascido em Caçador, Santa Catarina, mas criado no
Paraná. Rodados entre o começo dos anos 2000 e 2010, os filmes, como “Os
Desertos Dias” e “Visionários”, representam o ponto de maturidade da carreira
do diretor. Será uma oportunidade rara para ver estas obras projetadas em seu
formato original, em película 35mm.
Na terceira sessão do ciclo, será exibido um
dos mais premiados e celebrados filmes da carreira do diretor: “O Mundo Perdido
de Kozák” (1988), que retrata a obra do documentarista Vladmir Kozák, premiado
como melhor filme no XXI Festival de Cinema de Brasília e vencedor de outros 16
prêmios nacionais. A sessão também exibirá outros filmes que investigam uma
poética cinematográfica do retrato, como "O Poeta do Castelo", de
Joaquim Pedro de Andrade, e "Retrato de Maria Callas", de Werner
Schroeter.
A sessão surpresa do Cineclube Aurora é um
convite ao acaso para o espectador. Tão acostumado com a profusão de
informações e estímulos, este é o momento que você deixa o conforto de lado e
simplesmente se entrega para uma experiência de descoberta. Um mergulho no
desconhecido. A primeira sessão carta branca do Cineclube Aurora apresentará um
filme programado e comentado por Severo, que só será revelado na hora de sua
apresentação.
FERNANDO SEVERO - Natural de Caçador (SC) e
criado em Clevelândia (PR), Severo, que já foi diretor do MIS-PR, realizou a
maior parte dos seus filmes no Paraná, desde 1979 até os dias de hoje.
Trabalhou com diversas bitolas, tendo sido um dos mais importantes realizadores
de cinema Super-8 do Estado, reconhecido no Brasil e internacionalmente.
De sua obra em Super-8, destaca-se “Aluminosa Espera
do Apocalipse” (1979), exibido este ano no Festival de Cinema de Ouro Preto,
promovido em conjunto com Ruy Vezzaro e Peter Lorenzo, filme feito pela ótica
da loucura de um homem que constrói uma cidade destinada a repovoar o mundo
depois do apocalipse; ou “Hu” (1979), também Super-8, considerado o primeiro
filme experimental feito no Paraná.
Em 16mm, Severo fez “O Mundo Perdido de Kozak”,
sobre a vida e a obra de Vladimir Kozák, tcheco naturalizado brasileiro que
morou em Curitiba por mais de 40 anos, filmando aspectos urbanos e rurais do
Brasil, notadamente indígenas no interior do Estado.
Em 35mm, Severo fez curtas-metragens de grande
qualidade que foram pouco vistos pelo público local: por exemplo, “Século XX:
Primeiros Tempos” (1993), curta-metragem para a série Panorama Histórico
Brasileiro, produzida pelo Itaú Cultural; ou “Visionários” (2002), documentário
poético com trilha sonora de Harry Crowl, que retoma o tema de “Aluminosa” e
registra os últimos vestígios de dois santuários construídos no Norte do Paraná
por pequenos agricultores, nos anos 1960 e 1970, inspirados por visões
místicas; ou ainda “Os Desertos Dias” (1991), ficção sobre um militante
político latino-americano que se refugia no litoral do Paraná, onde vive na
constante expectativa de ser descoberto e eliminado.
O filme tem roteiro escrito a seis mãos, com
José Rubens Siqueira e Valêncio Xavier, multiartista radicado no Paraná que,
além de Diretor do MIS-PR, também foi criador da Cinemateca de Curitiba.
Com multiplicidade e inventividade ímpares,
dialogando fortemente com o curta-metragem brasileiro e novos cinemas do mundo
todo, como a Nouvelle Vague e o Cinema Novo Alemão, Severo participou de uma
época profícua de crítica e de produção de cinema no Paraná, e ajudou a
pavimentar o cenário de produção audiovisual local, seja no documentário, na
ficção, no cinema experimental, em Super-8, 16mm, 35mm, vídeo, Umatic e
digital.
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