A peça “Uma Espécie de Alasca” será apresentada
na Caixa Cultural Curitiba neste final de semana. O texto de Harold Pinter (Prêmio Nobel de Literatura
em 2005) conta com a direção de Gabriel Fontes Paiva, que também é responsável
pela adaptação do texto. A história foi inspirada na obra literária
“Despertando”, de Oliver Sacks, que teve sua primeira publicação em 1973.
O elenco é formado por três atores: Yara de
Novaes, que interpreta Débora, em coma há 29 anos após contrair a doença do
sono (encefalite letárgica), que acorda com a mente de 16 anos de idade; Miriam
Rinaldi e Jorge Emil, que interpretam, respectivamente, sua irmã Paulinha e seu
cunhado, o dedicado médico Hornby. Os dois cuidaram de Débora ao longo de todo
esse tempo. “Yara, Miriam e Jorge são artistas genuínos que gostam de se
aventurar em territórios ainda não explorados porque sabem que é no risco que
podemos avançar mais”, comenta o diretor Gabriel Fontes Paiva.
“Despertando” - A inspiração do inglês Harold
Pinter para a peça veio da leitura do livro “Despertando”, do renomado
neurologista Oliver Sacks, no qual o autor apresenta casos de pessoas que,
depois de ter a vida suspensa por décadas, recobram a consciência em função de
testes com um novo tipo de medicamento, descoberto na década de 1960. Pinter
compreendeu aqueles pacientes até mais do que seus próprios médicos, segundo
muitos deles observaram depois de assistir à primeira montagem do texto em
Londres.
“Por motivos explicados apenas pela
espiritualidade ou sensibilidade de um gênio, o dramaturgo não precisou
conversar com Sacks, nem visitar o hospital onde os doentes ficavam para
entender a fundo sua alma. Isso mostra como o teatro pode mergulhar no
inconsciente, resgatando de lá, sem juízo de valor, nossa mais sincera
humanidade”, comenta o diretor, que assina também a adaptação. “O que me
capturou nesse texto foi o quanto ele é profundo para tratar questões existenciais,
utilizando como ponto de partida um caso real”.
O autor do livro, o neurologista Oliver Sacks,
que faleceu em agosto de 2015, tornou-se notícia mundial em fevereiro daquele
mesmo ano ao anunciar, em um artigo no jornal The New York Times, que não possuía
muito tempo de vida em função do estágio avançado de um câncer. Ao invés de se
lamentar ou relembrar com nostalgia sua genial trajetória, disse que se sentia
agradecido pela oportunidade de se despedir da vida. “Nos últimos dias, tenho
sido capaz de ver a minha vida a partir de uma grande altitude, como uma
espécie de paisagem”.
O entendimento raro da existência foi
conquistado por uma vida dedicada ao estudo neurológico do ser humano. Sacks,
que conseguiu transformar casos médicos em best sellers por meio de um talento
nato para escrita, trouxe notoriedade a questões prioritariamente de interesse
médico. “Despertando” – obra que também inspirou a premiada montagem
cinematográfica “Tempo de Despertar” – permitiu um novo e profundo olhar sobre
as questões existenciais. Isto ocorreu em tamanha proporção que gerou no
dramaturgo Harold Pinter a vontade de escrever uma peça inspirada em outra
obra. “Um dia acordei com a sensação estranha de estar em um lugar e tempo
distintos, lembrei do livro de Oliver Sacks, que tinha lido há quase uma
década, e escrevi ‘Uma Espécie de Alasca’”, afirmou Pinter.
Um ambiente para o coletivo - Outro aspecto que
chama a atenção nessa montagem é a reunião inusitada de grandes artistas.
Alguns deles experimentando novas funções, outros pela primeira vez no teatro.
O que não é o caso dos três atores: veteranos, reconhecidos e premiados,
possuem o desafio de interpretar personagens complexos como alguém que dormiu
por quase 30 anos, um médico que dedicou a vida inteira para descobrir a cura
de uma doença e uma mulher que abriu mão da própria vida para cuidar da irmã.
“Yara, Miriam e Jorge são artistas genuínos que gostam de se aventurar em
territórios ainda não explorados porque sabem que é no risco que podemos
avançar mais”, comenta o diretor.
Luiz Duva, um dos principais representantes
brasileiros de vídeo-arte, performance e novas mídias, é o responsável pela
concepção de vídeo da peça. Luísa Maita, um dos representativos nomes da nova
MPB, teve sua primeira inserção em trilha sonora no comentado filme “Boyhood”.
Maita possui grande reconhecimento nos EUA, com direito a apresentações
esgotadas no Lincoln Center de Nova York e primeiro lugar de vendas no iTunes
na categoria World Music. Quem assina com ela a trilha sonora é Jam da Silva,
outro músico premiado, e também reconhecido internacionalmente. A troca de
papéis fica por conta da renomada atriz Débora Falabella, que criou o figurino
do espetáculo. “São pessoas com quem tenho muita afinidade artística, com as
quais trabalho há anos em projetos artísticos. A Débora, por exemplo, sempre
contribuiu muito em figurinos em nossa companhia, a Grupo 3 de Teatro, e já
estava pronta para assinar sozinha uma montagem”, comenta Gabriel que também
assina a iluminação do espetáculo junto com André Prado.
Indicadas para maiores de 12 anos, as
encenações de “Uma Espécie de Alasca” acontecem sexta e sábado, às 20h, e
domingo, às 19h. A apresentação de sexta-feira, dia 28, contará com tradução em
Libras. Os ingressos custam R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia, conforme legislação e
correntistas que pagarem com cartão de débito Caixa). A compra pode ser feita
com o cartão vale-cultura. Mais informações: 2118-5111.
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