Um dos mais impactantes espetáculos
brasileiros, “Cão Sem Plumas”, da Companhia de Dança Carioca Deborah Colker,
premiado com “Oscar” mundial da dança, o prêmio russo “Benoin de la Danse”, chega
a Curitiba, neste sábado (20), às 21 horas, no Teatro Guaíra. A apresentação,
que é baseada no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), traz
dois elementos culturais ao palco: balé e filme, unidos dando voz ao poema de
forma árdua, atual e universal, pois aborda a pobreza da população ribeirinha
nordestina, o descaso das elites, a vida no mangue, de “força invencível e
anônima”. Este é o primeiro espetáculo
da renomada Cia. Deborah Colker com temática explicitamente brasileira no
currículo. Os ingressos estão sendo vendidos pelo Disk Ingressos. A Cia. conta
com o patrocínio da Petrobras desde 1995.
O espetáculo é sobre coisas inconcebíveis, que
não deveriam ser permitidas. É contra a ignorância humana, a destruição da
natureza, sendo o “Cão Sem Plumas” a representação dos rios nordestinos e das
pessoas que vivem em seu entorno.
Os elementos da dança, com os corpos dos 13
bailarinos, se dialogam com o cinema, nas cenas de um filme projetado no fundo
do palco, realizado por Deborah e pelo pernambucano Cláudio Assis – diretor de
longas-metragens como Amarelo Manga, Febre do Rato e Big Jato. As imagens foram
registradas em novembro de 2016, quando coreógrafa, cineasta e toda a companhia
viajaram durante 24 dias do limite entre sertão e agreste até Recife.
A jornada também foi documentada pelo fotógrafo
Cafi, nascido em Pernambuco. Na trilha sonora original estão mais dois
pernambucanos: Jorge Dü Peixe, da banda Nação Zumbi e um dos expoentes do
movimento mangue beat, e Lirinha (ex-cantor do Cordel do Fogo Encantado, poeta
e ator), além do carioca Berna Ceppas, que acompanha Deborah desde o trabalho
de estreia, Vulcão (1994). Outros antigos parceiros estão em cenografia e direção
de arte (Gringo Cardia) e na iluminação (Jorginho de Carvalho). Os figurinos
são de Claudia Kopke. A direção executiva é de João Elias, fundador da
companhia.
Os bailarinos se cobrem de lama, alusão às
paisagens que o poema descreve, e seus passos evocam os caranguejos. O animal
que vive no mangue está nas ideias do geógrafo Josué de Castro (1908-1973),
autor de Geografia da fome e Homens e caranguejos, e do cantor e compositor
Chico Science (1966-1997), principal nome do mangue beat. O movimento mesclava
regional e universal, tradição e tecnologia. Como Deborah faz.
Para construir um bicho-homem, conceito que é
base de toda a coreografia, a artista não se baseou apenas em manifestações,
que são fortes em Pernambuco, como maracatu e coco. Também se valeu de samba,
jongo, kuduro e outras danças populares. “Minha história é uma história de
misturas”, afirma ela.
Tendo a Petrobras como mantenedora desde 1995,
seu grupo se firmou como fenômeno pop em Velox (1995), Rota (1997) e Casa
(1999). Os espetáculos Nó (2005), Cruel (2008), Tatyana (2011) e Belle (2014)
trataram de temas existenciais, como os afetos. Em Cão Sem Plumas, Deborah
reúne aspectos de toda a sua carreira.
“Cabem a elegância do clássico, a lama das
raízes e o olhar contemporâneo. O nome disso é João Cabral”, diz ela.
COMPANHIA DE DANÇA DEBORAH COLKER - Reconhecida
internacionalmente, Deborah recebeu em 2001 o Laurence Olivier Award na
categoria Oustanding Achievement in Dance (realização mais notável em dança no
mundo).
A coreógrafa brasileira Deborah Colker foi a
primeira mulher a escrever e dirigir um show do Cirque du Soleil, quando criou
o espetáculo Ovo, em 2009. Em 2016, foi a diretora de movimento da cerimônia de
abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro.
João Cabral vivia em Barcelona, como diplomata,
quando leu numa revista que a expectativa de vida no Recife era menor do que na
Índia. A notícia foi o impulso para fazer O cão sem plumas. Publicou em 1953 O
rio ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife
e, três anos depois, sua obra mais conhecida, Morte e vida Severina. Sua
poesia, das mais importantes do Brasil, é marcada pelo rigor e pela rejeição a
sentimentalismos.
Livre para todas as idades, a apresentação da
Cia. Deborah Colker tem ingressos que variam de R$ 43,50 (meia) a R$ 126,00
(inteira) de acordo com o setor do teatro. A taxa administrativa de R$ 6,00
está incluída no valor. Mais informações: 3315-0808 ou www.diskingressos.com.br.
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