A estátua de Tiradentes esculpida pelo
paranaense João Turin e que fica na praça de mesmo nome deve ser retirada na
semana que vem, para restauração. Duas outras obras de Turin (1878-1949)
pertencentes ao patrimônio público municipal já estão sendo restauradas e
ganhando moldes e pátina de proteção: a peça Luar do Sertão (uma onça rugindo
que fica na rotatória ao lado da sede da Prefeitura) e a águia que faz
companhia a Rui Barbosa na Praça Santos Andrade. Elas devem voltar a seus
locais originais em agosto.
A restauração das três peças faz parte
de um projeto maior, que envolve todo o acervo de Turin, reconhecido como um
dos maiores artistas paranaenses. O diretor de Patrimônio da Fundação Cultural
de Curitiba (FCC), Mauro Tietz, informa que a Fundação acompanha o trabalho
desde a retirada das obras que integram o patrimônio do Município até a
restauração e devolução aos locais originais.
A coordenadora de Acervos da FCC,
Denise Zanini, é a responsável pela logística e por acompanhar os trabalhos do
ateliê em nome do município. Ela explica que a pátina de proteção é uma espécie
de camada esverdeada que costuma ser aplicada sobre obras de metal que ficam
expostas em locais abertos. “Com a aplicação elas ficam protegidas por muito
mais tempo contra a fuligem e a ação do clima”, esclarece.
Os trabalhos de restauração e confecção
de moldes fazem parte de um grande projeto iniciado há cerca de dois anos,
depois que os direitos sobre o acervo do escultor foram comprados pelo
colecionador curitibano Samuel Ferrari Lago. Foi realizado um levantamento do
acervo e, após negociações entre a família Lago, o poder público e descendentes
de Turin, foram iniciados os trabalhos, no Atelier João Turin.
Maurício Appel, gestor do acervo, diz
que é a primeira vez que uma restauração ponta-a-ponta da obra de um artista é
realizada no Brasil. O trabalho, conta, chamou a atenção até do Ministério da
Cultura, que está acompanhando o processo, pelo interesse museológico.
Complexidade - Atualmente estão sendo
trabalhadas as peças maiores, que também são mais complexas. Cada estátua leva,
em média, um mês para ser restaurada e ter seu molde retirado. “Há muita
dilatação devido ao tempo. Também verificamos pequenos buracos que poderiam
comprometer as obras”, informa Appel.
A onça de Luar do Sertão, por exemplo,
exposta ao ar livre desde 1969, estava a ponto de perder a cauda. A águia, na
praça desde 1936, também estava “bastante agredida”, segundo Appel. “O mais
interessante é que percebemos que as pessoas se preocuparam com as obras depois
que as retiramos. Isso mostra que elas gostam das esculturas, consideram que os
bens também são delas”, ressalta Appel. Ele prevê que a estátua de Tiradentes
também deve dar trabalho, pois está desde 1938 exposta ao tempo.
Os moldes que estão sendo feitos
permitirão que essas e outras obras de Turin sejam multiplicadas. Normas do
mercado preveem um limite de 12 reproduções de cada trabalho, que ainda assim
continuam sendo consideradas obras originais. Appel relata que o escultor tinha
dificuldade para reproduzir suas obras, devido à pouca estrutura da fundição artística em Curitiba na época.
Assim, grande parte das obras ainda é única.
Mostra - As obras deverão ser expostas
em Curitiba, no ano que vem. Mais cinco capitais brasileiras devem receber a
mostra, bem como Bruxelas – onde Turin estudou, na Real Academia de Belas Artes
– e Nova York. Também há a possibilidade de a exposição seguir para Paris, onde
o artista viveu entre 1911 e 1922.
As novas reproduções também poderão ser
comercializadas ou expostas em mais locais . A prioridade, ressalta Appel, será
para museus ou outros espaços abertos ao público. Apesar de os direitos de propriedade
das obras pertencerem à família Lago, os direitos autorais continuam sendo da
família de Turin. Foi Appel quem mediou as conversas entre as duas famílias
para que o projeto pudesse sair do papel.
Ficha das obras
Tiradentes
Técnica: Escultura em bronze
Tamanho: monumento
Localização: Praça Tiradentes
(Curitiba)
Inauguração: 1938
Obra realizada em Paris em 1922.
Participou do salão dos artistas franceses, recebendo elogios da imprensa. No
Brasil, no mesmo ano, participou da exposição comemorativa ao centenário da
Independência no Rio de Janeiro, onde recebeu menção honrosa. Em 1927, por
ocasião do cinquentenário da imigração italiana no Paraná, João Turin doou a
obra para colônia italiana, que por sua vez realizou a fundição em bronze e a
ofereceu ao povo do Paraná como forma de agradecer a terra que os acolheu. A
escultura possui mais de dois metros de altura.
Luar do Sertão
Técnica: Escultura em bronze
Tamanho: natural
Inauguração: 1947
Localização: Centro Cívico (Curitiba) e
Praça General Osório (Rio de Janeiro)
Turin teve sua fase de tigres. Para os
trabalhos, se inspirava em gatos e nos felinos do Passeio Público. Já que os
animais dormiam a maior parte do dia, o artista, em idade já avançada, passou a
ir ao parque à noite: comprava carne no açougue Garmatter e negociava para
conseguir iluminação melhor. “Foi um inferno, sem contar com a chuva, a garoa,
a lama, o frio, pois a gente não é mais criança e não aguenta bem”, declarou na
época. Mas o esforço compenso: a onça rendeu prêmios e homenagens a Turin.
Rui Barbosa
Técnica: Escultura em bronze
Tamanho: monumento
Inauguração: 1936
Localização: Praça Santos Andrade
(Curitiba)
O monumento foi confeccionado depois
que Turin assinou um contrato de empreitada com o Comitê Acadêmico de Direito
da UFPR. As peças foram fundidas em uma oficina artística de São Paulo que fez
várias fusões em bronze para o escultor. Com a justificativa de falta de
espaço, a oficina acabou destruindo os originais em gesso, informando Turin
apenas depois.
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