A lógica da guerra revelada pelas
brincadeiras de quatro crianças. Em “Histórias de Família”, da companhia
carioca Amok Teatro, os personagens reproduzem o comportamento de adultos
desorientados em meio à desintegração da antiga Iugoslávia. Última parte da “Trilogia
da Guerra” – iniciada por “O Dragão”, de 2009, e seguida por “Kabul”, de 2010
–, o espetáculo renova a linguagem da companhia, que ainda não havia se
debruçado sobre um texto dramático contemporâneo.
“Queríamos um texto de um autor para
encerrar a trilogia”, diz Ana Teixeira, que dirige a peça e a companhia em
parceria com Stephane Brodt. A montagem, entretanto, não se prende ao texto da
dramaturga sérvia Biljana Srbljanovic, traduzido por Ana e Jadrana Andjelic. “O
texto é matéria fixa que vive quando encontra o ator. Não temos compromisso de
fidelidade ao autor, a cena tem sua vida própria”, explica.
Dois planos estruturam “Histórias de Família”.
No primeiro deles, o comportamento delirante dos adultos é revelado pelas
quatro crianças que brincam de família. Em cena, Rosana Barros, Stephane Brodt,
Vanessa Dias e Wanderson Rosceno evitam o infantilismo. “Pelo teatro, que é
lúdico em sua essência, buscamos a infância”, explica Ana. O que, de todo modo,
não evita alguns risos da plateia. “É o riso da ordem da derrisão, o riso
amarelo, o cômico que vem do absurdo”, diz a diretora.
No segundo plano, uma criança permanece
à parte, privada das brincadeiras. “Há uma tensão entre esses dois polos. A
criança, que revela o trauma da guerra, mesmo sem palavras, é inspirada em uma
menina que existe de fato”, explica Ana. A inserção de uma história real na
narrativa fictícia está relacionada à pesquisa sobre realidade e teatro
empreendida na trilogia – “O Dragão” foi escrito com base em relatos e
entrevistas e “Kabul” aborda a perda de mães em luto pela morte de seus filhos
pelo diálogo entre depoimentos reais e a obra literária “As Andorinhas de Cabul”,
de Yasmina Khadra.
Barbárie em cena - No palco, a Amok não
mostra apenas a barbárie que afligiu a região dos Balcãs nos anos 1990, mas
também a que assola cotidianamente as pessoas que vivem em grandes centros
urbanos. “A guerra, em nosso trabalho, é abordada no plano humano, ou seja, o
que está em cena não é contexto específico de guerra, mas a dor da violência e
de que modo ela ressoa dentro de nós mesmos”, explica a diretora.
O trabalho corporal dos atores da
companhia, que tem como suporte a técnica da Escola de Mímica Dramática, do
francês Etiénne Decroux, é ainda mais minucioso nesta peça. “Não consigo
imaginar um teatro que não seja físico. O teatro só existe quando o ator está
fisicamente presente diante de outros corpos. No caso da infância, a criança
chora com o corpo, brinca com o corpo, por isso, é inimaginável tratar a
infância sem que haja um trabalho corporal”, afirma Ana.
A peça “Histórias de Família” terá
encenações de quinta-feira a sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Os ingressos
custam R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia) e o espetáculo é indicado para maiores de 12
anos. Mais informações: 2118-5111.
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