Uma maratona musical. Pianistas do Coletivo
Pianovero e pianistas convidados irão realizar em Curitiba o que é considerado
como a peça para piano solo mais longa da história, a obra “Vexations”, do
compositor e pianista francês Erik Satie. O recital acontece na Sala de
Exposições do Teatro Guaíra neste sábado (24) e domingo (25), das 19h30 às
19h30.
“Vexations” foi escrita em 1893, resgatada do
esquecimento em 1949 por Henri Sauget, um amigo de Satie, e apresentada pela
primeira vez em 1963 por John Cage em Nova York. Em 2018, o Coletivo Pianovero
recria a performance, com a participação de mais de 20 pianistas, que se
revezarão durante 24 horas para executar a obra seguindo as instruções do
compositor para se tocar 840 vezes em sequência, "dentro de um grande
silêncio e de uma imobilidade séria".
A performance será realizada pelo Coletivo Pianovero
e pelos pianistas convidados Alberto Heller, André Bertoncini, Beatriz
Deschamps, Julia Saggin, Soraia Luders, Wilson Dittrich e Zelia Chueke.
Segundo a diretora musical, Vera Di Domênico, a
grande extensão da obra torna sua execução e audição um desafio transcendente,
apesar da aparente simplicidade. “Nós apresentaremos esta obra em sua
totalidade em Curitiba, e acreditamos que tal repetitividade nos leva a
refletir sobre o paradoxo da cultura contemporânea, que sobrevive tanto pela
repetição obsessiva e plana de certos motivos - como bem retratou Andy Warhol
em sua pop art - como na renovação doentia de produtos para consumo. Mas a
repetitividade também detém um diálogo com a afetividade: a repetição é um
fator constitutivo da nossa percepção do mundo e da sedimentação de um
repertório particular, ao transformar o desconhecido ou exótico em familiar e
pessoal”.
A apresentação será transmitida ao vivo em
tempo integral e o público poderá circular à vontade, respeitando um nível de
silêncio necessário à audição do instrumento.
O Coletivo Pianovero assumiu este nome em 2018
e é um grupo de pianistas profissionais e amadores que realizam projetos
pianísticos há diversos anos a partir de Curitiba, sempre com direção musical
de Vera Di Domênico, sua idealizadora e coordenadora. Hoje o coletivo é
composto pelos pianistas Analena Bordin, Eneida Holzman, Giulia Ferreira, Grace
Filipak Torres, Julia Deschamps, Karine Kawamura, Lilian Nakahodo, Lucas Dias,
Marcele Cotosky, Matheus Fedrigo, Monica Han, Silvio Silva Júnior, Taciana
Basso e Vera Di Domenico (ordem alfabética).
A OBRA - Interpretações estéticas e filosóficas
sobre “Vexations” diferem muito. Muitas pessoas a veem como a maior e mais
bem-sucedida peça de puro blefe de Satie.
Outros a veem como precursora da música dodecafônica e outros, ainda,
como uma tentativa de usar o tédio construtivamente para fins artísticos, como
um jogo de repetições sem fim, cuja monotonia se aproxima do silêncio. Satie
era um místico, então talvez também seja possível analisar numerologicamente as
840 vezes que a obra é repetida: 8 – o infinito; 4 – o mundo manifestado; 0 – a
perfeição: “no infinito a manifestação encontra a perfeição”.
Não se sabe o que Satie realmente pretendia com
“Vexations”: melhor ouvir e decidir por conta própria.
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