(ABr) – Por unanimidade, os senadores
da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovaram, nesta quarta-feira (3),
o projeto de lei que altera as regras para cobrança, arrecadação e distribuição
dos direitos autorais de obras musicais e audiovisuais (PL 129/2012). O assunto
dominou as atenções em um dos corredores do Senado desde o início da manhã,
reunindo atores, atrizes, cantores e compositores que se dividiam sobre o tema.
O relator da proposta, senador Humberto
Costa (PT-CE), disse que tentou chegar a um texto equilibrado. “Algumas pessoas
pediam o fim do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). O Ecad
saiu ganhando com o projeto”, ressaltou.
Humberto Costa destacou que o sistema
de arrecadação de direitos autorais vive uma crise de credibilidade grande. "Temos dois sensos comuns na sociedade brasileira: um, que se paga caro ao Ecad
e não se sabe se o autor é o real beneficiado, e o outro é a cultura de que não
é preciso pagar para utilizar a obra de alguém”.
Pela proposta aprovada na CCJ, o Ecad
passa a ser fiscalizado por um órgão específico e precisa prestar informações
precisas sobre a distribuição dos recursos. O projeto também estabelece a
redução da atual taxa administrativa cobrada pelo escritório de 25% para 15%,
garantindo que os autores recebam 85% de tudo o que for arrecadado pelo uso das
obras artísticas.
“Em nenhum momento propusemos o fim do
Ecad. Garantimos a continuidade do Ecad, mas agora dirigido e fiscalizado por
um sistema que determina transparência e eficiência”, enfatizou Costa.
A aprovação do projeto foi comemorada
por um grupo de artistas que defendem maior acompanhamento da arrecadação dos
direitos autorais. A atriz e produtora Paula Lavigne considerou a decisão uma
vitória para a classe de autores. “Desde que o Conselho Nacional dos Direitos
Autorais foi extinto pelo (ex-presidente Fernando) Collor, não temos
fiscalização”, ressaltou Paula. “Todo monopólio tem que ter fiscalização. O
Ecad era uma caixa preta”, completou a produtora.
Outra mudança que a proposta faz é em
relação aos créditos retidos quando o Ecad não identifica os autores da obra.
Pelo texto, essas arrecadações só podem ficar retidas durante cinco anos e,
depois, precisam ser distribuídas proporcionalmente pelos detentores de
direitos. A mudança evita que o dinheiro seja usado para equilíbrio de finanças
ou pagamento de prêmios, por exemplo.
Os senadores também aprovaram a
urgência do projeto, ou seja, se o caráter de urgência for aprovado pelos
líderes e no plenário, o texto pode ser votado ainda hoje e seguir para a
apreciação da Câmara dos Deputados.
Apesar da aprovação comemorada por um
grupo de artistas, outros autores e compositores e alguns parlamentares
defenderam mais debate sobre o tema. Para o senador Aloysio Nunes Ferreira
(PSDB-SP), a proposta deveria ser debatida na Comissão de Educação e Cultura
antes de seguir para o plenário da Casa.
O gerente de Relações Institucionais do
Ecad, Márcio do Val, também alertou que o projeto precisa ser mais discutido.
“É um grande golpe na gestão coletiva [de direitos autorais]. Depois esses
artistas que aplaudiram hoje vão precisar cortar na própria carne”, avaliou. Para
Márcio do Val, o projeto tem pontos inconstitucionais que precisam ser
corrigidos. “Há intervenção de direito publico no direito privado e [o projeto]
não trata a questão da inadimplência”.
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