O espetáculo “O Olhar de Neuza” - interpretado pela atriz
Fabiana Ferreira - é inspirado na obra “A Mulher que Cai”, do escritor
curitibano Guido Viaro, e narra a história de uma mulher de meia-idade, na
tentativa de escapar de seu cotidiano e rever sua vida. Guido Viaro comenta que
quis abordar a vida das mulheres que não estão num período valorizado pela
sociedade. “A juventude é a moeda de troca da mulher. Na menopausa, a mulher
perdeu o valor social e o valor humano. É o momento em que precisa vestir a
fantasia de “titia” ou “vovó”, um papel dessexualizado e se contentar com as
sobras sociais”.
A diretora da peça, Letícia Guimarães, comenta que
socialmente o tema da menopausa não é abordado. “As pessoas não querem falar e
ninguém quer ouvir. Nas mulheres, envelhecer não é um mérito. A sociedade não
reconhece que a velhice contribui para a sociedade”, diz Letícia. Neuza, a
personagem central da peça, questiona a própria vida e os possíveis caminhos a
seguir, sua relação com o marido, os filhos e sua posição na sociedade. O plano
de Neuza poderia ser fugir, rompendo definitivamente com sua realidade, porém
os planos ficam apenas em suas reflexões. A personagem parece ter seus
movimentos limitados, vivendo atrás de uma janela, olhando pelos vidros a
estação das chuvas. Os seus desejos se diluem mal se acende a lâmpada do bom
senso, o que acaba acarretando a perda da oportunidade de mudança.
O espetáculo, onde a atriz Fabiana Ferreira comemora seus 20
anos de carreira, conta, também, com a participação da cantora Karla Izidro,
que assina composições e arranjos das músicas de O Olhar de Neuza. A atriz
Fabiana Ferreira acrescenta que com o processo criativo da peça “O Olhar de
Neuza” pode rever sua própria vida. “É natural chegar aos 50, mas com o
processo aprofundei a personagem a partir de mim mesma. Me deparei com muita
coisa que não queria olhar mas o processo não deixou que a situação
permanecesse a mesma. É um personagem fictício mas tem muito de mim, da
Letícia, de observar tudo”, comenta a atriz.
A encenação foi desenvolvida em conjunto com o diretor e
coreógrafo paraguaio Wal Mayans, que compartilha com o grupo do Abração a
pesquisa de Primigenia Teatral desde 2008. Wal Mayans é oriundo da primeira
turma de artistas da Antropologia Teatral de Eugenio Barba e há mais de 30 anos
segue sua investigação em teatro e dança, por diversos países.
As apresentações acontecem na Cia. do Abração (rua Paulo
Ildefonso Assumpção, 725, Bacacheri) até o dia 8 de setembro, de quarta a
domingo, sempre às 20h. Os ingressos custam R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia).
Informações: 3362-9438 ou www.ciadoabracao.com.br.
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