Uma profusão de formas e cores,
perfumes e odores desperta os sentidos daqueles que percorrem os corredores do
Mercado Municipal de Curitiba, desde a abertura de suas portas, em 2 de agosto
de 1958. O Mercado – inicialmente localizado onde hoje fica a Rodoferroviária –
completa 55 anos nesta sexta-feira consolidado como ponto de encontro e paraíso
da gastronomia profissional e caseira. Recebe por semana uma média de 63 mil
pessoas, atraídas pela oferta de milhares de produtos nacionais e importados,
presentes nos hábitos culinários de brasileiros, indianos, chineses, coreanos,
portugueses, gregos e italianos, entre dezenas de outros.
Construído entre os anos de 1956 e
1958, o prédio, projetado pelo engenheiro Saul Raiz, já passou por várias
reformas e ampliações. A construção foi autorizada em 1954 pelo então prefeito
Ney Braga. A obra começou em 1956 e foi
concluída dois anos depois. Desde então, turistas e consumidores eventuais e assíduos
visitam o local para fazer compras ou para fazer refeições na diversificada
praça de alimentação. São décadas de história e de vidas que se entrelaçam no
Mercado, ligando frequentadores, permissionários e trabalhadores.
Pioneiros - Atualmente, o Mercado
Municipal abriga 193 estabelecimentos comerciais - muitos administrados desde o
início pelas mesmas famílias, passando de geração a geração. Aos 87 anos,
Osvaldo Cardoso é um dos “fundadores” do local, como ele mesmo diz, e sua vida
se confunde com a do Mercado. Sentado sobre duas almofadas que denunciam o
longo tempo de uso, ele contempla diariamente o vai e vem de clientes pelas
suas três bancas de cereais e duas lojas. Orgulhoso, exibe a placa da loja de
produtos nacionais e importados que leva o nome de uma de suas filhas, Sissi, e
onde atualmente trabalham filhos e netos.
A idade avançada e os problemas na
coluna não impedem Osvaldo de manter a mesma rotina de 55 anos atrás. Ele chega
todos os dias chega meia hora antes da abertura do Mercado, às 6h30, e só
retorna para a casa às 18 horas. “O Mercado Municipal é tudo pra mim. Há 55
anos vivo do Mercado, dei a vida a isto. Se eu parar, não vivo mais”, afirma.
“Havia poucos moradores por aqui, muitos comerciantes desistiram e os que
persistiram conseguiram equilibrar as vendas e atrair os clientes”.
Variedade - Uma caminhada pelos
corredores do Mercado Municipal revela a imensa variedade de serviços
disponíveis. Instalada ao lado da porta secundária de acesso pela Avenida Sete
de Setembro, próxima da Praça de Alimentação, está a barbearia mais tradicional
do lugar, que numa placa anuncia: “Cabelo Raspado a Gillette”. Descendente de
japoneses, o paulista Antonio Yoshida, de 77 anos, outro veterano do Mercado, é
o dono do negócio. Natural de Lins (SP), Yoshida era um jovem de 24 anos quando
entrou no Mercado para fazer barbas e cortar cabelos, profissão que aprendeu
com o pai. “Era para abrir na inauguração do Mercado, mas aqui ficava no meio
do mato, no meio do banhado. Acabei não abrindo e vim pra cá só dois anos
depois”, conta Yoshida.
Ele lembra que o mercado abria às 3
horas da manhã e a entrega de mercadorias pelos fornecedores tinha que
acontecer até as 5 horas porque “complicava muito” o trânsito da Rua Dr.
Faivre. Contrariando o receio inicial, Yoshida continua instalado no local e,
mesmo depois de 53 anos, trabalha diariamente das 7h30 às 18 horas e sozinho
chega a atender de 20 a
30 clientes por dia. Hoje, confessa que já está cansado, mas a clientela se
mantém fiel. “Corto cabelo com ele desde 1978. Venho a cada mês e meio, estou
acostumado. É uma beleza aqui e a gente encontra tudo o que quiser”, afirma
Darcy Giocondo Milani, cliente cativo de Yoshida.
O mobiliário da barbearia dá a
impressão de que o tempo parou. Yoshida mantém em perfeito funcionamento as
tradicionais cadeiras de barbeiro da marca “Ferrante”, com uma placa indicando
o endereço da marca, já extinta: Rua Independência, número 100, São Paulo.
Yoshida comprou as cadeiras já usadas e estima que elas têm mais de 80 anos. O
mobiliário, repintado, ele calcula que tem “uns 60 anos”. Yoshida lembra que
pensou em mudar a mobília, mas a prefeitura “não deixou” e orientou que ele
fizesse apenas a repintura. “O mercado pra mim é tudo, criei todos os meus
filhos trabalhando na barbearia. É uma vida aqui”, diz.
O mesmo caminho está trilhando a
família do casal Gilberto Danilow e Rosangela Xavier Danilow. Proprietário de
uma casa de massas, Gilberto já está há 23 anos no Mercado e hoje tem toda a
família trabalhando no negócio. Além do casal, trabalham os três filhos, de 30,
25 e 22 anos. “Amo demais este lugar. O trabalho no mercado me deu tudo que
consegui na vida”, afirma ele.
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