“Conhecer o Arquivo Público de Curitiba é
saber que caminhamos sobre a história”, diz Vitória Gabriela da Silva
Kohler, estagiária de História que faz parte do projeto “O Papel do Arquivo”,
desenvolvido pelo Departamento de Gestão do Arquivo Público Municipal da
Prefeitura de Curitiba, para facilitar o acesso a milhares de documentos
históricos da cidade.
O
Departamento integra a estrutura da Secretaria de Administração, Gestão de
Pessoal e Tecnologia da Informação (Smap). A iniciativa foi implementada em
parceria com o Imap (Instituto Municipal de Administração Pública).
Cerca
de 4.500 alvarás de construção foram digitalizados e incluídos na base de dados
desde o início do projeto, em 2022. O objetivo é digitalizar e indexar os
documentos disponíveis na sede de armazenamento e trabalhos técnicos do Arquivo
Público, no CIC, preencher lacunas de informações sobre as edificações da
capital, além de aumentar a celeridade ao atendimento das demandas de pesquisadores
e da comunidade em geral.
CONHECIMENTO QUE NÃO SE
PERDE - O acervo
armazena milhares de projetos produzidos entre 1900 e os dias atuais – a
maioria preservada em microfilmes – e que têm sido digitalizados em ordem
cronológica, com especial atenção à catalogação histórica e arquitetônica dos
edifícios construídos antes de 1932 e que não dispunham, até então, de uma
ferramenta informatizada de consulta.
Kelton
Sabatke, gerente de Acervo e Pesquisa do Departamento de Arquivo Público, conta
que o projeto nasceu das elevadas demandas e do propósito de expandir as
atividades de pesquisa dentro do acervo.
“Esse projeto é capaz de potencializar a
difusão dessas informações, ajudar em pesquisas, já que o conhecimento que é
socializado não se perde, e contribuir para que as pessoas entendam que o
patrimônio é algo coletivo”, ressalta ao observar que, com a divulgação,
fica assegurada a preservação.
Sabatke
destaca edificações de valor histórico para a cidade que têm suas informações
pesquisadas em detalhes. Ele cita o projeto do Palácio Avenida, edificação de
estilo eclético construída no fim dos anos 1920.
Os
registros são feitos com base na Norma Brasileira de Descrição Arquivística
(Nobrade) e todas as informações são públicas e, mediante solicitação, podem
ser conferidas por qualquer pessoa interessada nesse conhecimento.
Para
acessar o acervo histórico da Prefeitura, basta fazer o pedido à equipe do Departamento de Gestão do Arquivo Público Municipal, pelo e-mail arquivopublico@curitiba.pr.gov.br.
OUTRO OLHAR - “Eu costumo falar para os estagiários que aqui no acervo a gente tem as
respostas para milhares de perguntas, só é preciso saber o que perguntar”,
resume Sabatke, que é historiador de formação, especialista em patrimônio
histórico e restauro e mestre em história contemporânea. Ele conta que foi a
partir do aumento no número de perguntas sobre os alvarás que surgiu a ideia de
desenvolvimento do projeto e a necessidade da contratação dos estagiários.
Sabatke
integra também o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, colegiado
consultivo, deliberativo, propositivo, controlador e fiscalizador da política
municipal da cultura no âmbito do Patrimônio Cultural.
A
estagiária de Arquitetura e Urbanismo Tauany Tereza Meneguelo passou a enxergar
a cidade por outros olhos desde seu início no projeto. “Eu nunca fui de sair de casa. Então parece que eu conheço mais Curitiba
trabalhando no projeto do que durante esses anos todos que eu morei aqui.
Conhecer as plantas das construções e ver a evolução arquitetônica da cidade me
fez ter vontade de passear por Curitiba”, comenta a jovem.
O método - Para realizar as pesquisas, os
estagiários utilizam a Hemeroteca Digital Brasileira, que é um acervo de documentos e jornais históricos
mantido pela Biblioteca Nacional Digital. O BNDigital é um sistema aberto
voltado à preservação da memória documental brasileira, com amplo acesso do seu
acervo.
“Através das manchetes dos jornais antigos, a
gente direciona as nossas pesquisas, encontrando o nome das pessoas que estão nas
plantas, o que eram as casas que hoje são desabitadas, enfim, a gente encontra
muitas curiosidades, até assassinatos já descobrimos enquanto trabalhávamos em
uma pesquisa” explica Tauany.
UNIDADES DE INTERESSE DE
PRESERVAÇÃO - Um dos
projetos recentes atrelados à digitalização dos documentos foi o estudo de
Unidades de Interesse de Preservação do Município (UIPs), no qual os estudantes
pesquisaram imóveis de valor histórico, cultural e arquitetônico protegidos
pelo Município, analisando quão preservados eles estavam, por meio da
comparação entre os desenhos dos alvarás originais e imagens atuais das
edificações obtidas pelo street view do Google Maps.
“Esse foi o estudo em que mais imergi na
pesquisa. Hoje, quando ando pelas ruas, consigo ver os prédios e relacionar o
que vejo com o estudo no Arquivo. Sempre tento contar às pessoas ao meu redor e
levar para dentro da sala de aula o que tenho descoberto aqui, é muito
gratificante” fala Tauany.
“O verdadeiro significado do nosso projeto é
a conservação de documentos históricos. É muito legal ter contato com plantas
de monumentos históricos, que guardam informações raras, por exemplo, prédios
que a gente passa na frente e nem imagina a sua história”, explica Vitória.
De
acordo com dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc),
Curitiba tem 650 UIPs.