A
importância da proteção ao meio ambiente e as lendas paranaenses transformadas em
arte. Assim é a exposição virtual “Casas Novas Não Têm Fantasmas”, do artista
plástico londrinense Chico Santos. Programada inicialmente para acontecer em
ambientes naturais, abertos ao público, a mostra precisou migrar para o
ambiente virtual por causa da pandemia do novo coronavírus. Com isso, as obras
poderão ser vistas, gratuitamente, no site www.artenomato.com.
A
exposição virtual leva o espectador a conhecer os mitos e lendas criados por
Chico Santos a partir de suas inquietações a respeito das relações do homem com
a natureza. As obras apresentadas foram concebidas originalmente no projeto
“Mitos Paranaenses”, em que Chico Santos cria uma série de lendas e “causos” a
partir de histórias verídicas para reforçar a urgência de se preservar o meio
ambiente. Em tempos de “fake news”, o artista plástico se vale desse artifício
para criar suas obras e por meio de uma história inventada chamar a atenção
para um problema verdadeiro: o descaso com o meio ambiente.
A
galeria virtual reúne uma série de oito vídeos, apresentada pela professora de
artes, Suellen Stanislau, que mostram as obras do artista, feitas em madeira
reciclada, terra cota, fios de algodão, entre outros materiais. Para manter ao
máximo a ideia original, que era levar o público a contemplar as peças em um
lugar florestado, os vídeos com as obras foram gravados no Jardim Botânico de
Londrina.
O
primeiro episódio da série é o “Arte no Mato”, que traz uma espécie de guia que
conduzirá o espectador pelas obras apresentadas nos episódios seguintes, bem
como faz uma apresentação do artista Chico Santos e sua trajetória. Na
sequência, os vídeos, todos captados pelo cinegrafista Marcos Assi, apresentam
as obras e os contextos em que foram concebidas, a partir das lendas e mitos
paranaenses.
Entre
os episódios que compõe a exposição virtual também estão o registro de um
cortejo conduzido por guardiões da mata, com a participação de índios Kaigangs,
que ainda aparecem em outro vídeo da série, desta vez narrado em sua língua materna,
uma instalação artística gravada em toda a bacia do Rio Tibagi.
Chico
Santos também convidou para integrar a exposição virtual “Casas Novas Não Têm
Fantasmas”, o artista Guilherme Gerais. Em sua participação, Gerais leva o
espectador a percorrer uma exposição virtual dentro da exposição virtual.
ARTE VINDA DO POVO - Os trabalhos apresentados nesta
exposição virtual foram concebidos e desenvolvidos por Chico Santos a partir de
uma série de atividades desenvolvidas antes da pandemia em quatro municípios do
Paraná: Primeiro de Maio, Jataizinho, Telêmaco Borba e Ortigueira. Esses
municípios têm em comum o Rio Tibagi, que nessas regiões acabou sendo afetado
pelas Usinas Hidrelétricas de Mauá e Capivara – na divisa do Paraná com São
Paulo.
O
trabalho nessas localidades se valeu, além das lendas, da participação ativa
dos moradores das cidades, das populações ribeirinhas e das tribos indígenas
que habitam essas regiões. O artista plástico realizou uma pesquisa em cada um
dos municípios envolvidos que serviram de base para a criação de esculturas e
videoarte que dão forma e materialidade aos “causos”.
Para
isso, Santos, acompanhado de uma equipe de gravação de imagens e áudio, colheu
depoimentos de moradores sobre essas histórias e suas diferentes versões. A
produção ainda incluiu a realização de um cortejo-performance com os “Guardiões
da Floresta”, criados por Chico, que representam as casas e igrejas que andam
ou navegam.
AS LENDAS DE CADA REGIÃO
- Na região de
Primeiro de Maio e de Jataizinho, a história que alimenta o trabalho de Chico
Santos é a de uma igreja que é vista flutuando pelo rio Tibagi em diferentes
pontos. A construção de madeira teria pertencido a uma comunidade que vivia às
margens do Rio Tibagi extraindo argila para fabricação de cerâmica. Com o
represamento das águas que formam o reservatório da Usina Capivara, as casas e
a igreja da comunidade foram encobertas pelas águas. Mas a igreja “sobreviveu”
e agora navega rio abaixo e rio acima. Moradores antigos dizem que a construção
de madeira flutua em busca de um novo local para se instalar.
Já
na região de Ortigueira e Telêmaco Borba, a história que se conta é a de uma
casa que tem sido avistada flutuando pelo rio Tibagi. A construção começou a
aparecer após a formação do lago que alimenta a Usina de Mauá. Dizem que tal
casa pertencia a um ermitão que vivia em uma das ilhas do Tibagi, encoberta com
o seu represamento. Os moradores dizem que o ermitão se recusou a deixar o
local, mesmo tendo sido alertado que as águas o encobririam. Ele representa a
resistência contra a construção da usina, que houve por parte da população das
cidades da região e principalmente da tribo indígena que habitava o lugar, que
foi submerso.
O
projeto “Casas Novas Não Têm Fantasmas” foi aprovado no Programa Estadual de
Fomento e Incentivo à Cultura (PROFICE) da Secretaria de Estado da Comunicação
Social e da Cultura, Governo do Paraná e conta com apoio da COPEL.
Nenhum comentário:
Postar um comentário