Depois
de mais de um ano de portas fechadas ao público em decorrência da pandemia da
Covid-19, o Museu Paranaense (Mupa)
reabriu com quatro novas exposições: “Agrocorpus”, "Curitiba: Símbolos em
Questão", “Eu Memória, Eu Floresta: História Oculta” e “Educação pela
Pedra”. Seguindo todos os protocolos de segurança, o museu estará repleto de
novidades para quem está com saudades do contato direto com a cultura. Visitas
aos finais de semana e feriados, mais sujeitos à aglomeração, deverão ser
agendadas no site do museu.
Dando
início à parceria com a Fundação Joaquim Nabuco, do Recife (PE), o Mupa
apresenta “Educação pela Pedra”, mostra com curadoria de Moacir dos Anjos e que
tem como eixo temático o centenário de nascimento do escritor e poeta recifense
João Cabral de Melo Neto. As obras investigam os afetos canalizados pelos
versos do poema que dá nome à exposição, escritos em 1966.
“O poema nos apresenta a pedagogia da pedra e
a sua capacidade de nos ensinar por ela própria, uma cartilha muda, mas que nos
educa. Pode ser entendida como a metáfora de nossa relação com a arte: a
capacidade que a arte tem de nos emancipar e educar por ela própria, nos fazer
ver o mundo de outra maneira”, afirma o curador, que inaugurou a ponte
aérea do projeto no final de novembro de 2020 para a montagem da mostra.
Participam
da exposição os artistas Oriana Duarte, Marcelo Moscheta, Jonathas de Andrade,
Jimmie Durham, Cinthia Marcelle, Traplev, Agrippina Manhattan, Louise Botkay e
Randolpho Lamonier, além de Caetano Veloso, que só entrou na montagem
curitibana. A canção do músico baiano “If you hold stone”, que permeia a
mostra, foi composta no exílio em homenagem à artista brasileira Lygia Clark e
descreve a experiência de interagir com o trabalho da artista, sugerindo que o
contato com a pedra gera conhecimento.
As
obras reunidas no espaço expositivo do Museu, no Centro Histórico da Capital,
têm ou não a pedra como referência direta, mas de alguma forma remetem às
lições do poema de João Cabral: a resistência, a concretude, a concisão e a
impessoalidade. São audiovisuais, instalações e fotografias que desafiam o
espectador na capacidade de articular a arte com a sua própria bagagem e
aspirações.
ERVA-MATE – Também em cartaz, “Eu Memória, Eu
Floresta: História Oculta” propõe diferentes olhares sobre a erva-mate por meio
de obras, objetos e documentos históricos provenientes do acervo do Mupa. A
mostra faz parte do Circuito Ampliado – Acervos em Circulação, que contará com
exposições em dois locais. Além do Museu Paranaense, o Palacete dos Leões, sede
do Espaço Cultural do BRDE no Paraná, receberá em breve a mostra “Narrativas e
Poéticas do Mate”. O circuito conta com a parceria do Museu Oscar Niemeyer e
terá vigência até 2022.
A
exposição montada no Mupa apresenta a erva-mate a partir de alguns eixos: os
usos e saberes dos povos indígenas do Sul ligados à planta, bem como seus
primeiros locais de cultivo: as florestas; o beneficiamento artesanal da
erva-mate por pequenos produtores; e aspectos relacionados à representação
científica e artística da natureza feitos por viajantes estrangeiros e
pesquisadores.
Fazem
parte da exposição um amplo conjunto de fotografias, peças tridimensionais,
reproduções do álbum Voyage pittoresque et historique au Brésil, de Jean
Baptist Debret, além da emblemática fotopintura Família Kanhgág no Museu
Paranaense, de 1903, especialmente restaurada para fazer parte da exposição.
Dentre
as dezenas de peças do acervo do Mupa, a exposição conta ainda com uma obra do
artista indígena wapichana Gustavo Caboco. De maneira poética, ela propõe uma
atualização da história indígena ligada à erva-mate, questionando o lugar dos
saberes dos povos originários em contraposição à história “oficializada”. A
obra comissionada faz parte do acervo da instituição.
“Entendemos que dessa forma reforçamos o
diálogo com as comunidades que representam os temas abordados, trazendo uma
reflexão sobre o papel do museu na sociedade”, afirma a diretora do Museu,
Gabriela Bettega.
VIDEOPERFORMANCE – A instalação “Agrocorpus”, em
exposição no Espaço Vitrine, traz a videoperformance do artista Rodrigo PC. A
proposta expositiva foi uma das selecionadas no I Edital de Ocupação do Espaço
Vitrine, lançado pelo Mupa em 2020. Além de Agrocorpus, foram selecionadas mais
duas propostas expositivas: “Como fazer um buraco em uma pedra com uma colher”,
de Érica Storer de Araújo, e “Finalmente Museu!”, do escritório de arquitetura
CLUBE.
Com
23 minutos de exibição, a obra estabelece uma conexão entre o corpo negro, o
solo e as forças da natureza, explorando a resistência do artista em estado
estático. "Rodrigo PC traz à tona em
suas performances as entranhas de uma história escrita às custas da pele negra
e indígena, que, assim como ele, tem os pés fincados no chão do Brasil, feito
raiz que brota e rompe o solo seco da narrativa”, reflete a artista e
pesquisadora Roberta Stubs no texto curatorial.
SÍMBOLOS – Em tempos proibitivos para viagens
transterritoriais, o Mupa propõe uma jornada histórica entre o passado e o
presente da Capital com a mostra "Curitiba: Símbolos em Questão".
Entre os objetos que fazem parte da exposição, peças importantes que ajudam a
compor a iconografia da cidade, tais como a escultura do século XVII “Nossa
Senhora da Luz dos Pinhais” e a pintura “Cidade Adormecida”, do artista
norueguês radicado no Paraná, Alfredo Andersen.
Três
registros fotográficos do artista Fernando Zanoni, que fazem um contraste com
os objetos históricos presentes na exposição, foram adquiridos para a mostra e
passam a integrar o acervo do museu. “Uma
experiência interessante que a exposição pode trazer é poder olhar para o
passado e o presente em um único espaço. Por meio de um grande contraste entre
histórias e memórias das diferentes épocas é possível perceber o grande
desenvolvimento da cidade nos últimos tempos”, indica Gabriela Bettega.
MUSEU PARANAENSE – Idealizado por Agostinho Ermelino
de Leão e José Candido Murici, o Museu Paranaense foi inaugurado no dia 25 de
setembro de 1876, no Largo da Fonte, hoje Praça Zacarias, em Curitiba. Com um
acervo de 600 peças, entre objetos, artefatos indígenas, moedas, pedras,
insetos, pássaros e borboletas, era então o primeiro no Paraná e o terceiro no
Brasil.
Em
1882 transformou-se em órgão oficial de Governo do Estado, passando a receber
contínuas doações. Desde a sua inauguração, ocupou seis sedes, até fixar-se na
atual, o Palácio São Francisco. Segmentado entre Antropologia, Arqueologia e
História, o espaço está estruturado para a realização de projetos e atividades
culturais, atingindo os diversos segmentos sociais.
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