Além
das pinturas de Alfredo Andersen, o Museu que leva seu nome em Curitiba também
guarda uma série de documentos, correspondências e objetos pessoais do pai da
pintura paranaense. Esses objetos, de imenso valor histórico, agora estão
devidamente conservados e deverão durar muitos anos.
A
iniciativa foi de Tatiana Zanelatto Domingues, artista plástica e restauradora,
que propôs o projeto e supervisionou o trabalho executado pelas conservadoras
Silvana Brunor e Ângela Maria Silva Cherobim. A entrega oficial e finalização
dos trabalhos aconteceu no final de fevereiro.
“Tenho uma ligação forte com o Andersen, não
apenas por ser artista plástica de formação, mas porque minha vida começa no
CJAP e também sempre morei na região”, pondera Domingues. “Vi que a reserva precisava de atenção e
escrevi um projeto, uma proposta de curso, e a contrapartida foi a restauração.
Tinha uma dívida com o Museu”.
É
desse sentimento de gratidão que veio o projeto para o edital do mecenato da
Prefeitura da Capital. “A gente sentia a
necessidade de fazer esse trabalho, mas não tinha nem a formação nem o acesso
aos materiais. A gente só tem a agradecer o carinho e a dedicação da Tati e sua
equipe” conta Cristiane Kusmann, pesquisadora do Museu Alfredo Andersen.
“Os materiais estavam conservados de forma inadequada.
Os documentos precisam de papéis especiais, sem tratamento de ácido, para serem
protegidos, e isso é caro. E mesmo a mão de obra, que o Museu Alfredo Andersen
não tem”, reforça.
HISTÓRIA VIVA – Entre os documentos, agora
preservados, estão postais, cartões de visita e um caderno de anotações de
registro de Andersen. “O caderno de
anotações é uma joia porque fornece informações de como ele se organizava, como
montava as exposições. Tinha o cuidado de anotar quem é o autor, quanto queria,
quem visitou a exposição. São informações muito importantes da época”,
reforça Vidal.
No
caderno é possível ver, por exemplo, o método de organização e a caligrafia de
Andersen, que são uma forma de mergulhar na sua mente para além das próprias
pinturas. O mesmo vale para os postais e a série de cartões de visita que eram
trocados com o pintor, símbolos da vida urbana e efervescência cultural da
época em que Andersen viveu.
LEGADO – Além da necessária organização e
catalogação, os documentos agora estão armazenados em envelopes de
polipropileno (não agressivo) e papel específico, já que os papéis comuns,
usados no dia a dia, passam por um tratamento com ácido que barateia o
processo, mas são extremamente danosos para o material no longo prazo.
A
manipulação também exige cuidado. Além do uso da luva, que já era padrão, o
manuseio agora só acontece com EPIs, equipamentos de proteção que incluem até
mesmo a máscara, evitando que a umidade corporal contamine o acervo.
Para
Domingues, é uma oportunidade de permitir que as próximas gerações entrem em
contato com o material. “A gente posterga
o legado, mas também a experiência estética para os próximos anos. Agora esse
material tem chance de se manter por muito tempo”, afirma.
“Esse trabalho é de uma importância muito grande
e a gente jamais conseguiria sem a Tatiana”, elogia Luiz Gustavo Vidal,
diretor do Museu Casa Alfredo Andersen (MCAA) e do Centro Juvenil de Artes
Plásticas (CJAP). “Os documentos são
importantes porque só podemos avançar para o futuro conhecendo o passado. O
trabalho é um marco. Estamos planando uma semente que vai ficar para as futuras
gerações”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário