Que
local na sua cidade é o mais importante pra você? Foi com esta questão que a
bailarina Patrícia Machado e o fotógrafo Tom Lisboa abordaram os moradores de
Assis Chateaubriand, Lapa, Jacarezinho e Prudentópolis, no interior do Paraná.
A ideia de conhecer estes locais por meio da perspectiva de seus habitantes era
a proposta inicial do projeto “Coreo(codes): Movimentos Codificados em Espaços
Singulares”. O resultado foi materializado na forma de um livro que será
lançado nesta sexta-feira, dia 01/07, às 19h, na SOMA Galeria (Av. Sete de
Setembro, 5708, Batel). Além da equipe de criação e técnica estarão presentes
para um bate-papo alguns participantes do livro.
“Coreo(codes)”
é um livro sobre cidades e resgata a sensação de pertencimento ao local em que
se habita por meio da subjetividade de quem ali mora. Essa história, no
entanto, é contada de uma forma bem singular. Ela combina depoimentos,
fotografias desses lugares e QR Codes que transferem o leitor para uma
experiência dançada em cada um dos locais escolhidos.
O
desejo de realizar este projeto nasceu em 2016, mas só se concretizou em 2021,
em plena pandemia da Covid-19 e, por causa disso, algumas ações tiveram que ser
adaptadas para o formato virtual. O primeiro uso foi para selecionar os
participantes. A produção de “Coreo(codes)” fez circular nas redes sociais uma
convocatória para os moradores destes locais participarem de um projeto de
dança, mas que não era necessário nenhum tipo de experiência prévia. Já a
plataforma zoom foi fundamental na realização das oficinas ministradas sob
orientação da bailarina e coreógrafa Patrícia Machado. Foram cinco encontros
com cada grupo das cidades selecionadas. Nesta etapa, os participantes eram
incentivados a improvisarem movimentos e produzirem pequenas coreografias
inspiradas em lugares com os quais eles tinham uma conexão afetiva. O encontro
presencial só acontecia quando o grupo de uma cidade concluía suas criações
coreográficas. Aí a equipe se deslocava até o município para Tom fotografar e
filmar o que havia sido ensaiado nos lugares escolhidos pelos participantes.
Foram mais de dois mil quilômetros percorridos pelas estradas do Paraná para
realizar estes registros.
“Mesmo tendo realizado grande parte do
projeto de forma virtual, criamos um vínculo afetivo com os moradores, era
emocionante conhecê-los presencialmente no dia das filmagens. Partilhamos
histórias íntimas ao longo do processo. Reencontrar alguns deles neste
lançamento será especial”, comemora Patrícia.
A
bailarina e coreógrafa conta o quanto foi interessante discutir território,
corpo, movimento e modos de pertencer e criar presença nos espaços justamente
no período em que lidávamos com as restrições impostas pela pandemia. “Nesses últimos anos fomos sendo obrigados a
voltar nosso olhar para os ambientes. A questão corpo-espaço mudou
completamente. Ao longo do processo de criação os próprios participantes foram
questionando o que entendiam como lugar e o que para eles fazia mais sentido, o
que de fato tinha importância. Eles trouxeram para o trabalho lugares como a
sala da casa, o colo da vó. A dança serviu como ritual para despedidas e
reconhecimento dos espaços”, revela.
“Uma das belezas do projeto foi o modo como
os participantes nos abriram suas vidas e mostraram, em seus corpos, um pouco
de sua história e como se relacionam com o lugar onde vivem”, acrescenta
Tom.
Enquanto
Patrícia provocava as narrativas, Tom era o responsável por ilustrá-las. “Coreo(codes)” reúne 27
coreografias/performances que são acessadas por QR Codes, resultado do registro
fotográfico de Tom Lisboa que foi transformado em stop motions. As animações
foram compostas, cada uma, por cerca de 300 fotografias editadas e tratadas
individualmente. “Utilizei como referência um stop motion que vi na Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo, “Mantenha-me em Pé” (Tiens-moi droite,
2012), da cineasta francesa Zoé Chantre. Era uma espécie de "filme rascunho",
que era continuamente apagado e refeito. Achei poeticamente impactante porque a
vida é uma obra que não se passa a limpo, está sempre em processo. Como eu
nunca havia trabalhado com esta técnica, foi desafiador, mas, sobretudo, pelo
volume de trabalho. Para cada coreografia com duração de um minuto eu precisava
ter pelo menos 300 fotos que eram tratadas uma a uma”, conta o fotógrafo.
“Essa técnica escolhida pelo Tom nos ajudou a
compreender a imagem do movimento como rastro do que deixamos de nós nos
lugares, rastros silenciosos, mas repletos de vibração”, comenta Patrícia. “Coreo(codes)”
se revela, para mim, como uma dança poética de coexistência no lugar que
integra o visível e o invisível de habitar um tempo-espaço”, completa.
“A conexão criativa que se estabeleceu com a
equipe e com cada um dos participantes foi muito gratificante, este projeto
possibilitou que descobríssemos novas potencialidades em nós mesmos”,
conclui Tom.
Para
assistir as coreografias de “Coreo(codes)” é preciso apontar a câmera de um
celular para o QR Code das páginas do livro. Os stop motions não têm som, mas
incluem uma indicação de trilha sonora sugerida tanto por Patrícia, quanto por
Tom e por quem realizou a performance. Após o evento o livro será comercializado
online.
“Coreo(codes)”
é um projeto realizado com o apoio da Copel, por meio do PROFICE (Programa
Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura), da Secretaria de Estado da Cultura
– Governo do Estado do Paraná.
SOBRE OS CRIADORES
Patrícia Machado é bailarina, coreógrafa, performer e
artista docente. Tem formação em Dança pelo Institut del Teatre de Barcelona,
Espanha, mestrado em Mediações Educacionais em Artes, pela UNESPAR e é
doutoranda em Pedagogia das Artes Cênicas, na UDESC. Atuou na Leine and Roebana
Dance Company – Amsterdam, It Danza Joven Compañia – Barcelona, CEDECE –
Companhia de Dança Contemporânea – Lisboa e no Balé Teatro Guaíra, Curitiba.
Interessada na causa do refúgio e migração, desde 2016 desenvolve trabalhos
coreográficos e performativos com a temática. É idealizadora e colaboradora de
diferentes projetos na transversalidade da arte e educação como o “Criança que
Dança Haiti”, projeto que promove performances e atividade artísticas com
jovens em situação de vulnerabilidade social em Porto Príncipe, no Haiti e o
Visita Guiada. Cofundadora do Coletivo Nós em Traço, grupo de artistas
interessadas em alternativas para arte e educação através do diálogo entre o
corpo, movimento e traço.
Tom Lisboa tem Mestrado em Photography and Urban
Cultures, pela Goldsmiths, University of London e Mestrado em Comunicação e
Linguagens, pela Universidade Tuitui do Paraná. Atua como artista visual,
professor de cinema e fotografia, curador independente e está radicado em
Curitiba desde 1987. Em 2020, recebeu, do estado do Paraná, o Prêmio de
Reconhecimento por Trajetória Cultural Aldir Blanc. Em 2018, foi agraciado pelo
governo britânico com o prêmio Chevening Awards, um programa de bolsa de
estudos internacional que permite que profissionais com qualidades de liderança
de mais de 160 países e territórios realizem estudos de pós-graduação ou cursos
em universidades no Reino Unido. Em 2012, recebeu o Prêmio FUNARTE Marc Ferrez
de Fotografia e, em 2005, o Prêmio Porto Seguro de Fotografia, na categoria
pesquisas contemporâneas, com a série “polaroides (in)visíveis”. Neste mesmo
ano, foi ainda mapeado pelo Rumos Itaú Cultural. Foi um dos artistas convidados
da Bienal de Cerveira(2013), em Portugal; Photovisa(2015), na Rússia e
Encuentros Abiertos(2008), na Argentina. Participou ainda dos principais
festivais de fotografia do país (Paraty em Foco, Fest POA, Foto Arte, Semana da
Foto em Curitiba).
FICHA TÉCNICA
Concepção
e Criação: Patrícia Machado e Tom Lisboa
Direção
de Movimento: Patrícia Machado
Fotografia
e Stop Motion: Tom Lisboa
Montagem:
Lívea Castro
Projeto
Gráfico: Letícia Lampert
Revisão
Português: Ana Guida
Revisão
Inglês: Liane von Mühlen
Texto
dos participantes e tradução para inglês: Tom Lisboa
Produção:
Artéria Cultural
Assistente
de Produção: Alessandra Lange
Publicação:
Drops Cultural
Rede
Social: Ana Paula Luz
Assessoria
de Imprensa: Glaucia Domingos
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