Os
dados levaram o órgão regulador a abrir uma consulta pública sobre a
obrigatoriedade legal da meia-entrada e seus impactos no mercado exibidor. A
discussão está aberta para contribuições até 13 de agosto, mas o Ministério da
Economia já se manifestou e defendeu a extinção de todas as regras que garantem
o benefício.
Toda
a análise tem como base as informações do Sistema de Controle de Bilheteria
(SBC), por meio do qual a Ancine tem acesso às informações de mais de 3 mil
salas em todo o País desde 2017. Os dados são fornecidos praticamente em tempo
real e mostram os números de vendas de ingressos por categoria, dia, horário e
filme. As meias são divididas em legais (permitidas por lei), promocionais –
por meio de parcerias comerciais com operadoras de telecomunicações ou bancos,
por exemplo – e cortesias, ou seja, bilhetes gratuitos.
PUBLICIDADE - Com base nas informações fornecidas pelas redes de cinema no Brasil, a Ancine descobriu que venda de ingressos na categoria inteira, que era cerca de 30% em 2017, caiu para 21,6% no ano passado. Quase 60% das meias-entradas concedidas no ano passado estavam ligadas às diversas leis que existem no País sobre o tema.
Há
três leis federais sobre o assunto, que garantem o benefício a estudantes,
jovens de baixa renda, pessoas com deficiência e adultos com mais de 60 anos. A
estimativa da Ancine é que 96,6 milhões de brasileiros se enquadrem nos termos
da legislação federal – quase metade da população medida pelo IBGE, de 211
milhões de habitantes.
Existem
também leis editadas por Estados e municípios, que ampliam o alcance da
meia-entrada. Na cidade do Rio de Janeiro e no Estado de São Paulo, professores
da rede estadual e municipal pagam menos. Dependendo do Estado e do município,
há ainda benefícios para servidores públicos, doadores de sangue, portadores de
câncer, doadores de medula, além de sindicatos de categorias profissionais.
Para
o ex-secretário de Política Econômica e presidente do Insper, Marcos Lisboa, a
meia-entrada nos cinemas é uma distorção que se repete em diversos setores,
como no crédito, que é subsidiado para alguns setores, e no transporte público,
que é gratuito para alguns grupos. Na avaliação dele, em todos os casos, se o
Estado quer beneficiar algum grupo, deve pagar pelo subsídio com recursos do
orçamento.
Segundo
Lisboa, porém, há outras formas melhores de utilizar os recursos públicos do
que custear entradas de cinema.
“O Brasil tem há muitos anos essa prática de
criar distorções, em que se oferece um preço diferente para um certo grupo, e o
que acontece é que o custo tem que ser coberto e preço cheio acaba ficando
muito maior. Se todo mundo paga meia, a meia vira a entrada cheia”, diz
Lisboa. “Isso expulsa quem paga o preço
cheio do mercado, e aí o preço tem que subir mais ainda. É um ciclo vicioso”.
(Infomoney)
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