terça-feira, 7 de março de 2017

Projeto "Mesmas Coisas" chega para inquietar

Um projeto que se cria a partir do livro homônimo inédito de Manoel Carlos Karam, que é mutante, colaborativo e envolvente. Esse é o “Mesmas Coisas”, que inicia uma série de apresentações gratuitas em quatros espaços alternativos da cidade, a partir do dia 10 de março, afim de compartilhar com o espectador experiências e procedimentos usados durante todo o processo de criação, engajando diferentes profissionais e múltiplas ações performativas. As apresentações se ramificam em quatro espaços de Curitiba: Centro Cultural SESI Heitor Stockler de França, Casa Hoffmann, Companhia Brasileira de Teatro e Apê da 13.
Para além das apresentações, o projeto propõe encontros com o público num formato de fronteiras borradas, onde cabe uma peça, uma serenata, uma performance, uma exposição, um filme, tudo isso numa espécie de quebra cabeças, um puzzle, um jogo sem fim entre os textos do Karam e as nossas obsessões ordinárias. A idealizadora do projeto é a atriz, jornalista, produtora, cantora, escritora e tudo mais Michelle Pucci. A ideia surgiu da monografia apresentada por Michelle Pucci como requisito para a graduação em Letras pela Universidade Federal do Paraná, em 2015. Na época, ela apresentou um trabalho sobre a literatura de Karam e seus desdobramentos, procurando dentro da obra do escritor o seu potencial cênico e as possibilidades de transposição da literatura ao palco. Na defesa contou com a orientação da professora doutora e escritora Luci Collin e colaboração de Nadja Naira.
Nadja e Michelle já realizaram outros projetos a partir da obra do autor como a leitura dramática de “Encrenca” (2007) que contou com a presença do próprio Karam na plateia; o disco “Respiro”, contendo uma música com letra de Karam (“Roquenrol”); uma crônica que mistura a voz de Michelle e do próprio Karam (“Inviável”) e a peça “A Cidade Sem Mar” (2016) com produção da Companhia Brasileira de Teatro, dentre outras. “Ali, eu decidi que não queria que meu TCC fosse um papel na estante. Queria que ele fosse um projeto que saísse do papel para o palco. Eu queria envolver todos os meus trabalhos. É um projeto sem fim”, contou Michelle. “O projeto é multi como Karam. Ele trabalhou com teatro, com publicidade, com literatura. Eu sou assim também e o projeto quer mostrar isso”.
Segundo ela, os ensaios começaram em novembro, sempre com as portas abertas. É uma relação horizontal com o público, onde ele influencia, onde ele ajuda, contribui. Em cada ensaio aberto, cerca de 50 pessoas comparecem. “No começo a gente tinha que chamar as pessoas, agora falta lugar”, disse ela. Várias pessoas que conviveram com Karam também participam do projeto, como o cartunista Solda e o iluminador Beto Bruel.

Obsessões que viram mais que arte

Das discussões em sala de ensaio a equipe identifica algumas das obsessões do escritor e se concentra em algumas questões: quais as nossas obsessões? Quais os nossos medos? Jogar alguma coisa na lata de lixo? Encontrar a palavra exata, a imagem exata, a descrição exata? Procurar verbetes no dicionário? Fazer aviõezinhos de papel, bolinhas de papel? Medos e obsessões viraram farras. E quais farras gostamos defarrear juntos?
As ações do projeto “Mesmas Coisas” iniciaram-se em novembro de 2016, na Casa de Leitura Manoel Carlos Karam mantida pela Fundação Cultural de Curitiba no Parque Barigui. Um flash mob de leitura proposto por Valêncio Xavier na orelha do livro “Comendo Bolacha Maria no Dia de São Nunca”. “Em janeiro de 2017, foram espalhados pela cidade lambe-lambes, colagens criadas pelo arquiteto Luca Fischer, que também assina a identidade visual do projeto.
Também a decisão de abrir os ensaios da peça para o público. "Quisemos abrir, escancarar a sala de ensaio, a peça, as portas. Ao invés de apresentar um resultado pronto depois de meses, achamos que seria mais karaniano expor a obsessão do processo, as experiências", afirma Michelle Pucci. "Nós oferecemos algumas cenas que surgem ao público que generosamente nos oferece um olhar diferente, que serve de material para outras cenas, numa ação circular sem fim", completa a diretora Nadja Naira.
Em fevereiro um filme começou a ser rodado, dirigido por Alan Raffo com Michelle Pucci, Marc Olaf, Edson Rocha, Muhammad Chab e Luca Fischer no elenco. "Karam era obcecado por cinema e por fazer roteiros de filmes, e nos escritos inéditos das "Mesmas Coisas" há várias sugestões de roteiros. Aceitamos como desafio e decidimos experimentar transformar em filme", diz a diretora Nadja Naira.
O cancelamento da Oficina de Música e a verba reduzida para o Carnaval de rua de Curitiba provocou e inspirou a equipe a fazer músicas e com elas serenatas pelas ruas da cidade. Cantora e pianista foram vistos, em fevereiro, na carroceria de um caminhão de mudanças. Verdade ou ficção? E as farras não acabam por aí.
O projeto tem uma série de apresentações marcadas em diferentes espaços na cidade, propositalmente, é claro. A busca por espaços culturais alternativos, ou até mesmo a rua, para as ações e intervenções, é um dado fundador do projeto. Karam não era convencional ou tradicional, era experimental. O autor morou durante anos na Rua São Francisco no centro de Curitiba, transitava frequentemente pelo Largo da Ordem, era um transeunte, uma pessoa que ocupava o espaço público. Circulava livremente entre meios e linguagens, formas e espaços.

Site será lançado neste mês

Também em março, acontece o lançamento do site do projeto (www.mesmascoisas.art.br). Um espaço destinado à documentação do processo e às memórias sobre o autor. Luci Collin, escritora e professora doutora na UFPR, além de participar do projeto como testemunha ocular da história, vivenciando ensaios e interagindo com textos criados em tempo real, colabora ativamente na composição do conteúdo do site. Esse projeto tem incentivo da Fundação Cultural de Curitiba e Banco do Brasil, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. O projeto “Mesmas Coisas” está desenvolvendo diversas ações a partir da obra que o inspira, como um livro ainda inédito de Manoel Carlos Karam intitulado “Mesmas Coisas”.

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