Uma
das paredes do pátio interno do Museu Casa Alfredo Andersen está ganhando
traços novos e ainda mais instigantes. Por conta do rompimento da Barreira de
Mariana (MG), que ocorreu em 5 de novembro de 2015 e deixou um rastro fatal de
19 mortos, foi criado um grande mural a seis mãos, pelos artistas Marcelo Le,
Luiz Lavalle e Bruno Romã.
À
época não se imaginava que pouco tempo depois, em janeiro de 2019, no município
de Brumadinho, também em Minas Gerais, se romperia outra barragem, causando uma
tragédia ainda maior, com um número total de 270 vítimas fatais.
Como
a pintura nos muros internos do Museu já começava a apresentar sinais de
desgaste pela ação das condições climáticas, Marcelo Le, com o apoio da direção
do museu, decidiu não apenas retocar a obra, mas ampliá-la, contemplando os
fatos ocorridos no ano passado, e acrescentando a ela uma nova narrativa.
O
diretor do Museu, Luiz Gustavo Vardanega Vidal Pinto, enfatiza a iniciativa dos
artistas, não só pelos temas abordados, como também pela qualidade técnica,
observando que é importante o espaço museal dialogar com o público através de
reflexões atuais, pois a arte também possui uma função social imprescindível
para sociedade.
Nascido
em Araraquara, no interior de São Paulo, há 43 anos, Marcelo Le, cuja formação
passou tanto pelas artes visuais quanto pela arquitetura, publicidade e
engenharia, há anos vem se dedicando exclusivamente à arte urbana. Embora
utilize tinta em spray, prefere não se definir como grafiteiro, porque também
emprega outras técnicas e materiais, como tinta de rolo.
“Sou um muralista”, diz Marcelo, que traz
para seu trabalho referências do cubismo de artistas como os espanhóis Pablo
Picasso e Juan Miró, e o abstracionismo do russo Wassily Kandinski, mas também
da arte e da literatura de cordel no Nordeste brasileiro. Ele também cita
Speto, como é conhecido o artista do grafite paulista Paulo Cesar Silva, cuja
arte pode ser vista em paredes e muros ao redor de Curitiba.
Para
a criação do mural, Marcelo, que está realizando o trabalho voluntariamente,
com recursos próprios, diz ter recorrido, como inspiração, à lenda hebraica do
Golem, que, segundo a tradição mística do judaísmo, seria um ser, criado
artificialmente, que ganha vida e, em vez de cumprir sua função original,
benéfica, se volta contra o criador, assim como as barragens em Minas Gerais.
O Museu Casa Alfredo
Andersen está situado na rua Mateus Leme, 336, Centro e pode ser visitado
gratuitamente de terça a sexta-feira das 9h às 18h; sábados, domingos e
feriados das 10h às 16h. Mais informações: 3222-8262 ou www.mcaa.pr.gov.br
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