quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O melhor de Clarice Lispector segundo seus fãs


Lidos e relidos, os contos de Clarice Lispector mantêm-se muito próximos de seus leitores, seres apaixonados e extasiados com os escritos da que ultrapassou fronteiras, conquistou todos os continentes, sendo eternizada até nos idiomas mais incomuns. Clarice na Cabeceira, organizado pela doutora em Letras Teresa Montero, é uma bem escolhida amostra de instantes de beleza retirados das obras de Clarice Lispector e apontados por 22 integrantes da legião de fãs da escritora. E não se trata de quaisquer fãs. Luis Fernando Verissimo, Fernanda Torres, Affonso Romano de Sant’Anna, Rubem Fonseca, José Castello, Maria Bethânia e Luiz Fernando Carvalho são algumas das personalidades que compõem o time estelar de colaboradores do livro.
A seleção afetiva realizada por esses escritores, atrizes, cineastas, cantoras, jornalistas e críticos literários reúne textos de cada um dos livros de contos de Clarice: “Laços de família” (1960), “A legião estrangeira” (1964), “Felicidade clandestina” (1971), “A via crucis do corpo” (1974), “Onde estivestes de noite” (1974) e “A bela e a fera” (1979). Junto a cada um desses 22 contos que compõem Clarice na Cabeceira, cada um dos leitores convidados compartilha a experiência de ter Clarice Lispector em suas vidas, seja por ter convivido com ela em algum momento, seja apenas por meio de seus livros. Em ambos os casos, a presença da escritora se faz marcante.
Luis Fernando Verissimo presenteia os leitores com recordações da amizade com Clarice. Iniciada primeiro através dos pais, Erico e Mafalda, na década de 50, quando todos viviam nos Estados Unidos, e continuada na década seguinte com a convivência de vizinhos no bairro do Leme, no Rio de Janeiro. A primeira impressão de Verissimo foi igual a de todo mundo: fascinação. Não só pela beleza eslava, pelos olhos meio asiáticos ou pelo erre carregado que dava a sua fala um mistério especial, mas também pelo humor e “aquele jeito de garotona ainda desacostumada com o tamanho do próprio corpo”.
Enquanto alguns descrevem o deslumbramento diante do poder de Clarice de criar textos ricos de significados a partir de passagens aparentemente comuns do cotidiano, outros preferem calar-se, como fez Fernanda Torres: “Tenho até vergonha de escrever. Qualquer comentário me parece obsoleto”. Há quem se veja diante de um mistério insolúvel ao lançar um olhar mais demorado sobre determinado texto, como faz Claire Williams, especialista em literatura luso-brasileira da Universidade de Oxford, com “O ovo e a galinha”: “É um conto em que se descobre algo novo em cada leitor, e em que se perde. Nunca o entendo, mas não é propriamente para entender”.
Clarice na Cabeceira revela os contos favoritos da autora de A hora da estrela e outros clássicos de acordo com as preferências de 22 formadores de opinião, e deixa no ar, implicitamente, a mesma pergunta para cada leitor: qual o seu texto de cabeceira de Clarice Lispector?
Cada um dos 22 participantes do projeto indicou uma biblioteca ou instituição para a qual a Rocco doou uma coleção da obra completa de Clarice Lispector.

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