quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Drama “Uma Espécie de Alasca” é a atração da Caixa Cultural no fim de semana


A peça “Uma Espécie de Alasca” será apresentada na Caixa Cultural Curitiba neste final de semana. O texto de Harold Pinter (Prêmio Nobel de Literatura em 2005) conta com a direção de Gabriel Fontes Paiva, que também é responsável pela adaptação do texto. A história foi inspirada na obra literária “Despertando”, de Oliver Sacks, que teve sua primeira publicação em 1973.
O elenco é formado por três atores: Yara de Novaes, que interpreta Débora, em coma há 29 anos após contrair a doença do sono (encefalite letárgica), que acorda com a mente de 16 anos de idade; Miriam Rinaldi e Jorge Emil, que interpretam, respectivamente, sua irmã Paulinha e seu cunhado, o dedicado médico Hornby. Os dois cuidaram de Débora ao longo de todo esse tempo. “Yara, Miriam e Jorge são artistas genuínos que gostam de se aventurar em territórios ainda não explorados porque sabem que é no risco que podemos avançar mais”, comenta o diretor Gabriel Fontes Paiva.

“Despertando” - A inspiração do inglês Harold Pinter para a peça veio da leitura do livro “Despertando”, do renomado neurologista Oliver Sacks, no qual o autor apresenta casos de pessoas que, depois de ter a vida suspensa por décadas, recobram a consciência em função de testes com um novo tipo de medicamento, descoberto na década de 1960. Pinter compreendeu aqueles pacientes até mais do que seus próprios médicos, segundo muitos deles observaram depois de assistir à primeira montagem do texto em Londres.
Por motivos explicados apenas pela espiritualidade ou sensibilidade de um gênio, o dramaturgo não precisou conversar com Sacks, nem visitar o hospital onde os doentes ficavam para entender a fundo sua alma. Isso mostra como o teatro pode mergulhar no inconsciente, resgatando de lá, sem juízo de valor, nossa mais sincera humanidade”, comenta o diretor, que assina também a adaptação. “O que me capturou nesse texto foi o quanto ele é profundo para tratar questões existenciais, utilizando como ponto de partida um caso real”.
O autor do livro, o neurologista Oliver Sacks, que faleceu em agosto de 2015, tornou-se notícia mundial em fevereiro daquele mesmo ano ao anunciar, em um artigo no jornal The New York Times, que não possuía muito tempo de vida em função do estágio avançado de um câncer. Ao invés de se lamentar ou relembrar com nostalgia sua genial trajetória, disse que se sentia agradecido pela oportunidade de se despedir da vida. “Nos últimos dias, tenho sido capaz de ver a minha vida a partir de uma grande altitude, como uma espécie de paisagem”.
O entendimento raro da existência foi conquistado por uma vida dedicada ao estudo neurológico do ser humano. Sacks, que conseguiu transformar casos médicos em best sellers por meio de um talento nato para escrita, trouxe notoriedade a questões prioritariamente de interesse médico. “Despertando” – obra que também inspirou a premiada montagem cinematográfica “Tempo de Despertar” – permitiu um novo e profundo olhar sobre as questões existenciais. Isto ocorreu em tamanha proporção que gerou no dramaturgo Harold Pinter a vontade de escrever uma peça inspirada em outra obra. “Um dia acordei com a sensação estranha de estar em um lugar e tempo distintos, lembrei do livro de Oliver Sacks, que tinha lido há quase uma década, e escrevi ‘Uma Espécie de Alasca’”, afirmou Pinter.

Um ambiente para o coletivo - Outro aspecto que chama a atenção nessa montagem é a reunião inusitada de grandes artistas. Alguns deles experimentando novas funções, outros pela primeira vez no teatro. O que não é o caso dos três atores: veteranos, reconhecidos e premiados, possuem o desafio de interpretar personagens complexos como alguém que dormiu por quase 30 anos, um médico que dedicou a vida inteira para descobrir a cura de uma doença e uma mulher que abriu mão da própria vida para cuidar da irmã. “Yara, Miriam e Jorge são artistas genuínos que gostam de se aventurar em territórios ainda não explorados porque sabem que é no risco que podemos avançar mais”, comenta o diretor.
Luiz Duva, um dos principais representantes brasileiros de vídeo-arte, performance e novas mídias, é o responsável pela concepção de vídeo da peça. Luísa Maita, um dos representativos nomes da nova MPB, teve sua primeira inserção em trilha sonora no comentado filme “Boyhood”. Maita possui grande reconhecimento nos EUA, com direito a apresentações esgotadas no Lincoln Center de Nova York e primeiro lugar de vendas no iTunes na categoria World Music. Quem assina com ela a trilha sonora é Jam da Silva, outro músico premiado, e também reconhecido internacionalmente. A troca de papéis fica por conta da renomada atriz Débora Falabella, que criou o figurino do espetáculo. “São pessoas com quem tenho muita afinidade artística, com as quais trabalho há anos em projetos artísticos. A Débora, por exemplo, sempre contribuiu muito em figurinos em nossa companhia, a Grupo 3 de Teatro, e já estava pronta para assinar sozinha uma montagem”, comenta Gabriel que também assina a iluminação do espetáculo junto com André Prado.

Indicadas para maiores de 12 anos, as encenações de “Uma Espécie de Alasca” acontecem sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. A apresentação de sexta-feira, dia 28, contará com tradução em Libras. Os ingressos custam R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia, conforme legislação e correntistas que pagarem com cartão de débito Caixa). A compra pode ser feita com o cartão vale-cultura. Mais informações: 2118-5111.

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