quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Grupo Galpão apresenta no Guairinha a peça “Outros”


Com mais de 35 anos de história e considerada uma das mais importantes companhias teatrais do cenário nacional, o Grupo Galpão traz para Curitiba, o espetáculo “Outros”, que dá continuidade à bem sucedida parceria do grupo mineiro com o diretor Marcio Abreu (companhia brasileira de teatro), iniciada com o espetáculo “Nós”, de 2016. Na montagem mais recente, o grupo foca na escuta, na busca pelo outro e aprofunda a reflexão sobre o hoje e o lugar do artista e da arte nos tempos atuais. Curitiba fecha a turnê do Galpão pelo sul do país e recebe o grupo em duas apresentações, nos dias 5 e 6 de outubro, sábado, às 21h e domingo, às 19h, no Guairinha. Nos dois dias haverá interpretação em libras. Os ingressos custam R$ 30,00 e R$15,00 (meia) e estão à venda no site www.ticketfacil.com.br e na bilheteria do Teatro Guaíra. O Galpão fará ainda um bate-papo com o público no dia 5 de outubro (sábado), às 10h, no Ave Lola Espaço de Criação, com entrada franca. Pelo sul o grupo passou por Canoas, Caxias do Sul, Blumenau e Florianópolis.
Alteridade e poesia. Foi mergulhando nesses dois temas que diretor, atores e atrizes começaram, na prática, o processo de criação de “Outros”, que nasce como uma consequência natural do amadurecimento das dúvidas e inquietações contemporâneas trabalhadas na montagem de “Nós” (2016). “’Outros’ é exatamente a expressão desse momento nosso. É um desdobramento consciente do primeiro trabalho que fizemos juntos. É uma experiência criativa que aprofunda a pesquisa numa escuta social performativa, que se constitui dramaturgicamente valendo-se de percepções múltiplas do mundo e de como ele age sobre nós”, explica o diretor.
Durante o processo de pesquisa para a montagem, os atores e atrizes se debruçaram em diversas leituras, chegando a aprofundar em alguns textos como “Frigorífico”, do francês Joel Pommerat, e “Os Embebedados”, do russo Ivan Viripaev. As leituras contribuíram para o direcionamento do trabalho e serviram de material, junto com outros exercícios, para a criação da dramaturgia, elaborada em conjunto por Marcio Abreu e os atores do Galpão, Eduardo Moreira e Paulo André. O caminho levou a uma estrutura dramatúrgica que foi além da extensão da palavra para conseguir expressar o que extrapola a fala, dando espaço e importância a outras formas de linguagem, como o silêncio, por exemplo. O resultado é uma peça tecida com os rastros de memória presentes não só no discurso, mas nos corpos das atrizes e atores que ocupam a cena.
O texto do espetáculo foi construído na sala de ensaio, a partir do material levantado em exercícios e performances de rua, individuais e coletivas - que trabalharam com questões de natureza privada no espaço público e vice-versa - propostas pelo diretor e pelos próprios atores, que participaram anteriormente de um laboratório sobre vivência de performance, ministrado pela atriz e performer Eleonora Fabião. Na performance coletiva, a simbólica mesa de reunião do Galpão saiu do espaço privado e foi passear pelo centro de Belo Horizonte junto com os atores e atrizes, que convidavam as pessoas para sentar, dividir seu tempo e história com eles. A normalidade do dia a dia da rua foi atravessada pelos corpos dos atores que saíram do lugar de protagonista para dar destaque ao público, buscando romper com o fluxo cotidiano da cidade. “É curioso pensar como esse trabalho nos permitiu voltar a uma modalidade de teatro de rua tão particular e distinta da que temos feito ao longo dos últimos vinte anos”, comenta Eduardo.
O processo da escuta, de enxergar o outro, a cidade e entender como essas vozes, corpos e imagens - na dimensão do espaço público - reverberam em nós, foi o fio condutor desse trabalho. Essas experiências também foram traduzidas para a música, composta pelos próprios atores, que executam ao vivo em cena. Nas palavras do diretor, “Outros” descreve trajetórias entre o cheio e o vazio, entre a insuficiência das palavras e a potência do silêncio, entre construção e ruína, entre os tempos, passado, presente e futuro e que busca interligar o artístico, o existencial e o político, reagindo à dureza e à violência desses tempos nossos quando a ignorância usada como arma sustenta um fascismo crescente e contra o qual precisamos lutar com as armas das linguagens, do amor, do erotismo e da consciência.

SOBRE O GRUPO GALPÃO - Criado em 1982, em Belo Horizonte (MG), o Grupo Galpão é uma das companhias mais importantes do cenário teatral brasileiro, cuja origem está ligada à tradição do teatro popular e de rua. Desde o início, o grupo desenvolve um trabalho que alia rigor, pesquisa e busca de linguagem, com peças que possuem grande poder de comunicação com o público. É um dos grupos brasileiros que mais viaja, não só pelo Brasil, como pelo exterior, tendo participado de vários festivais em países da América Latina, América do Norte e Europa. Formado por 12 atores, o Galpão construiu sua linguagem artística a partir de encontros com diversos diretores, como Eid Ribeiro, Gabriel Villela, Cacá Carvalho, Paulo José, Yara de Novaes, Marcio Abreu, entre outros, criando um teatro que dialoga com o popular e o erudito, a tradição e a contemporaneidade, o teatro de rua e de palco, o universal e o regional brasileiro.

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