O filme "O Caminhão do Meu
Pai", de Mauricio Osaki, é um dos pré-indicados ao prêmio de melhor curta
no Oscar 2015. A produção rodada no Vietnã foi exibida no ano passado no
Festival do Rio e, neste ano, no Festival Internacional de Curtas-Metragens de
SP. Coprodução Brasil-Vietnã, o filme angariou reconhecimentos em mais de 15
eventos cinematográficos mundo afora.
A trama narra a história de uma menina
que descobre que, além de transportar trabalhadores rurais em seu caminhão, o
pai contrabandeia animais para abatedouros especializados em carne canina. O
paulistano Osaki disse à reportagem ter escolhido filmar no Vietnã por ver no
país uma "mescla de culturas" semelhante à do Brasil. Ele conheceu o
Sudeste Asiático ao fazer mestrado em Cingapura e diz ter se interessado pela
"mudança de valores nas novas gerações" causada pela modernização na
região. "Isso tem um impacto cultural em todos os âmbitos e, logo, na
alimentação também".
Segundo Osaki, os vietnamitas entendem
que "cada animal tem uma condição e uma função bem distinta, que vai da
ajuda no trabalho do campo e passa pela alimentação". "A carne canina
é uma iguaria, no entanto muitos abatedores também usam cachorros como animais
de guarda e de estimação". Ele recorda que um dos fazendeiros que
entrevistou durante a pesquisa para o filme temia o "carma negativo"
por causa dos animais e havia aconselhado o filho a não seguir no negócio. Há
relatos de animais de estimação -e não só cães sem dono- roubados pela rede de
contrabandistas que atua fortemente na região do Sudeste Asiático.
Para Osaki, "quando um cachorro é
roubado o destino acaba sendo óbvio". O cineasta frisa, porém "é
crescente o número de pessoas que têm cachorros como animais domésticos, assim
como o número de pessoas que se opõem a comer carne canina". Para ele, no
entanto, "talvez isso seja um questionamento global a respeito do uso de
animais na alimentação". No filme, há um questionamento não verbalizado do
comércio de carne canina, por parte da menina.
O diretor diz que a perspectiva da
protagonista é baseada nos seus amigos vietnamitas "mais jovens, que amam
seu país e sua cultura, mas, assim como em todas as partes do mundo, também
tendem a questionar valores e tradições herdadas". "Acho que
continuarão a comer carne canina no Vietnã, ainda mais nas áreas remotas e
menos privilegiadas do norte, mas, com a rápida modernização e abertura do
país, talvez se repita o que ocorreu na Coreia do Sul, onde o consumo passou a
ser mais discreto", avalia.
O júri da Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas de Hollywood agora deve escolher, entre os dez
pré-selecionados, aqueles que concorrerão ao Oscar. A relação dos curtas que
disputarão o prêmio sai no dia 15 de janeiro e a cerimônia ocorre em 22 de
fevereiro, no Dolby Theatre, em Los Angeles.
Dos 141 curtas inscritos para concorrer
a uma indicação, foram escolhidos - além de "O Caminhão do Meu Pai" -
os seguintes filmes:
"Aya", de Oded Binnun e Mihal
Brezis
"Baghdad Messi", de Sahim
Omar Kalifa
"Boogaloo and Graham", de Michael Lennox
"Butter Lamp (La Lampe Au Beurre
De Yak)", de Hu Wei
"Carry on", de Yatao Li
"Parvaneh", de Talkhon Hamzavi
"The Phone Call", de Mat Kirkby
"SLR", de Stephen Fingleton
"Summer Vacation (Chofesh Gadol)", de Tal
Granit e Sharon Maymon
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