Imagens de bares e restaurantes que
fizeram história na segunda metade do século 20, em Curitiba, compõem a mostra
que está em cartaz na Casa Romário Martins. “Entre Mesas e Balcões:
Restaurantes e Bares de Curitiba nas Décadas de 1950 e 1960” reflete um momento
em que a cidade passava por transformações, imbuída do espírito moderno e
desenvolvimentista que pairava nos ares do país.
Fundamentada na tese de doutorado em
História da professora Maria do Carmo Marcondes Brandão Rolim, defendida em
1997, a exposição reúne fotografias de época de mais de 30 estabelecimentos,
selecionadas em acervos particulares e na Casa da Memória (Diretoria de
Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Fundação Cultural de Curitiba). O
projeto de montagem da exposição a partir da pesquisa acadêmica foi financiado
pelo Fundo Municipal da Cultura.
Especialidades - As fotografias revelam
hábitos dos curitibanos e características peculiares dos bares e restaurantes
tradicionais. Havia locais onde predominavam as famílias, principalmente para
os almoços de domingo, e lugares que eram tidos como redutos masculinos, como o
Bar Stuart, o Cinelândia da Ermelino, o Buraco do Tatu, a Gruta da Onça, com
seus pratos mais exóticos e picantes, como, por exemplo, testículos de boi e
carne-de-onça. Outros tinham intensa frequência, principalmente aos sábados,
como o Onha, por causa da feijoada.
O Bar Palácio, o Mignon e o Triângulo
ficaram famosos por permanecerem abertos até de madrugada, sendo muito frequentados
por boêmios e jornalistas. A presença de políticos fazia a fama de alguns
lugares, como o Vagão do Armistício, que era o restaurante preferido do
interventor Manoel Ribas, e o Nino, dos governadores Bento Munhoz da Rocha Neto
e Ney Braga. Os bares também refletiam determinados padrões de moralidade da
época. No caso do Bar Palácio, por exemplo, mulher desacompanhada não entrava.
As especialidades identificavam bares e
restaurantes, onde predominava uma cozinha familiar e ao mesmo tempo
tradicional: a comida típica italiana dos restaurantes de Santa Felicidade, a
carne de onça do Buraco do Tatu, a feijoada do Onha, o risoto do Vagão do
Armistício, o filé grelhado da Churrascaria Cruzeiro, a sopa húngara do Bar
Paraná, o camarão Martha Rocha do Restaurante e Confeitaria Iguaçu, o
cachorro-quente do Triângulo e do Mignon, o churrasco paranaense do Bar
Palácio, entre muitos outros pratos e iguarias que se tornaram a identidade
desses estabelecimentos.
Atendimento personalizado - Em sua
pesquisa, a professora Maria do Carmo Rolim chama a atenção para um modelo de
atendimento mais pessoal, que cativava a clientela. “Seja da parte do proprietário,
seja da parte dos garçons, o relacionamento pessoal estabelecido era
fundamental. Muitos garçons são lembrados exatamente por aquilo que
representavam: eram pessoas simpáticas, agradáveis, sabiam cativar a freguesia,
valiam ouro”, conta a pesquisadora.
Maria do Carmo destaca ainda que frequentar
esses locais fazia parte de um ritual. “Imbuídas do espírito do novo, do
moderno, elas faziam de suas idas a bares e restaurantes, onde havia condições
de mudar alguns hábitos, um ritual de valorização da comensalidade e de
celebração da amizade e da vida”.
Fizeram parte da equipe de produção da
exposição, além da professora Maria do Carmo, os pesquisadores Victor Augustus
Graciotto Silva, Juliana Cristina Reinhardt, Solange Menezes da Silva
Demeterco, Cilene da Silva Gomes Ribeiro, Regina Maria Schimmelpfeng de Souza,
Alejandro Akira, Carolina Corção e Ana Carolina Caldas.
A exposição pode ser visitada até dia
29 de junho, de terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h; sábados e
domingos, das 9h às 14h. A entrada é franca.
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