quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Livro em HQ de Dino Buzzati é lançado no País

Em 1969, o italiano Dino Buzzati já era um escritor consagrado, autor de volumes como "O Deserto dos Tártaros" (sua obra-prima), "As Montanhas São Proibidas" e "Um Amor". Faltava-lhe, porém, o reconhecimento em outra área que ele julgava tão ou mais importante que a literatura, as artes visuais. Pois foi naquele ano que Dino Buzzati (1906-1972) publicou "Poema em Quadrinhos", um livro em HQ que a editora Cosac Naify acaba de lançar, com tradução de Eduardo Sterzi.
Em "Poema em Quadrinhos", Buzzati buscou unir literatura e visuais, utilizando o desenho como caminho natural para sua expressão. "O quadrinho buzzatiano é envolvido por um conteúdo que poderia ser chamado de superior às forças formais da vinheta, do esboço, da ilustração. O relato é sério e o meio se enobrece", destaca o jornalista Claudio Toscani, no texto de posfácio presente na edição italiana do livro.
O livro baseia-se no mito de Orfeu que, depois de perder a mulher, Eurídice, vai em sua busca. Assim, Buzzati criou o personagem Orfi, um cantor pop que lamenta a morte muito jovem da amada Eura. Certa noite, ele a vê entrando na casa em frente da sua, um lugar misterioso. Ao chegar lá, Orfi é questionado por um "diabo da guarda" - na verdade, um paletó, que lhe apresenta a casa e impõe uma condição para liberar sua entrada: que ele cante músicas cuja letra mencione situações banais do mundo dos vivos, algo já esquecido por ali. Coisas como tempestades, amor, etc.
Disposto a rever Eura, Orfi aceita as condições, iniciando uma peregrinação na qual encontra mulheres nuas, forma com que Buzzati representa a grande liberação sexual vivida pelo mundo naquele fim de década de 1960. "Poema em Quadrinhos", aliás, é uma colcha de retalhos muito bem trançada, em que Buzzati homenageia e faz referências a diversos artistas de sua admiração.
Dessa forma, a figura do Nosferatu surge como homenagem ao cineasta F. W. Murnau, da mesma forma que prédios disformes lembram a obra de Salvador Dalí. "Eis aqui um Buzzati que sintetiza em cerca de 200 quadros todo o seu mundo poético, fabuloso e simbólico, com a impressionante imediatez de quem consegue, não sem trabalho, mas muito agilmente, vestir sua ideia com uma estrutura expressiva inédita e cativante", continua Claudio Toscani.
Orfi não é à toa um músico. Por meio de suas canções, Buzzati alterna versos livres e rimados, uma escavação na verdade em que o autor italiano emprega meios inventivos e expressivos.

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